O Brasil, o ebrasileiro e a Democracia
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Varnhagen
Meus caros amigos,
![](http://www.sindojusmg.org.br/sindojusuai/site/wp-content/uploads/2012/04/PINTURA-GREVE.jpg)
Optar pela democracia, creio eu, não deveria ser nunca uma questão. Pelo contrário, deveria ser lugar-comum, como pipoca no cinema e beijo em novela. Um finado primo meu, que viveu as agruras do exílio, dizia que certas pessoas nascem com o gene da democracia e outras não. Nascíamos de direita, de esquerda, num calvinismo definitivo. Sua visão política não comportava um centro e como Paulo, judeu que fundou o Cristianismo, tinha horror dos “mornos”.
Tenho por mim que a democracia, ao contrário dessa visão, não é coisa nata. Não nascemos ou crescemos democráticos. Aliás, a coisa menos democrática do mundo, de deixar Stalin, Hitler, Pol Pot, Franco e o diabo a quatro no chinelo, é uma criança nos seus primeiros anos de vida. Com esses, não há definitivamente a possibilidade do diálogo, do contraditório. Desconhecem o outro e suas necessidades, portanto não podem se ver no outro, não reconhecem a alteridade e nada além dos próprios umbigos.
![](http://relacionamentos.emporiodosucesso.com.br/wp-content/uploads/2008/06/inocencia.jpg)
Uma definição pra lá de boa para esses enfants terribles é a do “perverso polimorfo”. O nome já diz tudo: neles, a perversão tem formas diversas, máscaras variadas. Então, julgo que, de berço, nascemos uns bons ditadores. E acrescento: com uma queda danada para o totalitarismo. Democracia não. Democracia é construção, não cai da árvore do dia para a noite e nem pode ser sacada de uma cartola, num passe de mágica. Nós nos tornamos democráticos. Alguns não, é mister reconhecer e a história está abarrotada desses, tanto no “mundo real” quanto no e-mundo. Mas não são regra, quero crer. São exceção, visto que no Ocidente, a cada dia que passa, a Democracia se torna também cada vez mais um fim e um meio.
No Brasil –e não há como operar uma divisão entre Brasil e eBrasil, sob o risco de sermos tachados de esquizofrênicos- temos pouca cultura democrática. Até pouco tempo atrás, parcela significativa do Brasil real dizia preferir uma ditadura ao modelo democrático vigente. Quero crer que a pior das democracias é preferível à melhor das ditaduras, como bem sublinhou alguém que agora não me recordo. A Democracia é uma construção: nos tornamos democráticos à medida que vivenciamos a experiência democrática.
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No eBrasil, ainda temos um largo chão a percorrer. Visões cristalizadas e distorcidas do Estado, personalização da política, desprezo pelos princípios republicanos, patrimonialismo, autoritarismo e tantos outros ismos ainda fazem parte de nosso cotidiano. Muita das vezes o Público é confundido com o Privado (não só em relação aos cofres da “viúva”, mas no nosso “fazer” político) e quando ocorre essa confusão, ficamos um tanto quanto diminuídos e nossas instituições políticas mais frágeis.
Nessa conjuntura, a Democracia claudica, se esgarça e esquecemos que não foi o povo feito para o Governo, mas, o Governo para o povo. Não foi feito o povo para o Congresso, mas o Congresso como representação do povo. Parece simples, parece primário. Não é. O exercício da Democracia é uma estrada exígua, exige paciência e exige fôlego. E uma habilidade imensa em engolir sapos, exaurir argumentos, construir relações profícuas.
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A política do eBrasil é, em muitos aspectos, um reflexo embaçado de nossa política real. E cabe a cada um de nós, do novato que entra hoje no jogo ao mais antigo de nossos ecidadãos, mudar essa realidade que nos atravanca e nos diminui. Quando dermos adeus às praticas autoritárias, ao elogio do discurso único, às tentativas de desqualificação dos indivíduos e das idéias divergentes, ao clientelismo, ao patrimonialismo, ao “Sabe com quem está falando?”, daremos também um salto à frente e novas potencialidades surgirão, como brotoeja em pescoço de recém nascido, no verão.
Democracia se faz com instituições políticas fortes, com isonomia e respeito entre os poderes constituídos da nação, com observância às regras e com o zelo constante, cotidiano pela liberdade de expressão e de pensamento. Afinal, como dizia o velho Voltaire, “posso discordar de tudo o que você diz, mas morrerei lutando para que tenha o direito de dizê-lo”...
![](http://institutoanalise.com/wp-content/uploads/2011/09/povo_Brasil2.jpg)
Um abraço, ex cordis,
Varnhagen, aka Mahdi
Comments
E?
E vc com isso?
E?
ABC, ABC, toda criança tem que ler e escrever!
ARANTES, Pelé.
E vc com isso? /ad infinitum
kkkkkkkkkkkk
Comentado o>
Votado o>
Assinado o>
Não é o caminho mais fácil, mas é o melhor caminho.
Votado amigo!!!
Varnhagenmaxx!!!!!!
Votado!
E para que haja democracia é imperioso que se respeite as opiniões em contrário.
votado
Eu acho q democracia é para aqueles que merecem. (o q já deixa de ser democrático rsrsrs)
votado
boa
Votado !
!
E o AI-5 ? João Goulart estava mesmo virando um comuna ? O nível cultural de uma determinada sociedade como um todo, compromete a solidificação da democracia ?
Conte-me mais sobre isso.
[removed]
Caro Mahdi, não compreendi aonde você quis chegar com tal texto, mas tenho pontos de discordância. Lançarei-os aqui para, se tiveres tempo, debatermos.
Não concordo com o parágrafo que começa com: "A política no eBrasil [...]". Não acho que a política daqui seja parecida com a política da realidade, para falar a verdade, não creio que elas compartilhem nem a sombra da outra. A política eRepublikana é simples, pobre... somos guiados por botões e não muito, podemos ir além deles. Basicamente, todos os candidatos possuem os mesmos idéias, propostas e ideais de governo ou gestão, muda-se coisas pontuais, mas o estrutural é o mesmo, mês após mês. Comparar esse ambiente miserável em que estamos engaloiados com a pluralidade de ideologias, pensamentos e possibilidades que a política dita "de verdade" é impossível. Quando você menciona "Você sabe com quem esta falando?" para traçar similaridade entre a política real e a erepublikana, penso que cometestes um erro crácio. O que é comum não são as políticas, mas sim o caráter, ego ou psique humana envolvida em ambas. Como você, também citarei Voltaire, "A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano". É na índole humana que as duas se aproximam, não em suas características fundamentais.
Enfim, votado e aberto para discussões!
Booh, eu discordo. Que há restrições ao exercício dos mandatos aqui, é óbvio e ululante. O que pode um Congressista aqui? Votar impostos e taxas, inimigo natural, transferencias financeiras, impeachments de Presidentes, embargos econômicos, pactos de proteção mútua, conceder ou não cidadanias, votar mensagens de boas vindas. Podem também -e devem- fiscalizar os gastos do governo e suas ações. Não podem cassar mandatos de pares, independente do que esses vierem a fazer, votar orçamentos ou propor leis que contem com o aparato coercitivo do jogo, no caso os ademires...
No entanto, mutatis mutandis, a práxis política daqui é irmã siamesa da práxis política da maioria dos partidos e atores políticos do rL. Padecemos aqui dos mesmos males e isso está mais na cara do que barba em papai noel, como o patrimonialismo ("confusão", digamos eufemisticamente, entre a esfera pública e privada), clientelismo, personalismo, populismo, aparelhamento do Estado (sabem os que conseguiram romper certo status político como é pesado isso), formação de oligarquias, de plutocracias, etc e talz...
Nesse sentido, ainda que consideremos as diferenças de mecanismos, ferramentas e complexidades, fazemos aqui um reflexo meia boca do que fazemos no real.
cara mt estranho, me parece que eu já tinha lido isso, é republicação?
Na verdade ele já repetiu esse tema com basicamente as mesmas comparações, mesmos assuntos em outros artigos do passado.
Já sim, Guilpas. Eu atualizei um artigo do ano 800 e uns trocos. Me pareceu cair como uma luva para pensar a política aqui nos últimos dois meses. E, o mais interessante, o artigo interessante não pelo que diz mas pelo que sugere e para onde aponta. Nem foi preciso mudar muito...
Votado
Reflexão sobre democracia nunca é repetitivo em qualquer lugar, mesmo que fosse repetição.
Democracia é aparentemente fácil (é uma palavra bonita e um termo nobre) mas é um exercício muito difícil. E apesar da dificuldade e de todas as tentações ela ainda é o melhor caminho....
Votado, lógico. Pela coerência do tema com o atual "e"momento e pela beleza do texto.
q sono