Alcance Eficaz
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Rubicon8
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ALCANCE EFICAZ
Alcance eficaz: distância à qual uma bala ainda é mortal.
(MANUAL DO GRADUADO DE INFANTARIA)
Não falo para os consolados, os satisfeitos de si, os que nem riem
porque o riso ainda é sinal de alguma coisa que falta.
Ah vida! alguns te cantam para sentir-te nos lábios,
mas outros pedem-te a si próprios, não contentes contigo,
e as suas palavras terão apenas o obscuro nexo dos abismos sem nome
e a estranha música das mãos cortando o vazio intratável.
A minha voz é misteriosa de mais para que me compreendam.
Seria preciso ter uma alegria de pássaro para com as migalhas da vida
e a mágoa de não ser um pássaro a contentar-se com elas...
Seria preciso saber que não há palavras que cheguem onde não há conversa,
onde o silêncio é um vai-vem de moscas sobre um prato servido.
(Jorge de Sena in Pedra Filosofal, 1950)
"Um povo sem poesia é um povo vencido", Mahmud Darwich, Poeta e Resistente Palestino.
Post-Scriptum: Eu sei que este artigo é um pouco estranho. Mas é dedicado ao meu amigo Alexandre Gomes13, um "brazuca" refinado, muito acima de certos "analfabrutos" tugas que por aqui abundam.
P.S. 2: "Prontos" o que querem? apeteceu-me. Batam-me se quiserem.
Comments
Obrigado Rubicon.
Retribuindo:
Nunca a alheia vontade,
inda que grata,
Cumpras por própria.
Manda no que fazes,
nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és.
Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
cumpre alto.
Sê teu filho. (Fernando Pessoa)
São uns fofos!
Quase Votado 🙂
Não te inibas Rui
Solta a voz que há em ti
Lol
Com tanta poesia no ar, não pude resistir...
As Quatro Pernas da Cadeira
às vezes, sem saber, ergo-me desta cadeira
fixa, rígida, de todo eu assente larga, insensível,
de quatro pernas assente. segura porque parada
na proximidade distante sem momento no tempo de
objectos. e lá fora, de dentro para fora uma vez,
de fora para dentro muitas vezes, todas as vezes
que me ergo, no apressar das palavras habitam-me,
me conscientemente habitam, nítidos, a compassos
irregulares, os fundos abissais dos interiores dos sentidos,
onde se fundem, mágicos, os símbolos
conjugados em objectividade real na dialética da vida.
às vezes, sem saber, projecto-me em projecções em mim
para fora desta cadeira e parto a todo o momento,
fluente, como a luz assoma por detrás do sideral remoto
de todas as partes de tudo isto, com impossíveis a perderem-se-me
na consciência e tumultos e fenómenos e viagens e torpores
e consciências a perderem-se-me nesta qualquer coisa de
outra coisa que não veio, talvez à espera de mim.
às vezes, sem saber, continuo fora sempre a erguer-me
e por lá fico, até ficar para sempre.
e no agir vivo, realmente vivo, vivo até durar a cadeira.
(Vítor Manuel de Melo, in Cadernos Liberatura, nº 1)
Isto assim acaba por ficar piegas. O melhor será colar aqui esta prosa do Carlos Drummond de Andrade:
Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo
de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando,sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão. Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!
nao votado por simpatia ao mosquito
btw, snob much?
Qu'é isso?
A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.
Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.
Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?
Charles Chaplin
Só uma correção. Não há "balas" na nomenclatura militar (a não ser que tenham mudado os manuais), existem projecteis. De resto votado. Senti-me tão tocado pelo texto que estive para pedir namoro ao Janad0.
Tanta poesia e tanto poeta de valor merecem um epigrama. Aqui vai:
No alto daquele cume
Plantei uma roseira
O vento no cume bate
A rosa no cume cheira
Quando vem a chuva fina
Salpicos no cume caem
Formigas no cume entram
Abelhas do cume saem
Quando vem a chuva grossa
A água do cume desce
O barro do cume escorre
O mato no cume cresce
Então quando cessa a chuva
No cume volta a alegria
Pois torna a brilhar de novo
O sol que no cume ardia
Autor: um badalhoco.
Ou então de outro género do genial Bocage:
[SONETO DO PAU DECIFRADO]
É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser arvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro:
Verga, e não quebra, como zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;
Brando às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:
À roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!
Para carvalho ser falta-lhe um U;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa - MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Gosto muito de Pessoa, pois é um poeta que dá que pensar, muito bom, analisar-mos entre outros poetas certos problemas da sociedade que são imutáveis e transmissíveis em todas as sociedades.
votado, gostei