Jazz Plural: The Enemy of my Enemy...

Day 611, 03:37 Published in Portugal Portugal by Julio de Matos

O meu nome é Julio de Matos, e trabalho para uma agência que pára aqueles que teimam em não parar.

Pertenço ao Manageable Resources Department. Um grupo de ases fora do baralho que são chamados quando a situação complica. Não porque a conseguem resolver. Apenas são os descartáveis.

Dos descartáveis, eu tenho o azar de continuar vivo.

Não por muito tempo.

Está tudo negro. Não sinto nada. Perante mim, vejo sombras. Hah, falácias da vida além da morte. Na TV dizem que vêm luz branca. Ou mentem, ou estou no local para onde vão as pessoas como eu. Algo me diz que não estou pronto, e acordo.

Estou no hospital. À minha frente a ler o Times, vejo gonzo23, o meu antigo parceiro.

Porra, os sonhos estão a ficar mais estranhos de minuto para minuto.

Bem-vindo aos vivos. Sempre soube que te ias safar. Vaso ruim não quebra - Há coisas que nunca mudam, e gonzo23 continua a ter a boca ligeiramente maior que o ego. Se não tivéssemos perdido a cabeça e envolvermo-nos num tiroteio num pub de Dublin, talvez ainda fossemos parceiros. Hey, que posso eu dizer? Se há coisa que não tenho tolerância é à bebida e à nobreza de Inglaterra.
Acontece que era um bar de católicos, e estávamos lá para prender um deles. 3 feridos e 16 mortos. O nosso alvo saiu preso num saco preto em vez de algemado.

Sinto dores no ombro esquerdo. Vejo ligaduras.

Uma bala raspou no ombro, continua gonzo. Viraste uma flor.

Palhaço - respondo-lhe. Afinal era só um sonho.

A anestesia começa a desvanecer, e as dores são maiores. A dor mantém-me concentrado. O que está gonzo aqui? Sozinho? Qual o motivo? Levar-me ou deixar-me aqui?

O lastdance?. Ao ouvir-me, gonzo23 muda de expressão.

Morreu. Segundo o que vi no local, apanhou uma bala por ti.

Novato. Neste jogo, heróis morrem.

Para onde foi levado? - pergunto a gonzo.

- Veio para este hospital. Mas não precisas de te preocupar, a Interpol está a tratar da extradição de vocês os dois. Mais importante que isso, a agência necessita da pendrive que acoutinho trazia consigo. Tens contigo?

Pendrive? Lembrei-me subitamente da pendrive com 52mb de provas, lastdance devia protegê-la e não a mim. Estou intrigado. Como gonzo23 sabe dela? Não falamos com ninguém. acoutinho só abriu o jogo quando quase morreu à pancada e se não fosse pelo lastdance, não a teríamos.

Não...

Peço a gonzo para me buscar um refrigerante. Assim que sai da porta, levanto-me e espreito. Virou a esquina, ando no sentido contrário. Begueiros de enfermeiros meteram-me numa bata, pareço um perú embrulhado em papel vegetal. Indefeso também. As dores são a única coisa que me faz sentir humano hoje em dia, e o meu ombro faz-me sentir pequeno e inofensivo. Encontrei um armário. Batas de médico. Visto uma e desço em direcção à Morgue de olho por alguém conhecido.

Lá encontro lastdance tal e qual veio ao mundo, mas um bocado mais morto. Depois do sentimento de repulsa, procuro o sítio onde guardam os objectos pessoais. Estão lá dentro, junto a um médico-legista. Merda. Hoje em dia é tudo tão complicado.

Entro e obviamente o médico-legista não me reconhece. Imobilizo-o rapidamente e retiro os objectos pessoais do falecido. Ele já não precisa deles e eu, francamente, preciso mais do que nunca. Não deixo de pensar que deveríamos ter trocado de lugar. Eu já estou farto e lastdance ainda podia sair do jogo.

Passo pelo assassino. Óptimo. Do lado de lá do vidro, todos pagaram o que deviam à sociedade, por isso não lhe guardo qualquer rancor ao passar. Nem tenho tempo. Tenho é pena do lastdance ter-se posto à minha frente como um escudo humano, dando-me tempo de sobra para fazer o que sei fazer de melhor.

Entro numa casa de banho e visto-me à pressa. Com um L, a roupa serve-me como a Pagliaccio, o palhaço. Tenho o fato roto e deitei a camisa no lixo. Substituo-a pela bata. A humilhação... Não importa. Tenho a pendrive.

O alarme toca. P**a que pariu! Descobriram o médico!

Saio à pressa. Aposto que gonzo também. Estando nos fundos, subo sob o olhar atento dos seguranças que descem à pressa, não preocupados com homens de terno.

Seguranças de fim-de-semana, portanto.

Saio do hospital.

A cidade abre de novo a sua mandíbula para mim. Com o alarme, o bando de pessoas concentra-se no hospital como abutres. Gonzo23 sucumbiu à corrupção que assola a Interpol.

Não mudou. Apenas de dono.

Não me posso dar ao luxo de confiar em ninguém.

Chegou a altura de recorrer a lixo para limpar o lixo.

A chegada de Arthk à cidade não foi pacífica. Aniquilou quase totalmente a competição, e competição em Nova Orleães significa máfia siciliana. De certeza que devem pagar bem para que lhe limpe o sêbo. Um mal menor, a CIA conseguiu ao longo dos tempos controlá-la.

Don wooooo vem dos tempos em que eu era novato. Lembro-me do meu primeiro parceiro (que morreu de cancro, suspeita-se polónio e uma mulher ucraniana. Fraco como um panaché.) contar que se podia encontrar wooooo pelo cheiro a dinheiro. Onde quer que houvessem estabelecimentos de boa reputação, Don wooooo tinha lá um dedo. Ás vezes 5 à volta da garganta. Tudo mudou com a chegada do novo crime, do crime sem honra, código ou piedade. O crime que transforma lixo em diamante. Para mim não importa a forma como se disfarça, lixo será sempre lixo.

Crioules substituiram lentamente os lugares vazios deixados pela Cosa Nostra. Já não existe uma Little Italy per se, mas basta encontrar dois restaurantes italianos a 100 metros um do outro, e já sabes onde estás.

Giuseppe's no coração fraco da cidade. Um bom sítio para começar a procura.