A PANELINHA

Day 1,189, 17:36 Published in Brazil Brazil by L.Cohen


INTRODUÇÃO

Panelinha, 1. Fig: Conluio para fim pouco sério, 2. Fig: Grupo de políticos que, no poder, procuram obter vantagens individuais, 3. Fig: Grupo literário muito fechado e unido, e dado ao elogio recíproco, 4. Qualquer grupo muito fechado, 5. Fig: Súcia, Matula, 6. Fig: Grupo cujos membros repartem apenas entre si oportunidades de trabalho, favores políticos, etc..



A panelinha, ou panela, é uma estrutura natural em grupos humanos, se forma a partir da existência de afinidades interesses e tensões interpessoais. Uma rede de relações se forma e se amplia, os membros dessa rede tendem a ver com maior simpatia as ações e iniciativas sociais dos outros membros e eventualmente ver como um ataque a todo o grupo qualquer ataque a um de seus membros.



Dentro de um jogo de relações sociais, como é o eRepublilk, é natural a criação de uma ou mais panelinhas, partidos políticos são, ou deveriam ser, panelinhas, por exemplo. Mas esta afirmação não indica, de maneira nenhuma, que todas as panelinhas são partidos políticos. Pelo contrário, os partidos políticos são ferramentas que as panelinhas, os grupos sociais mais amplos se utilizam para se firmar.

Desse modo quando nos referirmos à panelinha no singular, não estamos falando de nenhum sub-grupo social específico, mas de mais de uma panelinha existente, seja ela muito ou pouco influente.

Outro aspecto importante é não confundir as panelinhas com sociedades secretas, cuja única porta de saída é a morte. As panelas e panelinhas são estruturas altamente móveis, algumas pessoas podem permanecer em uma panelinha por um tempo mínimo, ou apenas com relação a alguns aspectos particulares, não é uma camorra, é apenas um grupo social dinâmico.







QUALIDADE OU DEFEITO?

Inevitáveis elas são, mas seriam estruturas negativas, como parecem indicar as definições de dicionário para a Panelinha?

Para quem gosta de tudo preto no branco, a resposta, infelizmente, é depende. Depende de quem está olhando a panelinha. E sob que ponto de vista.



Do ponto de vista de enxergar o eRepublik como um jogo social, o surgimento de panelinhas é um sucesso, demonstra a maturação dos grupos envolvidos no jogo. Pois a panelinha é uma ferramenta usada pelos grupos sociais para se afirmar e dominar sobre os demais.



Evidentemente, do ponto de vista dos excluídos da(s) panelinha(s), ela são o que de pior existe no jogo. Justamente porque são excludentes, porque estigmatizam os “outros”.

Esse jogo de depreciar ao “outro” de se mostrar arrogante, de se pavonear diante dos demais é instrumento fundamental de consolidação e afirmação da panelinha e de seus membros diante da sociedade. Sem esse comportamento de auto-promoção, a panelinha não sobrevive.

É também natural que uma panelinha de sucesso atraia mais membros para seu círculo, membros que são considerados adições de qualidade para a panela. É a fase de cooptação daqueles membros de outras panelinhas que estão sensíveis à adulações, ou que não se julgam suficientemente valorizados por seu sub-grupo social.

Por isso a panelinha também é um instrumento eficiente de elaborar elogios, de construir laços pessoais, de alavancar carreiras. Membros capazes que não encontram um grupo de apoio eficiente para o desenvolvimento de suas potencialidades, podem progredir em outra panelinha mais eficiente e dinâmica.

Por vezes, ao fazer seu grupo crescer, o restante da sociedade pode usufruir de parte desse crescimento.



Entretanto, quando esse grupo social reduzido passa a ser a principal (quase única) referência para o convívio social com as demais pessoas, quando cresce em influência e poder além dos limites saudáveis, ele torna-se um instrumento ditatorial uma máquina de bulling (ou de trolagem como dizem todos aqui que querem ficar “in”).
Nessas situações, a panelinha passa a bloquear outras potencialidades, passa a prejudicar o desenvolvimento da sociedade.





FERRAMENTAS SOCIAIS = FERRAMENTAS DA PANELINHA



Todos os meios de comunicação social ou individual são instrumentos de interação social, e portanto são também os meios que a panelinha usa para se consolidar e construir sua identidade.
O sucesso da panelinha é, em última análise, fruto da habilidade que seus membros tem em utilizar as ferramentas de comunicação a sua disposição e de criar outras.

Quando um grande número de membros de outras panelinhas, ou não alinhados domina um determinado meio de comunicação com habilidade igual ou superior às dos membros da panelinha, é normal que ela busque outros meios que ela domina , ou mesmo meios aos quais os “outros” não tem acesso, muito embora, neste caso o meio tem efeito social muito reduzido, pois seu discurso atinge apenas aqueles já membros da panelinha.

Partidos políticos são panelinhas, mas também são meios usados pelas panelinhas para divulgar e desenvolver seus valores. Assim como são as organizações de ajuda a novatos, e as próprias estruturas do governo. Aqui, como no mundo real, um ministério ou um posto no segundo escalão, são instrumentos de promoção pessoal e de seu grupo.



No eRepublik os meios de comunicação são vários:aqueles “ingame”, ou seja os jornais, as mensagens privadas e os shouts, e os “outgame” : fóruns e canais do IRC, mas também podem ser e-mails, telefonemas ou encontros pessoais. A interação social é o objetivo do jogo, é o objetivo do ser humano, portanto todos esses meios são lícitos e quantos mais meios são utilizados, quanto mais eficientes e inventivos são esses meios, mais evoluída está a comunidade.





Muitos tem sido os protestos contra o uso de meios “outgame” de comunicação.
Essas críticas não podem ser vistas como um Movimento Ludista, que, no início da Revolução Industrial, invadia fábricas para quebrar as máquinas que estavam mudando sua forma de trabalhar, de viver e de se relacionar com o mundo. A simples proposição da proibição desses instrumentos é um retrocesso, não pode ser encarada como algo positivo.



Se alguma panelinha está tirando proveito desses ferramentas outgames, deve-se aprender a usá-las para competir o jogo social em condições de igualdade com esta. Quanto mais aberto e disseminado for o uso de uma determinada ferramenta social, menores são as chances de alguém se apropriar delas para seu uso particular.

Devemos, portanto, entender essas críticas dentro de seu devido contexto (em outras palavras, não podemos deixar que esta ou aquela panela distorçam essas críticas para se promover ou para desqualificar seus proponentes).
O problema é o uso de ferramentas outgames para decidir e definir ações ingame, é essa a crítica. Uma crítica contra a exclusão de grupos de decisões que deveriam ser tomadas com a maior participação possível.

Então, todos os meios de comunicação são lícitos para os contatos sociais que são feitos. Ilícito é usar meios de comunicação excludentes para tomar decisões que devem pertencer a toda a sociedade.





MORTE DAS PANELINHAS



Uma panelinha acaba de várias maneiras.

Quando ela erra demais, quando suas verdades se revelam enganos, uma panelinha pode acabar, ou enfraquecer-se significativamente. Ela tentará sobreviver, negando que tenha errado, ou que quem quer que tenha errado fosse parte da panelinha naquele momento ou com relação àquele erro em particular. Mas os erros de seus membros, quase sempre são considerados como erros do conjunto.

Uma panela também pode desaparecer por confundir-se com a sociedade. Quando quase todos os membros de uma comunidade fazem parte de uma panela, ela deixa de existir, se dissolve na totalidade, passa a haver necessidade de se destacar nessa totalidade, de modo que novas panelas são criadas para diferenciar pessoas do comum (quando muita gente comprar um certo modelo de carro para se diferenciar dos outros, ele perde esse apelo imediatamente).

De modo parecido, quando uma panela tem muito sucesso e condena seus “opositores” ao ostracismo, ela também se confunde com o comum.

Duas panelas podem levar a uma luta que poderá atingir níveis capazes de destruir a uma delas, ou às duas.

Finalmente, uma panela pode se destruir por disputas internas, quando muitas personalidades foram atraídas para um determinado grupo, é questão de tempo para que essas personalidades comecem a disputar o controle entre si, formando-se partidos dentro do partido.





CONCLUSÃO:

Não se pode entrar no eRepublik (no emprego, na universidade, no clube, na igreja – templo, terreiro, sinagoga, mesquita, na sociedade forthiana, na vida, enfim), sem estar-se disposto a encarar as panelinhas, sem se ter a flexibilidade, o jogo de cintura, a malemolência necessárias.

Elas sempre estarão presentes, não podemos evitá-las, mas até mesmo reclamar contra elas é uma maneira eficiente de conviver com elas e de, também crescer socialmente.

Em uma sociedade com valores firmes e bem estabelecidos, com ideais e ideologias consistentes, o espaço para o desenvolvimento de panelinhas que se convertam nos únicos campos de decisão. Indivíduos com convicções ideológicas firmes também são pouso suscetíveis a serem conquistados por elogios e adulações de uma panela.

Informação, esclarecimento, acessibilidade, são ferramentas que uma sociedade saudável deve buscar para tirar o melhor proveito das panelas (já que não se pode viver sem elas), para mantê-las como instrumento usados por todos, não como instrumentos para a dominação dos demais.



Só espero não ter sido chato demais...