O Jacobino: Uma visão sobre o eBrasil e as novas tarifas
Mahdi Cleitus
O Congresso do eBrasil tomou, nesses últimos dias, uma decisão arriscada: num único golpe, todas as tarifas alfandegárias sofreram uma redução radical, sendo niveladas num patamar de 10%. Em bom português, passamos a adotar uma política econômica liberal, com abertura do mercado brasileiro aos produtos importados. Essa discussão, como muitos podem pensar, não é nenhuma novidade no eBrasil. Nos últimos meses esse debate foi colocado na ordem do dia, gerando infindáveis discussões acerca da validade e da aplicabilidade dessa receita liberal na economia ebrasileira e seus eventuais ganhos e perdas.
Um dos fatores que tornou possível a implementação desse projeto liberal foi, sem dúvidas, o aumento explosivo no preço dos produtos e nos salários, nos últimos dias. Diante dessa escalada de preços, muitos viram como único recurso abrir o mercado nacional, ocasionando uma queda significativa no custo de vida e, consequentemente, nos salários pagos. Nessa lógica, a entrada de produtos estrangeiros acabaria por gerar um “ponto de equilíbrio”, racionalizando o mercado, que seria “regulado” apenas pelas leis naturais, no caso as de Oferta e Procura, tão bem definidas por Adam Smith...
Ainda de acordo com esse pensamento, atingido esse “ponto de equilíbrio” com a abertura do mercado, as empresas nacionais se tornariam competitivas em termos globais, o que elevaria significativamente nossa capacidade de exportar. Obviamente teríamos um período de ajustes, onde o próprio mercado agiria como fiel da balança e, em termos práticos, as empresas menos eficientes tenderiam a desaparecer.
As votações no Congresso ocorreram, no entanto, às expensas da população. Salvo um ou outro artigo mais qualificado na defesa dessa nova política, podemos dizer que fomos pegos de calças curtas. Para um Congresso que se recusava até outro dia mesmo a cogitar votar positivamente qualquer proposta que afetasse a receita fiscal sem um “amplo embasamento”, “sem um estudo sério dos impactos dessas eventuais medidas”, foi uma surpresa.
Mais ainda se levarmos em conta que um dos partidos mais empenhados nessa mudança é um dos principais pilares de sustentação desse Governo e mais ainda, que proeminentes figuras desse partido e desse Governo já demonstraram seu descontentamento e sua oposição à nova política adotada. Publicamente, inclusive. Operou-se aqui um fato estranho: boa parte do Governo vai contra medidas propostas pela sustentação do próprio Governo. Um caso clássico de esquizofrenia política, talvez.
Uma das características mais gritantes do sistema capitalista real ou mesmo do eRepublik é a natureza cíclica de suas crises. A pouco tempo atrás, por exemplo, vivenciamos um período longo de estagnação econômica e deflação, que quase nos leva a um débâcle de proporções catastróficas. Na época, o Presidente Sulejmani agiu com presteza e responsabilidade, praticamente eliminando a carga tributária então considerada pesada, basicamente um imposto de renda na ordem de 10% (bons tempos aqueles...) e dando um verdadeiro impulso ao consumo, com esse real aumento no poder aquisitivo dos ecidadãos. Medida acertada, superamos num espaço de tempo que considerei –e considero- rápido a crise que se instalava perniciosamente na nossa economia. Daí pra frente, explodiram os “babybooms” e o cenário ficou bem diferente.
Qualquer análise da História Econômica do eBrasil e mesmo do eMundo, por mais superficial que seja, torna visível o caráter cíclico de nossas crises. As guerras em escala mundial sempre foram elementos que levaram a um aumento significativo em preços e em salários, embora esses em menor proporção. Nesses momentos tensos e turbulentos é possível observar uma corrida generalizada ao mercado e, consequentemente, a necessidade desse mercado abastecer essa demanda crescente. Os preços sobem, os salários sobem, a inflação se instala. Tensões e conflitos amainados, o mercado vai aos poucos retornando ao seu equilíbrio.
Muitas empresas criadas nesse “boom” se deparam então com o reverso da moeda: muita produção e um consumo em queda. E um novo ciclo de retração e crescimento se inicia. Pode parecer linear mas não é. Os movimentos nesse tabuleiro instável é que garantem ou não o crescimento ou a débâcle de um projeto econômico. Determinadas jogadas, ainda que bem intencionadas, podem levar a um xeque sistêmico. E aí, um século de ladainha nos ouvidos. Quem os tem que ouça.
Muitos artigos surgiram na mídia nos últimos dias prometendo um céu de brigadeiro com a implementação dessa política econômica. A maioria deles apresentou, na opinião desse articulista, uma visão muito simplista sobre o tema. Num desses artigos foi cogitado que essas mudanças levariam, moto contínuo, a uma elevação real nos salários e nos colocaria como grandes exportadores. Diria eu, como o Garrincha em 1958 durante uma preleção, que falta combinar com “n” fatores. E que mesmo combinando com todos, isso está no plano do “desejável” e não do líquido e certo.
A abertura do mercado, na forma proposta e aceita pelo Congresso pode ser, no meu entender, o começo de uma perigosa desestruturação do mercado nacional. Costuma-se dizer, no meio econômico, que dar “cavalos de pau” em transatlântico é algo extremamente complexo e perigoso. Basta que imaginemos um cenário onde a concorrência simplesmente desmobilize nossos setores produtivos. Teríamos preços mais baixos talvez. Mas a custo de um profundo sucateamento da indústria. E um mercado interno forte, com empresas fortes, é condição de estabilidade econômica e de desenvolvimento.
Mudanças são importantes. E realmente acho que precisamos de mudanças sensíveis na nossa carga tributária e mesmo nas tarifas alfandegárias. Mas mudanças extremamente radicais, num cenário de crise política interna e turbulências externas, algo preocupante. Na minha visão, essas decisões foram precipitadas. Dificultarão as ações do Governo e tolherão investimentos no setor produtivo, gerando seu sucateamento. Essa é uma daquelas questões que transcendem as diferenças políticas de momento, as divergências pessoais e as amizades profundas. Envolvem, no meu entender, a soberania nacional. Nessa questão, eu sinto muito quem esperava outro tipo de posição... mas fecho com o Governo e me entristeço com a posição do Congresso.
Um abraço fraterno,
Mahdi Cleitus
Comments
pertamax
Qual seria sua sugestão Mahdi. Deixar como estava??
Muito bom votado 😁
Ufa, lido completamente.
Mas eu apoio a abertura econômica.
De acordo com você, Mahdi, as crises são cíclicas.
Então devemos apenas esperar as marolinhas passarem?
O que você faria para resolver tais crises?
Espero que não me leve a mal, em um jogo que as pessoas levam tudo como ofensa, perguntas podem ser fatais, só quero saber seu ponto de vista 🙂
Sinceramente, acho que o governo deveria ter reservas de produtos para sempre por oferta no mercado e balanceá-lo. Além disso, apoiar pequenas empresas, que vão falir e nascer aos montes, dando o tal equilibrio, jah q as grandes empresas tornam o mercado dependente dela (ao inves do contrario, q eh oq acontece com os pequeno-empresários).
Talvez falei merda, mas quem quiser me corrigir ou debater, mande MP e ficarei feliz 😃
votado
Bom artigo.
Você não esta em todo errado, nem certo, não sabemos oq vai acontecer no futuro.
votado
particularmente, sou a favor de uma import tax baixa, mas defendo até a morte o teu direito de ser contra 🙂
@Leonardo, o problema, na minha opinião é que não teremos ganho algum com essa abertura de mercado, pelo contrário. Não entendo esse movimento como solução e nem como condição para crescimento, mas sim como algo que pode nos colocar em maus lençóis num curto espaço de tempo. Se manteria como está? Manteria.
Fico numa situação delicada, pois nessa questão meu posicionamento não me permite a companhia da galera com quem tenho mais afinidade no eBrasil. Mas fazer o que, convicções são convicções. E mudá-las de uma hora para outra algo pouco louvável, na minha opinião.
Se fosse uma redução no Imposto de Renda, gradual, estaria na primeira fileira, defendendo-a. Mas aqui a questão é complexa e, no meu entender, vai acabar gerando distorçoes entre os setores da economia, sucateando do setor de manufatura e, pior dos cenários, tornando o eBrasil vulnerável do ponto de vista logístico.
Um abraço fraterno,
Mahdi
Jacobino é uma grande jornal!
Votado e apoiado!
Pela primeira vez concordo com você Mahdi. Nesse artigo de hoje, concordei do começo ao fim.
Bom ponto de vista mahdi ..
Eu acho a tentativa valida... Vamos ver no que vai dar.
Se tudo for ok, talvez nossas empresas fiquem mais forte internacionalmente.
paralelamente, fica claro o que eu digo, o congresso é obedecer o governo .
Sinto muito por ter um congresso passivo. Vejo pessoas querendo trabalhar para organizar, mas só no sentido de prestar contas e não para ter autonomia e independencia.
Me remete a brasilia , com PMDB e PT se ajustando para ficar bom para todos ( todos os dois claro ).
Unico pedido que te faço é ...
o que é débâcle ??? ... rsrs
Abraço
E bom, acho que o que você chamou de "esquizofrenia política" é um excelente indício que o conceito de "panela do governo" não é tão simples e maniqueísta como a maior parte da imprensa quer fazer parecer...
sem dúvida algo bom para o eBrasil.
"E bom, acho que o que você chamou de "esquizofrenia política" é um excelente indício que o conceito de "panela do governo" não é tão simples e maniqueísta como a maior parte da imprensa quer fazer parecer..." x2
Eu apoio o que o mahdi disse em numero genero e grau!
Infelizmente, meu amigo Mahdi, devo concordar com você. Mudança talvez seja necessária, mas sem radicalismos. "Medida a longo prazo" foi o que falaram para justificar tais mudanças. Mas se são "a longo prazo" que veremos o ganho, então por que colocar uma perda tão grande a curto prazo. Há como balancear perdas, e principalmente testarmos, aos poucos, os efeitos de tais mudanças "a longo prazo" para vermos se a certeza dos que aceitaram tais leis realmente funcionam.
Por enquanto, concordo completamente com você.
Abraços,
Marcelux.
Mahdi um exemplo de mídia, quemd era todos fossem assim...
Agora é incrivel que até em artigos neutros politicamente, vem gente defender a "panela", se a o termo "panela" e se o conceito de "panela" não servem, pq todo artigo da oposição vocês vêm defende-la? Se é algo tão delirante, simplesmente ignorem e não fiquem tentando converncer o contrário.
Para que mídia contra a panela se a panela a faz muito bem?
discordo
"Mudanças são importantes. E realmente acho que precisamos de mudanças sensíveis na nossa carga tributária e mesmo nas tarifas alfandegárias. Mas mudanças extremamente radicais, num cenário de crise política interna e turbulências externas, algo preocupante. Na minha visão, essas decisões foram precipitadas. Dificultarão as ações do Governo e tolherão investimentos no setor produtivo, gerando seu sucateamento. Essa é uma daquelas questões que transcendem as diferenças políticas de momento, as divergências pessoais e as amizades profundas. Envolvem, no meu entender, a soberania nacional. Nessa questão, eu sinto muito quem esperava outro tipo de posição... mas fecho com o Governo e me entristeço com a posição do Congresso." [2]
será que o velho mahdi está de volta?
parou de querer agradar a direita liberal só pra ter apoio na eleição, e voltou a escrever com a consciência, sem segundas intenções
votado, pela primeira vez em mto tempo
Mahdi, sempre preciso nas palavras 🙂
será que o velho mahdi está de volta?
parou de querer agradar a direita liberal só pra ter apoio na eleição, e voltou a escrever com a consciência, sem segundas intenções
votado, pela primeira vez em mto tempo [2]
Eu até havia cancelado a assinatura, que por sinal foi uma das minhas primeiras no jogo. Quem sabe eu volte a assinar ?
A não ser que você seja presidente, congresso e população acho que o ebrasil está fadado à decadência. Louvem Mahdi.
@Reshev
Se em todos os governos tiveram um pé atras e preferirem fortalecer o governo(e ele sempre terá que ser fortalecido) as mudanças nunca vão acontecer.
Prefiria ajustes graduais do que mudanças extremas, para que não ocorressem distorções graves. Pequenas e graduais mudanças não trariam grandes problemas que provavelmente teremos.
Concordo até nas vírgulas meu caro!
Parabéns pela lucidez do artigo; agora é ver no que dá...
Se a nossa economia cresce ou afunda de vez.
[]'s.
eu já estou morrendo.
e não planejo fazer nenhum esforço pra mudar isso.
Boa Mahdi! Concordo. O Jacobino foi o primeiro jornal que eu assinei ao entrar no eRepublik, acabei de me lembrar o porque.
Votei.
"particularmente, sou a favor de uma import tax baixa, mas defendo até a morte o teu direito de ser contra 🙂" [2]
Gostei muito do seu texto, e mais ainda dos comentarios.
Votado como sempre Madhi 😁
Comentários no Jacobino sem besteira de politicagem. Como eu gosto de ver isso 😉
Como congressista apoio o reajuste das taxas para uma diminuição gradual. Colocarei tal discussão no fórum assim que sair dessa maldita faculdade 😨
Abraços,
Marcelux (na org, pq to com preguiça de logar de novo) 🙂