[2T] Messerschmitts, B-17Gs e a Honra

Day 1,140, 15:37 Published in Brazil Brazil by Israel Barbosa



Olá jovens gazebos! Bem, talvez vocês, queridos leitores, estejam achando que seu interlocutor aqui se encontra sob o efeito das mais pesadas dorgas psicotrópicas, visto o título do artigo, mas rapidamente irão entender sua razão.



Ano passado pudemos ver praticamente uma verdadeira guerra civil no Brasil. Digo isso supondo que essa situação que vinha ocorrendo não poderia ter começado há dois meses. No campo político presenciamos partidos digladiando e trocando farpas quase que diariamente via mídia e shouts. No econômico, debates acalorados de novatos insatisfeitos pelo custo de vida e veteranos que tentavam apaziguar a situação. Até mesmo na nossa área militar ocorreram batalhas fratricidas entre soldados e milicianos.

Vimo-nos nessa peleja sem fim, buscando tomar partido por um dos lados sem saber qual estava “mais certo” ou “menos errado” ou se alguém tinha a razão naquilo tudo. Não creia que sou contra a divergência de ideias. Sempre é bom que ocorram discussões pelas partes diferentes visando o bem de todos. Mas onde será que fica a tênue linha entre o debate amistoso e a verborragia desvairada?

Bem farei uma quebra de raciocínio repentina, que já é de praxe, e apresentar uma história verídica para refletirmos um pouco. (Agora que você entende o título).





Imagine-se um orgulhoso piloto de caça da Luftwaffe, a tão temida força aérea da Alemanha Nazista. O ano é 1943 e a Segunda Guerra Mundial está em pleno vapor. Bombas, tiros, mortes, tudo isso já se tornou rotineiro. Pois bem, o querido leitor (ou leitora 😁) está de prontidão numa vigiada base aérea, só esperando a sua próxima missão contra os inimigos do III Reich. Finalmente você é então chamado e recebe ordens de abater um bombardeiro inimigo que vinha adentrando o espaço aéreo alemão. Tudo pronto, o seu tão confiável Messerschmitt Me 109G que a essa altura já era algo como uma parte de você mesmo, reluzia no hangar.

Após a decolagem o piloto começa uma reflexão sobre a situação por ele vivida. Toda a falta de sentido de uma guerra que era decidida há muitos quilômetros dos fronts. No passado tivera bons amigos ingleses e até familiares, talvez alguns já mortos. Hoje sua missão era tirar a vida de pelo menos mais três tripulantes da aeronave inimiga. “Melhor pensar em outra coisa”, pensou após notar uma figura trêmula no horizonte. Após alguns minutos a aeronave já era visível e você se preparava para o confronto.



Não era possível acreditar no que estava acontecendo. Era o avião mais avariado e destroçado que já vira. Um B-17G americano num estado em que era difícil crer que conseguia que se mantivesse voando, ainda que muito forçosamente. A fuselagem estava coberta de furos, várias partes destruídas, era absolutamente um destroço voador. Pelas marcas havia sido atingido por aviões de caça e as baterias anti-aéreas germânicas.

E agora? O que você teria feito? Cumprido suas ordens abatendo uma aeronave sem a menor chance de defesa ou a conduzido de volta a sua base originária, desobedecendo às ordens, mas salvando várias vidas? O que era o correto a se fazer? Seguir a mente ou o coração ?

(Franz e Charlie)

Essa é a história do piloto de caça alemão Franz Steigler e o aviador americano Charlie Brown. Ao invés de ter selado ali o fim dos soldados inimigos, Franz preferiu emparelhar sua aeronave à deles e indicar que os escoltaria de volta à Inglaterra. O motivo de o bombardeiro americano estar adentrando o território da Alemanha era que os instrumentos de navegação haviam sido destruídos e estava fazendo agora um voo cego. Steigler os deixou numa rota para retornar em segurança. Brown acenou retribuindo o gesto absolutamente extraordinário. Ao retornar, o alemão informou que havia abatido a aeronave inimiga sobre o mar.


(Steigler à esquerda e Brown à direita)

Após 40 anos, Charlie foi a busca do piloto que havia poupado sua vida. Após encontrar-se com Franz, perguntou qual a razão daquele ato tão inusitado. Ele respondeu:

Não tive coragem de acabar com a vida daqueles homens que lutavam para viver. Voei ao lado deles. Eles davam tudo de si para chegar sãos e salvos à sua base, e eu não ia impedi-los de viver. Simplesmente não podia atirar em um inimigo indefeso. Seria o mesmo se eu estivesse num pára-quedas.”

Ambos morreram no mesmo ano, 2008.





Ok, belíssima história Israel, mas o que isso tem haver com o eRepublik ?

Bem, muitas vezes houve o questionamento de certas práticas de um grupo ou outro e sempre surgia o questionamento se aquilo era “ético” ou não. Então me perguntei o que é ética de fato. Qual seria o referencial para determinar se algo carecia de ética ou não? Até que me lembrei dessa interessante história e concluí que ética é fazer ao outro o que você desejaria que fosse feito a você mesmo. É difícil definir em apenas uma palavra. Nem sempre o “certo” é ético. No caso de Franz o certo seria que seguisse às ordens da missão e abatesse o bombardeiro inimigo. Entretanto seria como atirar num soldado rendido, sem qualquer chance de defesa. Se até entre inimigos pode haver honra quanto mais entre compatriotas !

Já iniciamos um novo ano com vários questionamentos aos mais diversos assuntos, e isso é ótimo. Mas nos últimos meses de 2010 pude notar várias práticas absolutamente nocivas ao bom andamento do jogo. Pessoas que muitas vezes buscavam a diversão pessoal acima de tudo, esquecendo-se que o jogo não era single-player. Outros preferiam manter um discurso agressivo a toda e qualquer manifestação de pensamento contrária à deles, sequer analisando se o argumento era válido ou não.



Devemos lutar por uma coexistência pacífica no Brasil. Aceitar as diferenças é muito difícil, todos nós sabemos disso. Quantas vezes você já teve vontade de pegar o caboco e acariciar o seu rosto num muro chapiscado ? Mas todos, ou a grande maioria, busca o melhor da nação, mesmo que esteja errada. Discussões destrutivas como as que presenciamos ano passado nada geraram senão mais ódio e faccionar os cidadãos.

Vivemos um momento em que o Brasil deixará de ser a periferia do mundo. Temos grandes ambições à frente. Todavia, se a postura geral do ano passado for mantida, iremos conseguir alguma coisa concreta ?

(Dupli)pense.