Jazz Plural: Mississipi Showdown

Day 607, 16:05 Published in Portugal Portugal by Julio de Matos

Há neste mundo forças invisíveis que nos compelem a tomar determinadas acções. Eventos decorrem conforme o planeado, alianças são feitas, quebradas, e inimigos envolvem-se para deter um mal comum.

Nova Orleães.

A face sorridente e festiva das suas ruas não é nada mais do que fachada que alberga a podridão dos seus residentes.

A cidade estende-se perante nós como um lobo voraz, à procura da sua presa. Os cidadãos são carne para o canhão do sistema, corrupto com centenas de anos de mescla criminal e racial.
Raptos, assaltos, assassínios, tráfico. O portão de trás de Roma.

O seu cheiro a corrupção atrai a escumalha da terra. A polícia são os criminosos, os criminosos são da polícia e as suas leis são tão voláteis como o dinheiro que as cria e destrói. Outrora o recreio de mafiosos italianos, hoje haitianos, crioules e cajuns sem nada a perder governam esta terra de ninguém. Más línguas dizem que nem o Katrina, com toda a sua força, ousou passar pelo distrito francês. Não há inocentes nesta terra esquecida por Deus.

Dirigimo-nos para um velho amigo meu. No círculo de traições, decepções e esquemas do nosso ramo, os contactos podem ser a única coisa que nos pode salvar a vida.

Hah... "amigo"... Neste mundo de cão, a ilusão de se ter alguém só pode ser comparada à ilusão que a família nos dá. Não se pode ter fraquezas, ou os teus inimigos aproveitam. Não se pode mostrar afeição a ninguém, ou os teus rivais exploram. A única coisa certa neste mundo é a face negra da dúvida, a escola de formação dos cínicos.

A única maneira de quebrar o ciclo de mentiras e ilusões é a morte.

Não tenciono morrer. Pelo menos enquanto sou novo.

lastdance e eu necessitamos de identidades. Nada indica que a Interpol não esteja à procura para nos silenciar. Não podemos usar identificações criadas pela agência. Sinto que estou a ser observado.

Quiker continua o mesmo ressabiado. Após incontáveis raids à sua casa, teimosamente continua a morar no mesmo sítio. Qualquer dia aparece morto. Toco à campainha. Ninguém atende. Um vizinho sai do prédio. Aproveitamos a porta aberta e dirigimo-nos ao 2º esquerdo. Batemos à porta.

Sei que estou atrasado - responde Quiker - dê-me mais duas semanas e terei o seu dinheiro!

Ironia da vida. Está com medo do senhorio. lastdance trata da fechadura com a mesma subtileza com que leva senhoras de reputação duvidosa para a cama sem pagar.

Entramos. A cara de Quiker não tem preço quando ele olha para mim. De certeza lembra-se da última vez que entrei na casa dele com uma equipa da SWAT. Não foi preciso muito para o convencer a criar identidades falsas. Francis Castle e Jim Morrison. Não consigo apontar a familiaridade nos nomes. Esse é o talento nato de Quiker, assentar as identidades como luvas.

Espera por pagamento. Coitado... uma das vítimas do sistema. Penso em assassiná-lo, mas só tenho 5 balas.

Seguimos pela rua. Não consigo afastar a sensação de estar a ser observado. lastdance também se sente nervoso.

Avançamos para uma rua deserta. Encostamo-nos à porta de um prédio e esperamos para que alguém apareça. Sai um vulto das sombras. Eu sabia!

Não o reconheço. O meu parceiro sua. Quem é ele? Não é todos os dias que se vêm cowboys neste lado da América.

Ele pára. Desconfia, do mesmo jeito que nós o detectamos. Algo não bate certo. A brisa primaveral afaga-me gentilmente a testa enquanto lastdance procura a arma.

Este é o silêncio que antecede a tempestade. lastdance não se pode dar ao luxo de vacilar.

Ele BANG!BANG! lastdance? BANG!

Argh...