O Jacobino: Uma visão sobre o eBrasil e as novas tarifas

Day 903, 16:42 Published in Brazil Brazil by Mahdi Cleitus
Companheiros,

O Congresso do eBrasil tomou, nesses últimos dias, uma decisão arriscada: num único golpe, todas as tarifas alfandegárias sofreram uma redução radical, sendo niveladas num patamar de 10%. Em bom português, passamos a adotar uma política econômica liberal, com abertura do mercado brasileiro aos produtos importados. Essa discussão, como muitos podem pensar, não é nenhuma novidade no eBrasil. Nos últimos meses esse debate foi colocado na ordem do dia, gerando infindáveis discussões acerca da validade e da aplicabilidade dessa receita liberal na economia ebrasileira e seus eventuais ganhos e perdas.

Um dos fatores que tornou possível a implementação desse projeto liberal foi, sem dúvidas, o aumento explosivo no preço dos produtos e nos salários, nos últimos dias. Diante dessa escalada de preços, muitos viram como único recurso abrir o mercado nacional, ocasionando uma queda significativa no custo de vida e, consequentemente, nos salários pagos. Nessa lógica, a entrada de produtos estrangeiros acabaria por gerar um “ponto de equilíbrio”, racionalizando o mercado, que seria “regulado” apenas pelas leis naturais, no caso as de Oferta e Procura, tão bem definidas por Adam Smith...

Ainda de acordo com esse pensamento, atingido esse “ponto de equilíbrio” com a abertura do mercado, as empresas nacionais se tornariam competitivas em termos globais, o que elevaria significativamente nossa capacidade de exportar. Obviamente teríamos um período de ajustes, onde o próprio mercado agiria como fiel da balança e, em termos práticos, as empresas menos eficientes tenderiam a desaparecer.

As votações no Congresso ocorreram, no entanto, às expensas da população. Salvo um ou outro artigo mais qualificado na defesa dessa nova política, podemos dizer que fomos pegos de calças curtas. Para um Congresso que se recusava até outro dia mesmo a cogitar votar positivamente qualquer proposta que afetasse a receita fiscal sem um “amplo embasamento”, “sem um estudo sério dos impactos dessas eventuais medidas”, foi uma surpresa.

Mais ainda se levarmos em conta que um dos partidos mais empenhados nessa mudança é um dos principais pilares de sustentação desse Governo e mais ainda, que proeminentes figuras desse partido e desse Governo já demonstraram seu descontentamento e sua oposição à nova política adotada. Publicamente, inclusive. Operou-se aqui um fato estranho: boa parte do Governo vai contra medidas propostas pela sustentação do próprio Governo. Um caso clássico de esquizofrenia política, talvez.

Uma das características mais gritantes do sistema capitalista real ou mesmo do eRepublik é a natureza cíclica de suas crises. A pouco tempo atrás, por exemplo, vivenciamos um período longo de estagnação econômica e deflação, que quase nos leva a um débâcle de proporções catastróficas. Na época, o Presidente Sulejmani agiu com presteza e responsabilidade, praticamente eliminando a carga tributária então considerada pesada, basicamente um imposto de renda na ordem de 10% (bons tempos aqueles...) e dando um verdadeiro impulso ao consumo, com esse real aumento no poder aquisitivo dos ecidadãos. Medida acertada, superamos num espaço de tempo que considerei –e considero- rápido a crise que se instalava perniciosamente na nossa economia. Daí pra frente, explodiram os “babybooms” e o cenário ficou bem diferente.

Qualquer análise da História Econômica do eBrasil e mesmo do eMundo, por mais superficial que seja, torna visível o caráter cíclico de nossas crises. As guerras em escala mundial sempre foram elementos que levaram a um aumento significativo em preços e em salários, embora esses em menor proporção. Nesses momentos tensos e turbulentos é possível observar uma corrida generalizada ao mercado e, consequentemente, a necessidade desse mercado abastecer essa demanda crescente. Os preços sobem, os salários sobem, a inflação se instala. Tensões e conflitos amainados, o mercado vai aos poucos retornando ao seu equilíbrio.

Muitas empresas criadas nesse “boom” se deparam então com o reverso da moeda: muita produção e um consumo em queda. E um novo ciclo de retração e crescimento se inicia. Pode parecer linear mas não é. Os movimentos nesse tabuleiro instável é que garantem ou não o crescimento ou a débâcle de um projeto econômico. Determinadas jogadas, ainda que bem intencionadas, podem levar a um xeque sistêmico. E aí, um século de ladainha nos ouvidos. Quem os tem que ouça.

Muitos artigos surgiram na mídia nos últimos dias prometendo um céu de brigadeiro com a implementação dessa política econômica. A maioria deles apresentou, na opinião desse articulista, uma visão muito simplista sobre o tema. Num desses artigos foi cogitado que essas mudanças levariam, moto contínuo, a uma elevação real nos salários e nos colocaria como grandes exportadores. Diria eu, como o Garrincha em 1958 durante uma preleção, que falta combinar com “n” fatores. E que mesmo combinando com todos, isso está no plano do “desejável” e não do líquido e certo.

A abertura do mercado, na forma proposta e aceita pelo Congresso pode ser, no meu entender, o começo de uma perigosa desestruturação do mercado nacional. Costuma-se dizer, no meio econômico, que dar “cavalos de pau” em transatlântico é algo extremamente complexo e perigoso. Basta que imaginemos um cenário onde a concorrência simplesmente desmobilize nossos setores produtivos. Teríamos preços mais baixos talvez. Mas a custo de um profundo sucateamento da indústria. E um mercado interno forte, com empresas fortes, é condição de estabilidade econômica e de desenvolvimento.

Mudanças são importantes. E realmente acho que precisamos de mudanças sensíveis na nossa carga tributária e mesmo nas tarifas alfandegárias. Mas mudanças extremamente radicais, num cenário de crise política interna e turbulências externas, algo preocupante. Na minha visão, essas decisões foram precipitadas. Dificultarão as ações do Governo e tolherão investimentos no setor produtivo, gerando seu sucateamento. Essa é uma daquelas questões que transcendem as diferenças políticas de momento, as divergências pessoais e as amizades profundas. Envolvem, no meu entender, a soberania nacional. Nessa questão, eu sinto muito quem esperava outro tipo de posição... mas fecho com o Governo e me entristeço com a posição do Congresso.

Um abraço fraterno,
Mahdi Cleitus