Jazz Singular: Made Man

Day 619, 15:26 Published in Portugal Portugal by Julio de Matos

O meu nome é Julio. E para além de ser um íman para o azar, tenho sempre a sorte de sair dele.

Espero com mais dois mafiosi por um Volvo preto junto ao rio. Dentro vem AngelofSorrows, liaison entre Don wooooo e Arthk, a sua cara-metade.

Enterrada até aos joelhos no negócio da droga, AoS não passava de uma traficante de marijuana até à vinda de Arthk. Pouco se sabe dela. Na escola uma aluna de C's, tudo mudou na universidade, quando ganhou proeminência no círculo de amigos, devido à sua actividade.
Com conhecimentos no campus, desconfia-se que os A's foram comprados a preço de erva. A sua atitude de não misturar negócios com prazer deu-lhe a reputação de "Dama de Espadas".

Com a sua vinda, o campus passou a ser um ponto estratégico que Arthk necessitava para aumentar o seu controlo sobre New Orleans. Quem controlava AngelofSorrows controlava o negócio junto da elite de futuros médicos, advogados e políticos.

Odeio gente fraca, de vícios. O 11 de Setembro e o furacão Katrina fizeram emergir o pânico, o medo e o terror da sociedade. Outrora vizinhos amigáveis, a população de N. Orleans tornou-se necrófaga, parasitária, com medo, de sete trancas na porta.
O medo traz consigo a procura extrema pelo bem-estar, e AoS oferecia-a embutida na forma de veneno verde.

Com a aproximação a Arthk e à nata, AoS viu a sua oportunidade de ouro. Perigosa como é bela, estabeleceu uma relação amorosa com Arthk fundada em dinheiro, sexo e droga.

De um dia para o outro, a cadeia universitária viu-se inundada de cocaína, metanfetaminas e todo o tipo de drogas duras manufacturadas.
A concorrência, que aparecia de tempos a tempos, deixou de aparecer, com rumores de mortes violentas e explosões supostamente causadas por acidentes nos laboratórios artesanais.

Como parasitas, juntos AoS e Arthk roubaram o sangue da cidade. O futuro, negro como carvão, deixou de pertencer aos jovens, para pertencer aos neo-zombies, carcaças do que outrora eram considerados os próximos presidentes, médicos ou advogados.

Espero impaciente. Dou por mim como sendo o instrumento purificador do amanhã de New Orleans.

Ameaça chover. Falta um quarto de hora para as 2 da manhã.

Don wooooo arriscou o seu pescoço por este plano. O seu ódio por mim só é superado pelo ódio a Arthk e à nova sociedade que criou, sem leis e com regras ditadas apenas pelo verde do dinheiro.

A idade pesa-lhe. É um bandido com honra. Deita-se sobre a omertà, acorda sobre a omertà. Sou o x, o valor aleatório equacionado por wooooo, o último dos mafiosos com a honra intacta, que lhe custou 15 anos de vida no culminar de uma operação com o meu antigo parceiro. Lembro-me da sua promessa de assassinar todos os que me eram próximos. Nunca conseguiu. Não tenho próximos.
A Interpol vai-me despedir, ou pior, se souber. Não interessa. Não faço isto por eles. A morte de lastdance ainda me pesa a consciência e Arthk vai sofrer. Quando acabar com ele, ninguém o reconhecerá.

wooooo sabe disso. Reconheceu o fogo nos meus olhos assim que entrei no Giuseppe's, e sabe que vou atrás de sangue.

Para poder operar, 70% dos lucros terão de ser pagos todos os meses. O império de Arthk é vasto, e ele sabe perfeitamente que a única maneira de controlá-lo é dar a falsa sensação de independência. wooooo é um velho cão à beira da morte numa família, já de si, à beira da morte. Não tem nada a perder. Sou provavelmente a última cartada que dará. Após executar o meu plano, Arthk saberá em que porta bater, e em quem disparar.

Está quase a chover. Fria como aço, a noite adensa-se junto ao rio. O meu plano em princípio é simples. Matar os guarda-costas, raptar a dama de espadas e usá-la como moeda de troca para acoutinho. O seu estado dependerá, em muito, do estado de AoS.

Qualquer complicação na captura e transporte, disparar para ferir. O envenenamento por chumbo tratará do resto.

O Volvo preto aparece. Noto nervosismo nos mafiosos. A noite vai acabar mal.