Uma análise da Guerra no eMundo

Day 1,834, 17:55 Published in Brazil Brazil by Varnhagen
Meus caros amigos,

Uma das diferenças mais marcantes entre o eRepublik e o “Real Life” pode ser observada no que diz respeito às guerras. Vejamos, meus caros leitores: Quanto à diferença fundamental, ela pode ser observada já nos primeiros dias de jogo. Aqui as guerras não matam. Esse é o ponto fundamental, onde repousa toda a diferença conceitual entre guerra aqui e guerra no real. Se não morremos enquanto ecidadãos, a guerra, de imediato, perde seu caráter letal e, ao mesmo tempo, ganha uma outra dimensão, ancorada no lúdico. A guerra se torna um jogo. O conceito aqui assume então um aspecto positivo, deixando de lado a negatividade original herdada do mundo real. O leitor amigo, mais escasso que donzela em chineiro, haverá de dizer que isso é óbvio, no que os parabenizo, de antemão. Enxergar o óbvio, já dizia o Nelson Rodrigues, é coisa de gênio.

Se as guerras, nesse nosso mundo real, não causassem baixas, não ferissem, haveriam elas de serem, também, positivas. Não morreríamos sob os obuses do inimigo nem sentiríamos no peito a lâmina fria das baionetas. No final do dia comeríamos umas Q7 e zero bala! E a guerra seria saudada e aplaudida e bisada que nem ópera. Mas não é. Mundo velho sem porteiras...

Se não mata e não fere (às vezes só de raiva) a guerra aqui tem um efeito altamente positivo, assim como tem também as guerras reais, numa certa ótica: movimentam imensos capitais, dinamizam e aquecem a economia, fazendo as coisas caminharem a passo mais largo. Aqui elas geram aumentos salariais, corrida às prateleiras, criação de novas empresas, exportação de matéria-prima e manufaturados, investimentos na melhoria dos empreendimentos, maior receita tributária, evolução mais rápida de patentes e por aí vai. No mundo real ocorre algo parecido. Só que não atinge toda a sociedade e mais ainda, beneficia um número restrito de indústrias e países detentores de alta tecnologia bélica. E nego morre. O resto é resto. No mundo real somos pouca coisa, um pouco mais que resto. Aqui no eRepublik, o eBrasil é uma potência ou quase isso. Pode ainda não ter alcançado sua plenitude, mas caminha para isso. Aqui é mais fácil.

E quanto às similaridades? Poderíamos aplicar vários modelos analíticos. Peguemos emprestado a analise clausewitiziana da Guerra. Carl Von Clausewitz, militar prussiano do século 18 e um dos “papas” do assunto dizia que a guerra era uma continuidade da política, regida pelo Estado no comando de suas Forças Armadas e apoiada pela população, até mesmo “em armas”, numa situação extrema.

A capacidade industrial de um país, de se auto sustentar num conflito prolongando, sem perda logística, associada à capacidade militar de resistir ao fogo inimigo e combate-lo em qualquer território e à mobilização popular sob regência do Estado são vistas dentro dessa linha de pensamento como condição imprescindível para o sucesso de uma empreitada. A guerra, para Clausewitz, compreenderia então as “forças criativas”, estampadas nos exércitos; as “forças racionais”, os governos e as “forças emocionais”, a população. Seria, então, a continuação da política por outros meios, possível então de ser racionalizada. A guerra perde aqui seu sentido último de barbárie. Nenhum leitor desse jornal, quero crer, deixará de perceber a proximidade dos resultados de uma análise das guerras aqui, no eRepublik e no mundo real. Nesse sentido, as teorias analíticas do conflitos podem ser utilizados, com algumas ressalvas, como modelos explicativos, numa linguagem bem vulgar.

Podemos, para aumentar a gama dos exemplos, adotar outro modelo analítico, criado nos anos 80 para explicar a emergência no mundo real de conflitos de natureza não-convencional. Esse modelo, que considera o modelo clausewitziano anacrônico, sugere a existência de quatro gerações de tipos de conflito: Os de primeira geração, onde era generalizado o emprego de grandes massas humanas, divididos em fileiras e colunas no campo de batalha. Nesse tipo de conflito, o Estado teria o monopólio da guerra. Exemplos podem ser observados nas guerras napoleônicas, na Guerra do Paraguay.

Uma segunda geração de conflitos se definiria pelo largo uso da artilharia, secundada por movimentos em massa de infantaria. A idéia era que o poder de fogo definiria a vitória. A I Guerra Mundial é o exemplo maior desse pensamento.

A terceira geração se caracterizaria pelo que chamamos de Guerra de Manobras, com a utilização de bombardeios táticos e estratégicos e ampla mobilização de blindados. A II Guerra mundial é “o exemplo”. Hoje, estaríamos numa quarta geração, onde a guerra não seria mais necessariamente conduzida pelo Estado, onde predominaria cenários de insurgência, terrorismo, violência atrelada a questões religiosas, étnicas e culturais. Tipo Síria, Curdistão, guerras étnicas africanas, terrorismo de natureza religiosa e/ou nacionalista. Esse modelo, concebido nos anos 80, no meu entender, permite perceber a evolução das Guerras no eMundo. Quando iniciei no jogo, em 2009, as guerras eram pensadas como levas gigantescas que atacavam, na maioria das vezes sem uma organização muito clara. Haviam falhas grotescas na logística e na condução das mesmas, mais por dificuldade de mobilização do que por competência.

Um pouco tempo depois, com a evolução natural do jogo, os “Tanques” predominaram. Pensava-se a guerra como um conflito de segunda geração. Os tanques abrem o caminho e a infantaria faz o resto... Depois, uma nova estratégia foi adotada: a utilização controlada de divisões, ondas de ataque, maciços, que desestabilizavam o inimigo preparando um ataque definitivo, via tanques.

Hoje a natureza dos conflitos extrapola o que entendemos por guerra convencional onde a arma dos argumentos cede espaço ao argumento das armas. Cada vez são mais frequentes as tentativas de Take Over, cada vez são mais frequentes a formação de grupos político-militares com esses e outros objetivos, visando minar governos e países, destruir sua política interna e os transformar numa espécie de vaquinha leiteira, sempre pronta a uma boa ordenha. Não sei não, mas acho que a próxima novidade vai passar pela “oficialização” disso... Guerras civis? Revoluções? Ou somente mais um texto extenso, meio lá e meio cá?

Um abraço, ex cordis,
Varnhagen, aka Mahdi