As coisas e os nomes das coisas

Day 1,638, 16:03 Published in Brazil Brazil by Varnhagen
Meus caros amigos,

Etimologicamente falando, a palavra 'nêmesis' vem do grego antigo νέμεσις, derivado do verbo νέμω (némo: 'distribuir'), da raiz indo-europeia nem-. O termo foi usado com o significado de 'desdém', 'indignação', por Homero, na sua obra pra lá de clássica, a Odisseia e Aristóteles, na não menos clássica Etica à Nicômaco, e com o sentido de 'vingança', 'castigo', por Heródoto, Claudio Eliano (na Varia Historia) e Plutarco.

Na mitologia grega, Nêmesis era uma deusa da segunda geração, e, segundo Hesíodo, uma das filhas da deusa Nix , que simbolizava a noite. Pausânias citou-a como filha dos titãs Oceano e Tétis. No entanto, autores tardios a definem como filha de Zeus e de Têmis. Apesar de Nêmesis nascer na familia da maioria dos deuses trevosos, vivia no monte Olimpo e figurava a vingança divina.

Nemesis nasceu ao mesmo tempo em que Gaia concebeu Têmis. Gaia, preocupada com a infante Têmis, que poderia vir a ser vítima da loucura de Urano, entregou-a a Nix. Esta, cansada de tanto gerar por esquizogênese, entregou as deusas aos cuidados das moiras, as deusas do destino. Nesse sentido, Nêmesis e Têmis foram criadas como irmãs e educadas por Cloto, Láquesis e Átropo. Segue daí que as deusas, além de possuírem atributos comuns, tiveram educação em comum. Mas –e tem sempre um “mas”- Têmis tornou-se a personificação da ética e Nêmesis a personificação da vingança.

Os gregos, que não eram nada burros, buscavam através dessas narrativas simbólicas, os mitos, explicar o mundo, os fenômenos naturais e o próprio homem. Aliás, não só os gregos, mas também os egípcios, os romanos, os indígenas das Américas, os africanos... enfim, o mito é algo que é comum a todas as culturas. Poderíamos dizer, sem medo de errar, que o pensamento mítico representa, de certa forma, a “infância” do pensamento racional. Ou algo assim, para não alongarmos muito esse artigo.

Os rapazes da Romenia, país latino lá de onde Vlad Tepes perdeus as presas e Erzsébet Báthory a vergonha, com certeza não escolheram esse nome a toa, como podem supor os mais ingênuos ou desleixados. Não. Alguém que escolhe “vingança” por epíteto, bem intencionado não está. E, como se diz em Minas, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Como nos filmes de vampiro, no menor descuido chupam nossas carótidas como se fossem singelas mangas ubás, ou coquinho, depende a região do vivente.

Portanto, se queremos nos livrar desses rapazes de fato, temos de por na cabeça que, por um bom período, vamos ter que ficar mais atentos que babá em parquinho. Mas há uma coisa boa nisso tudo: os romenos da Nemesis conseguiram algo interessantíssimo, que é proporcionar uma coesão e um sentido de nação que estava, aos poucos, se esgarçando... E o resto é café pequeno.

Um abraço, ex cordis,
Varnhagen, aka Mahdi