Ciência mais próxima de descobrir 100 milhões de galaxia

Day 1,282, 18:30 Published in Brazil Brazil by Dhavi Jones

Há quase cinco séculos, Nicolau Copérnico iniciou uma revolução ao defender um modelo do Universo que não possuía a Terra como centro. A Revolução Copernicana se estende até hoje, ao descobrirmos que longe de estarmos no centro de tudo, o cosmos se estende e se expande em um espaço-tempo por bilhões e bilhões de anos-luz, como diria Carl Sagan. Mesmo nossa galáxia já possui em torno de 100 bilhões de estrelas, e é apenas uma entre centenas de bilhões de galáxias.

Havia, e há entretanto, uma pedra no sapato da Revolução Copernicana: estamos, ou parecemos estar, sós. Não apenas isso, enquanto a astronomia estendia as escalas do Universo a dimensões quase incomensuráveis, descobrindo estrelas, nebulosas e mesmo galáxias sem fim, todos os planetas que conhecíamos eram planetas de nosso próprio sistema solar. Por décadas cientistas especularam seriamente se sistemas planetários não seriam raridades, formadas por uma conjunção absurdamente improvável de colisões ou condições, e uma estrela como o nosso Sol, rodeada por pequenos planetas rochosos e alguns gigantes gasosos, seria única, singular.

Há menos de vinte anos, a situação finalmente começou a mudar. Foram desenvolvidos novos telescópios, ferramentas e técnicas astronômicas que permitiram por fim observar evidência de planetas distantes, orbitando outras estrelas. E praticamente tão logo tais instrumentos foram colocados em ação, planetas extra-solares foram descobertos. E como foram. Em menos de vinte anos descobriram-se em torno de 500 planetas extra-solares. Se há trinta ou quarenta anos um astrônomo poderia teorizar se sistemas planetários seriam um raridade no Universo, hoje está claro que exatamente o oposto é a realidade: quase todas as estrelas que observamos no céu possuem planetas à sua volta. A Terra não é o centro do Universo, nem o sistema solar de que fazemos parte é único.

A Revolução Copernicana ainda não está completa. Conhecemos hoje muito mais planetas orbitando outras estrelas do que nosso próprio Sol, mas quase todos esses exoplanetas são gigantes muito diferentes da Terra. E, novamente conservadores, alguns astrônomos especulam se os sistemas planetários comuns pela galáxia não seriam diferentes do nosso, com uma grande escassez de pequenos planetas rochosos em zonas habitáveis como a Terra. Novamente, contudo, limitações em nossas observações podem responder pela pequena quantidade de planetas de dimensões comparáveis à da Terra descobertos até agora.

Em uma inspiradora palestra TED proferida no último dia 16 de julho (acima, em inglês), o astrônomo de Harvard Dimitar Sasselov lembra como este ano de 2010 vê a convergência de três grandes eventos aparentemente distintos, que podem se revelar entrelaçados na direção das maiores descobertas de nossa espécie. O primeiro destes eventos é o sepultamento do mesmo Nicolau Copérnico. Falecido em 1543, Copérnico foi inicialmente enterrado, como era costume na época, em uma tumba coletiva. O homem que revolucionou o mundo jazia assim praticamente anônimo em meio a muitos, até que há poucos anos o que seria seu corpo foi identificado – com base em traços forenses como uma cicatriz sobre seu olho. Mas como estar seguro de que este não poderia ser um companheiro falecido na mesma época, que também tivesse por coincidência a cicatriz e outros traços?

Entra o famoso teste genético, parte da revolução nas ciências da vida que vivemos neste exato momento. No ano passado, amostras de fios de cabelo de presentes em um de seus livros preservado até hoje combinaram geneticamente com o corpo, e a identificação acima de dúvida razoável, quase tão segura quanto um teste de paternidade contemporâneo, finalmente permitiu que no dia 22 de maio de 2010, mais de 450 anos depois de sua morte, Nicolau Copérnico fosse sepultado em um segundo funeral com as devidas honras.

Poucos dias depois, em junho, a equipe científica comandando uma sonda espacial nomeada em honra a um astrônomo que levou à frente a Revolução Copernicana, a sonda Kepler, divulgou seus primeiros resultados. Sasselov é um dos líderes da equipe de astrônomos, e as notícias são boas, como notou na palestra. Nada menos que 706 candidatos a planetas – isto é, possíveis planetas extra-solares – foram identificados baseados em apenas 43 dias de observação. “Uma parcela significativa desses não devem ser mesmo planetas, e não sabemos ainda qual é esta fração”, notou Sasselov, mas a sonda deve buscar planetas por mais de três anos! Porém essa não é a boa notícia, ou pelo menos, não é a melhor das notícias.

“Os candidatos planetários da Kepler, como os 306 divulgados no último dia 15 de junho, têm órbitas e tamanhos estimados. Organizados por tamanho aparente, a maioria dos candidatos possui um tamanho igual ou menor ao de Netuno. Esta é a boa notícia”. A melhor das notícias. Que ainda deve se confirmar, mas Sasselov pinta os primeiros sinais como indicadores de que a distribuição de planetas pelo Universo deve bem ser similar à de nosso sistema solar.

De onde vem o tantalizante número de 100 milhões de planetas como a Terra. Permanece sendo, por ora, apenas uma possibilidade, mas uma cada vez mais concreta, e uma que pode vir a ser confirmada com boa evidência nos próximos anos. Pouco a pouco vamos preenchendo com base em observações astronômicas a famosa equação de Frank Drake estimando o número de civilizações extraterrestres, e incrivelmente, algumas das estimativas mais otimistas podem se confirmar.