SPARTANOS: Uma história perdida

Day 1,951, 15:44 Published in Brazil Brazil by Booh


Vou lhes contar uma estória perdida. Uma estória que nunca foi encenada nos Teatros dionisíacos, uma estória que nunca tocou os ouvidos de um patrício romano e que mais tarde, nunca fora trovada pelas penas de um menestrel ou musicada pela alaúde de um bardo. Décadas, séculos e até milênios, esconderam esta estória, mas não de nós, esparciatas*. Nem mil luas, mil sois ou mil estações, nos fizeram esquecer do nosso passado, nos fizeram esquecer de quem somos. Preste atenção, pois não há um pergaminho, papiro ou pinturas do Oriente ou Ocidente que relatam o que vou contar.

Deves saber muito bem sobre a Liga do Peloponeso** ou sobre as Guerras Médicas*** ou ainda sobre a Batalha de Termópilas****. Deves considerar-te um entendedor de história, mas já te perguntastes o que acontecera com os espartanos após a Batalha de Termópilas? Após segunda Guerra Médica, viera Alexandre, o grande e então, não demorara para os romanos baterem em nossas portas. Nós sobrevivemos a tudo e todos e não nos dissolvemos com tempo.



"Voltes com o escudo ou sobre o escudo"- Mães espartanas ao se despedirem de seus filhos.

Após a derrota do Rei Lêonidas I que traído por Elfiates, fora ao Estreito das Termópilas com seus 300 homens espartanos enfrentar Xerxis I com seus mais de 300 mil homens, Esparta minguou. Plistarco filho de Lêonidas, enfrentou resistência dos próprios gregos, principalmentes os atenienses, que viam Plistarco e os espartanos em geral, como ameaças ao comando da Liga do Peloponeso. Lacedemônia***** viu-se marginalizada, perseguida e várias vezes invadida e saqueada. Após gerações, não sobrara pedra sobre pedra, não havia mais plantações e os teatros encenavam estórias gloriosas do passado, muito diferentes da Esparta da época. E os decendentes do grande Lêonidas, nossos ancestrais, migraram, tornaram-se praticamente nômades. Não passavam mais de uma geração em um mesmo local.

Esparciatas só casavam com esparciatas. Matinham o sangue, matinham a glória. Porém, nossos corações já não batiam como as tarois de batalha. Nossos braços já não erguiam a lança da vitória. Os Deuses já haviam nos esquecidos. De temidos lacedemónios******, mestres no combate, viramos ferreiros e servos nômades. Já temíamos a escuridão, assim como a morte, os louros da glória, já não mais repousavam em nossas cabeças. Contávamos as histórias dos nossos antepassados tal qual anedotas mitológicas. Geração após geração, ficávamos mais servís e pouco de Lêonidas restava em nossas almas.



LEGENDA HISTÓRICA

* - Esparciatas filho de mulher espartana e homem espartano.

** - aliança de várias cidades-estados na península do Peloponeso, na Grécia Antiga, durante os séculos VI e V a.C..

*** - conflitos bélicos entre os antigos gregos e o Império Persa durante o século V a.C..

**** - foi travada no contexto da Segunda Guerra Médica entre uma aliança de pólis gregas liderados pelo Rei Leônidas de Esparta e o Império persa de Xerxes I. A batalha durou três dias e se desenrolou no desfiladeiro das Termópilas ('Portões Quentes') em agosto ou setembro de 480 a.C.

***** - região grega de Esparta e Lacônia. Quem nascia em Lacedemônia é dito lacedemônio. Também pode ser relativo a festividade preparada pelas mulheres espartanas a seus maridos.