Para pensar a Coligação

Day 1,732, 16:38 Published in Brazil Brazil by Varnhagen
Meus caros amigos,

Certa feita, o Getúlio, falando sobre seu governo e sua equipe, soltou essa pérola: “Lá, há uns que não são capazes de nada e outros, que são capazes de tudo”. Como bom político, entendedor da alma meio que esquizofrênica da massa, apontava um problema e, ao mesmo tempo, se colocava fora da órbita do problema. Engenhoso, seguiu a máxima gaúcha e, também, mineira: “se um cavalo passar por ti, selado e sem cavaleiro, suba nele de pronto”. Deu no que deu: um governo provisório de 4 anos (e um cacete na patuléia paulista), um governo constitucional de 3 anos, 8 anos de ditadura pura e simples, eivada de um fascismo meia boca. Está certo que sucumbiu ao desmonte dos estados totalitários de direita, no pós-45. Mas, nessa altura do campeonato já era o “Pai dos Pobres”, mito construído às custas de muita propaganda. Em 1950, o cavalo passou e o guasca subiu no cavalo de novo. Em 54, sob o ataque da mídia e de amplos setores conservadores, deu o golpe final: matou-se, virou herói e, com isso, jogou por terra os sonhos de seus inimigos imediatos, Lacerda o maior deles.

O amigo leitor, escasso como virgem em chineiro, há de se perguntar: sim, mas e daí? O que o dito tem a ver com as calças? Onde quer o infeliz (no caso essa anta que vos ocupa agora) chegar? Diria ao leitor, sempre leal e sempre a objetar, que nada ou quase nada. Como, aliás, quase tudo na vida. O amigo haverá de me entender: para mim, chegamos, quando muito, na Revolução de 30, mutatis mutandis, nesse jogo. Avançamos, do ponto de vista político, ao romper com uma continuidade meio que perversa, que acabava por transformar o jogo num feudozinho onde alguns cara-pálidas definiam os destinos de nós, ralé ignara e besta. Criou-se, dentro desse e-país, um forte movimento político que possibilitou a alternância e, mais que isso, permitiu vislumbrar a construção de um novo projeto de eBrasil.

E, é forçoso reconhecer, não houve uma mudança significativa no “fazer político”, não houve a formação de um corpo técnico-político e diplomático que pudesse, de fato, instituir um novo modelo de gestão e uma nova relação com o mundo, a partir de novos atores. Nesse sentido, é possível dizer que avançamos, mas avançamos até certo ponto. A última eleição presidencial é um exemplo acabado disso.

Qual o caminho então, perguntará outro leitor também menos paciente. Diria que só há um caminho possível: a criação de um projeto diferenciado, escorado numa forte coesão programática e, via de regra, incremento da participação popular nas decisões, através da informação e do fomento à discussão. Não se trata aqui de expurgar fóruns e canais de comunicação, como o IRC, extremamente importantes. Mas, é preciso insistir, a mídia in game deve ser repensada e servir, ela também, como lócus privilegiado do debate político. Se o fórum, que tem sua importância, friso de novo, é composto por uma pequena parcela -e não será diferente, tenham certeza- é imperioso que se traga para dentro do jogo, para sua mídia interna, os debates que agitam o mundo político do eBrasil. Quero crer, inclusive, que isso acabaria por situar melhor os players e, efeito direto, atraí-los para outros fóruns e espaços de discussão. Uma coisa, fatalmente, levaria a outra e por aí vai.

E porque isso não acontece ou, quando acontece, de forma intempestiva ou esvaziada? Porque paramos no meio do processo. E, quero crer também, não interessa a determinados segmentos do jogo. No meu entendimento, resta à Coligação continuar a luta a que se propôs: através da democratização da informação e das decisões, construir o eBrasil que queremos, que precisamos e que está pronto para nascer. E o resto, café pequeno, como se diz em Minas.

Um abraço, ex cordis,
Varnhagen, aka Mahdi