O Brasil Acordou (uma fábula do mundo real)

Day 2,038, 05:40 Published in Brazil Brazil by parzewski

E o Brasil tinha acordado,
e percebido, que o sistema estava errado;
"Mas qual sistema?" que dali gritava um parvo,
enaltecido, um Brasil indignado, reclamou:
-Mas que sistema?
-Esse que está errado, qual é?
-O capitalismo ué.
E o parvo ficou pálido.
-Como assim está errado?
-Não dá para ter rico sem ter pobre, igualdade não é justiça, vamos distribuir isso dai.
-Mas, mas, mas e eu que ganho o meu dinheiro, que trabalho o ano inteiro?
-Você não tem opinião, fica em casa quando o povo vai pra rua, quer sofá invés de luta.
-Mas eu luto o tempo todo, corro aqui, corro acolá, estudando, argumentando, pro processo melhorar.
-Mas assim pontos não conta, que só os donos vão lucrar, enquanto isso falta escola, hospital, bla bla bla bla.
-Eu concordo, falta estrutura, mas a massa não ajuda, nem as regras de trânsito tão simples, tão fáceis, nem essas ela atura.
-Deixe a massa fora disso, ela segue o paradigma, quem comanda dá o exemplo e quem comanda é quem ensina.
-Quem me ensina é a tv, o que comprar e o que comer, com a tal da abertura, vou jantar na Singapura.
-Come só dos enlatados, sejam crús ou temperados, enquanto ferve o queijo bri, um nenê morre dali.
-Mas dali faltou vontade, quem quer pega, luta e invade, não assim como essa onda, estrondosa de água morna.
-Falas de vontade, mas na enxada não pegastes, não plantou, não viu morrer o trabalho que empregastes. Não me venha com falácias, de querer e ter vontade, com a barriga desnutrida e o discernimento atrofiado, não existe liberdade.
-Mas eu sou muito livre, com banda larga e cerca elétrica, só preciso me armar, pra acabar com a bandidagem.
-A bandidagem é reflexo, do seu gosto e suas vontades, você mesmo disse antes, que quem quer, luta invade.
-Mas então o que sugeres, dividir o meu trabalho, todos os bens da minha família, pra quem nunca viu uma pilha?
-Divisão e igualdade, sem Monsanto e sem a Vale, vou socar goela abaixo, todo o câmbio e pilantragem.
-Mas ai não recomendo, todo o lucro e dividendos, se morder a mão do pão, vai restar só pro sustento.
-Esqueça o luxo e os confortos, pois assim não tem pra todos, o Brasil que acordei não permite o céu pra poucos.
-Entendi, quero só ver, parece sério dessa vez, acordado ou dormindo, cai as contas todo mês.
-Espere ai não de as costas, venha ser, fazer valer, não adianta jogar pedra e depois por se a correr.
-Não, não, não vou ficar, minha parte eu já faço, vou esperar a tal mudança, entrincheirado em meu terraço.
E o Brasil ficou possesso, quadruplicou sua estatura, preparava-se pra pisar, na antiga estrutura.
E o parvo acossado, esperando o fim de olhos fechados, de repente acorda de salto, seu relógio o despertara.
Tomou banho saiu cedo, pro trabalho atordoado, só então que percebeu, que o Brasil não estava ali, ele continuava dormindo no berço do mercado.
Quem sonhou foi ele mesmo e percebeu que tinha mudado, só não percebeu o carro na outra pista e morreu por um bêbado atropelado.