[Jornal Feudal] Quem samba como gringo samba diferente

Day 1,427, 13:31 Published in Brazil Brazil by Waxton
Boa tarde leitores! Queria agradecer aos votos, comentários e assinaturas no artigo anterior, segue abaixo o segundo capítulo da história baseada em fatos ereais.

Capítulo 1 – O culto da Ostra

Capítulo 2 – Quem samba como gringo samba diferente

O calor e a umidade da cela estava fritando os nervos, tinha certeza que mais um dia ali dentro iria confessar crimes que nem tinha cometido. Já não bastavam as más condições do calabouço do castelo do rei, os companheiros de cárcere não paravam de discutir os últimos acontecimentos no culto da Ostra.

- Como eu ia adivinhar que eles estavam armados de arco e flecha, isso não faz o mínimo sentido, ninguém anda armado por ai no meio da cidade.

- ... a não ser que fossem do exército ou da guarda do rei, Anderson, já falamos isso e a culpa é sua por ter os braços tão longos que virou um alvo fácil para as flechas.

- Não tenho culpa por isso, meus pais têm! Concordo que deveria ter tratado do ferimento logo, assim não teriam seguido o rastro de sangue até a tua casa Olívio.

- Vocês queriam é me ferrar, né! E por causa da sua boca aberta, Oscar Alho, temos mais um prisioneiro junto com a gente.

- Desculpa Waxton, não suporto interrogatórios, eles me deixam nervoso.



A discussão estava se repetindo até que um barulho nas escadas interrompeu o discurso emocionado do Anderson de como seu braço podia apodrecer, cair e ele nunca mais poderia empunhar sua espada. O guarda abriu a sala e ordenou:

- Saiam daqui seus gatos de rua, deviam cortar a língua de todos, nunca vi prisioneiros tão chatos. O capitão de vocês aguarda lá em cima.

- Sabia que o Bonna iria nos salvar!

- Deixa de ser tolo Oscar Alho, o Bonna ficou tão revoltado com a nossa prisão que xingou o rei de bundão quando ele pediu uma explicação do que tinha acontecido naquela noite. Agora ele está banido do reino.

No final da escada estava Paulo Henrique, seu tique com pé mostrava que sua paciência estava no limite, não era sem razão, a fama da Irmandade dos felinos já não era boa, depois da acusação de roubo piorou ainda mais. Ninguém sabia que tínhamos salvado Xallax, os membros do culto eram muito bons em mascarar seus atos. Ao chegar junto ao capitão, ele deu ordens para eu seguir ele e os outros saírem do castelo e se encontrarem no quartel general da Irmandade.

- Li sua narrativa dos acontecimentos, acredito que você deve saber que isso não deve vazar do comando da Irmandade, entendeu?

- Sim capitão, só não entendo uma coisa, como conseguiu nos libertar?

- Parece que inimigos do reino infiltraram soldados no meio da população, neguei ajudar a guarda real com essa tarefa até que vocês não fossem libertados. Pegue esse bilhete, nele contem ordens, entregue ao Olívio, nos encontramos mais tarde.

Não gostava de servir de pombo correio, mas aquilo que estava escrito no bilhete devia ser muito importante, ao chegar ao quartel general felino segui reto para sala do soldado Olívio para cumprir minha “missão”.

- Caramba! Vamos nos juntar à guarda real, seremos comandados pelo capitão Aritex, não foi você que disse que citaram o nome dele lá no Culto?

- Não sei, acho que escutei, não tenho certeza.

- Bom, essa missão vai ser boa, posso olhar mais de perto esse sujeito. Chame Anderson, Oscar Alho, Angelo Philipe e Diego Souza, vamos mostrar a esses guardinhas do que os gatos são feitos!

Naquela tarde no pátio das tropas da guarda real havia um clima de desconfianças entre os soldados das duas instituições, brigas nos bares e até confronto armados era comum porque os membros da Irmandade Felina eram geralmente ex-soldados que foram expulsos ou saíram por brigas internas da guarda real. O capitão Aritex pediu silencio, e se dirigiu aos seus soldados:

- Companheiros, hoje agiremos em cooperação com os gatinhos, vocês serão responsáveis por vasculhar a região norte da cidade e nos arredores do mercado. Reúnam-se em grupos de cinco, não queremos chamar atenção dos infiltrados.

Ele deu meia volta e se posicionou na frente dos nossos soldados e falando em um tom mais diplomático:

- Irmandade Felina, quero o mesmo modelo de patrulha, cinco membros por incursão e tente-se misturar o máximo entre os civis. Investiguem a zona sul e os arredores do campo de treinamento.



Já havia se passado três horas de patrulha, não sabia o que era pior, ficar na cela quente e úmida do castelo do Rei ou ficar aturando as teorias da conspiração do Diego Souza. Arrependi-me de ter escrito meio nome do capitão Aritex na carta devia ter escrito Jovitex, Blowtex ou qualquer outra coisa, isso tinha dado asas para a imaginação do soldado:

- Aposto que esses gringos estão a mando do Rei, nunca vi eles pedirem nossa ajuda, em pequeno grupo seremos facilmente esmagados, esse será o fim da irmandade. Não duvido que quando houver uma oportunidade de nos ligarem aos gringos infiltrados não haverá piedade nas execuções.

- Deixa de ser tolo Diego Souza, não viu o tamanho das tropas deles? É impossível patrulhar toda a cidade com aquilo! Ei, escutem só! Estão fazendo um samba aqui por perto, que tal uma hora de descanso e uma musiquinha pra relaxar os ânimos?

A resposta daquela pergunta era óbvio, achar gringos naquela enorme cidade era igual achar membros ativos na Seita dos Libertários, aquela tarefa estava tirando a paciência dos soldados e quem não negaria um pagodinho e de preferência se tivesse algumas garotas da casa da senhora Sucre. À medida que aproximávamos da cantoria, escutava-se com mais clareza a música:

- Eu estava emboscado, eu estava espreitando, seus lábios como mel, de longe... de longe...



Paramos em frente à banda, não pareciam vestidos do modo comum do reino, nesse momento Oscar Alho soltou uma observação pertinente:

- Estranho o sotaque desse pessoal, parece que nem nasceram aqui!

- Claro, quem samba como gringo, samba diferente...

As palavras do Olívio saíram altas de mais e chamaram a atenção da suposta banda e seus ouvintes, que claramente não sabiam dançar samba. Em uma conta rápida eram por volta de trinta no total e todos estavam aparentemente armados.

- Merda! Por que bandas de pagode têm que ter tantos integrantes assim? - Angelo cuspiu e amaldiçoou os gringos.

Como se por mágica, flechas começaram a cair como chuva sobre os falsos pagodeiros. Haviam arqueiros da guarda real postos no telhado das casas ao lado, aos gritos os invasores correram em nossa direção, em posição defensiva trancamos eles que um por um foram sucumbidos pelas flechas. No fim não sobrou nenhum vivo, lutaram até o fim e a matança se consolidou.



- Ei vocês! O que estavam fazendo ai encima do telhado¿ Estamos gratos pela ajuda, mas um pouco estranho estarem por essas bandas tão perto de nós – Perguntou em tom de desconfiança Oscar Alho.

- Ouvimos a música como vocês e viemos sorrateiramente para pegar eles de surpresa, dava para ouvir à kilometros que isso era samba de estrangeiro – Justificou Aritex.

Anderson não se importando com a conversa abaixa-se para tirar uma flecha de um morto, em tom pensativo ele olha para trás e questiona:

- Engraçado, posso jurar que já vi essa flecha em algum lugar, ela é diferente das outras, acho que já fui atingido por...

- Áh! Achasse uma das minhas flechas felino, elas são feitas para mim por encomenda, uma das vantagens de ser o capitão da guarda – Interrompeu Aritex.

Com um olhar de ódio Anderson engoliu as palavras que estava com vontade de falar, mas sabiamente achou que aquela não era uma boa hora para acusações principalmente quando se tem arqueiros armados logo acima de si.



Já era noite e todos os membros da Irmandade dos Felinos estavam se enchendo de hidromel e contando histórias da batalha daquele dia, Diego Souza e Oscar Alho até arriscaram alguns batuques para imitar os gringos pagodeiros e para o delírio e risadas de todos eles soavam piores que os gringos. Nesse momento Paulo Henrique adentrou ao recinto pedindo para todos que se recomponham:

- Primeiramente queria avisar que Diego Souza e Oscar Alho estão proibidos de tocar qualquer tipo de música nas ruas da cidade, pois algum guarda pode confundi-los por gringos infiltrados e matá-los ali mesmo.

A sala explodiu em mais risadas e gritos de aprovação.

- Por favor, silêncio! Nossa Irmandade provou seu valor hoje, tanto que chamamos a atenção de pessoas importantes que agora querem se juntar a nós, apresento-vos nosso novo irmão!

Nesse momento Aritex entra no salão, sendo fuzilado por olhares maldosos, de raiva ou curiosidade.


Waxton
Editor do Jornal Feudal