Chapelões, denuncismos e desespero

Day 1,858, 15:27 Published in Brazil Brazil by Varnhagen
Meus caros amigos e companheiros do ARENA,

Se o cristão busca imparcialidade, o certo é fugir dos jornais, rádios e televisões. E refugiar-se numa dessas grutas, locas e furnas que se estendem por esse país grande e bobo. Só na cidade onde moro, há 800 delas mapeadas e estudadas desse o século XIX. Não é à toa que a cidade tem visibilidade internacional, como terra do fóssil mais antigo encontrado nas américas, Luzia. E, agora, também com o petroglifo mais antigo encontrado nesse continente. Se o amigo então buscar a imparcialidade, haverá de se mudar para cá. Mas enquanto datilografo esse artigo, sou tomado por uma enchente de razão e passo a enxergar o óbvio: ainda que sozinho, mais sozinho que um Cruzoé sem Sexta-Feira ou radinho de pilha, no útero frio de uma gruta, o cristão haverá de ser, ele mesmo, parcial consigo mesmo.

Outros nem se preocupam com isso, não tem essas inquietações intelectuais e/ou políticas. Veem emanando das manchetes "A Verdade". Não meia verdade, a verdade inteira, com V maiúsculo e por aí vai. Dia desses a Folha soltou uma reportagem com uma chamada bombástica, em letras garrafais e, no próprio texto, negava em duas linhas o que se lia na manchete. Mas o índio lê a manchete e já era. Em Belo Horizonte, capital vestida de chita e curral iluminado, a indiaiada fica lendo os jornais pendurados nas bancas do centro. Uma plateia constante, mais assídua que amante em viagem de marido. Coisas da vida. Coisas do Brasil. Nas universidades, por exemplo, só se leem fragmentos e capítulos, nunca a obra inteira. Aí, o cara pega um Sérgio Buarque, por exemplo, ou um Gilberto Freyre. Lê um ou dois capítulos de uma obra, lê mais um ou dois capítulos de uma crítica e pronto. Com a empáfia típica de nossos “intelectuais”, se mostrará na primeira ocasião que aparecer, como um doutor no assunto, citando uma ou duas frases decoradas e mais alguns dados pesquisados às pressas nos google’s da vida. É nóis que voa.

Mas voltando à imprensa e à imparcialidade, dia desses um dos maiores jornalistas do eBrasil levantou uma questão interessante: o crescimento acentuado da ARENA nos últimos meses seria algo, no mínimo, suspeito. Como excelente jornalista que é, levantou e comparou dados, estabeleceu ligações entre eles e quase fez uma denúncia grave. Aliás, há inúmeras formas de se denunciar algo, é mister dizer. Voltemos às manchetes. Ou melhor, não. Fiquemos apenas com a idéia das manchetes e sua plateia assídua. Qual seria então, foi o que começou a ser discutido, os “artifícios” empregados pelo Darth Claudio, que chamo carinhosamente de o Chapelão, para a “mágica” operada na ARENA velha de guerra. A acusação, feita e não feita, dificulta o contraditório. Jornalismo e política não se confundem, transitam e se mesclam num mesmo plano. Não há que se cobrar imparcialidade. Há que se cobrar posicionamento. E analisar os interesses em jogo.

O meu amigo Ryan Cullen, sujeito mais fino que mordomo inglês e Vesper Martini em Happy hour, sabe que não há artifícios além de uma incansável aptidão do índio para varar o dia e a noite nessa bagaça. Sabe, tenho certeza disso. Mais presente que papai-noel em Natal, o guasca segue uma incansável rotina. Como esse é um jogo em que o cristão fica meio perdido, um contato e uma chegada mais junta tem um efeito danado. Sabemos disso. Eu não me disporia a ficar plugado dia e noite observando quem entra e mandando 80, 90 mp’s. Há que se ter uma disposição de Sísifo e uma paciência de Job. Mais cansativo que discurso de síndico. Mas rende. Mais a mais, consideramos que ninguém é imparcial e que todos, de uma forma ou outra, leem -e descrevem- a realidade pela lente de suas posições. Isso não só na mídia, mas em todas as instâncias da vida.

Sabemos todos que a menor suspeita sobre a ARENA teria o efeito de uma devassa total no partido e nos seus membros, macartismo de primeira hora. Como se diz em Minas, cabeça de prego que sobra é que toma martelada.
E que chapéu de otário é marreta. O Darth não é otário e sabe que sua cabeça seria um tiro na confiabilidade do partido. O preço é alto e sei disso como poucos. Muitas das vezes, o problema não está nos scripts, mas sim nos atores. Mas não há como cobrar imparcialidade. Ela não existe. Cobrar o que, então?


Um abraço, ex cordis,
Varnhagen, aka Mahdi