[MdCult] - A Hora do Medo - Chupa Cabra

Day 4,490, 17:24 Published in Brazil Brazil by Ministerio da Cultura


Ministério da Cultura - Gabinete do terror
eBrasil, Sexta-feira, 06 de março de 2020
dia 4,490 do Novo Mundo


Olá, eBrasileiros!

Sejam bem-vindos ao quadro mais assustador do Ministério da Cultura: A Hora do Medo. Nesse projeto compartilhamos com a população, histórias, lendas e contos de terror, sempre que possível correlacionando-o com algum elemento do folclore brasileiro.

Aproveitamos também para finalizar o governo King Dom Miguel O Vader e esperamos que tenham se divertido... ou tremido de medo!

Abraços da Equipe MdCult

Cidadão, acomode-se na sua poltrona, pegue sua caneca de chá, sintonize a rádio nas músicas de suspense, reduza as luzes do ambiente e venha conosco.


1965 - Sertão nordestino, interior do Ceará, meados de fevereiro.

Fechei os olhos e pude sentir uma sensação de nostalgia mas isso não fazia sentido algum já que sempre estive aqui e foi nesse ambiente em que estive todos os dias. O barulho das pedrinhas no chão em atrito com meu chinelo velho me causava uma sensação boa, aquele cheiro de mato me lembrava que eu estava em casa.


O barulho da conversa dos meus dois irmãos me trouxeram de volta pra realidade. Sou a mais velha, Antônio o mais novo e Dionísio o do meio. Todo fim de colheita nossos pais viajam pro centro da cidade para entregar encomendas e outros pedidos para os mercados que abastecem a região, as tarefas são sempre divididas igualmente entre nós. Temos o costume de acompanhar eles até o ponto de ônibus, que fica no final da estrada de terra que liga a nosso pequeno sítio, cerca de 3 quilômetros de caminhada.

Quando chegamos em casa já era escuro, no céu a lua nova iluminava parcialmente por isso acendemos as lamparinas, o cheiro do gás queimando o pavio adentrava a casa. No fogão de lenha era preparado um café forte que serviria para adoçar a boca após o jantar.

Lamparina: Recipiente de alumínio ou zinco, abastecidos de gás querosene, com um pavio feito de algodão.

A vida aqui é simples mas muito prazerosa, confiamos na natureza, sabemos que sempre nos dá a provisão por isso não tiramos mais do que precisamos para viver e para auxiliar outras pessoas.

Fomos pro alpendre (uma espécie de varanda que fica antes da entrada da casa), tomamos o café, os grãos torrados pelo meu pai era o diferencial parecia uma combinação perfeita para o açúcar, víamos de longe o local onde os animais dormiam, o chacoalhar das folhas e o vento frio era para nós o maior sinônimo de paz.


A quietude da rotina em que estávamos acostumados foi interrompida por um uivo agudo, afunilado, que realmente incomodou no mais íntimo das intuições de Antônio, o mais novo, que alertou:

- Isso não é sinal de coisa boa! Vamo entrar !
Dionísio retrucou:
- Realmente foi esquisito, mas tenha calma, num vamo deixá que o medo perturbe. Deve ter sido raposas.
Ester, a irmã mais velha pensou alto:
- Não recordo de raposa uivar, isso é ôta coisa. Mas por favor vamos continuar a conversa, tá cedo, não deve ta passando de oito hora.

E assim continuaram a conversa, falaram sobre as casas vizinhas, sobre as paqueras dos dias que iam na praça, sobre os bailes mas Ester não estava da mesma forma, tinha tentado acalmar os irmãos mas estava tensa, não parava de pensar no uivo que tinha ouvido e da sensação que os animais podiam estar em risco. Resolveu que tomaria uma atitude, interrompeu a conversa dos irmãos, pediu ajuda e foram em busca de pedaços de tábuas de madeira largadas pela propriedade, com pedaços de corda foram reforçando as portas de cada dormitório dos animais. Chegando onde as cabras dormiam finalizaram com sucesso o reforço de cada entrada. Estavam cansados, mas satisfeitos, independentemente de ter sido só uma sensação boba ou não, os animais estavam em segurança. Um pensamento passou pela cabeça de Dionísio:

‘’ E nós, será que estamos em segurança? ‘’

Não houve tempo de fazer a pergunta, a resposta estaria poucos metros atrás deles. Uma sensação avassaladora invadiu todos ao mesmo tempo, nenhuma palavra foi falada, mas todos viraram ao mesmo tempo, nada viram. Voltaram em direção a saída com a certeza de que algo apareceria em frente, mas nada.

Em fração de segundos o barulho de cascos pela parede foi tomando volume, ao levantar a luz da lamparina veio a imagem que os jovens talvez nunca fosse esquecer: Um ser com pés de anfíbio e braços humanoides envolto completamente por uma pele semelhante a de lagartos, andava pela parede fazendo desafiar o conceito de gravidade, num silêncio ensurdecedor.

A boca semi aberta revelava presas e uma língua envolta de espinhos, não tinha olhos, nem nariz, em lugar destes órgãos havia apenas a pele escamosa. Os meninos correram como nunca antes, sem entender o que estava acontecendo muito menos para onde iriam depois de sair da ala dos animais.


Ao sair da ala dos animais eles não sabiam o que fazer, pediram por uma intervenção sobrenatural, afinal se tinha algo pro mal, tinha que ter algo bom para defendê-los. Em meio ao desespero apareceu a figura de um homem já de idade avançada, baixinho, com um cachimbo na boca e um enorme chapéu, os pés descalços e as roupas simples de pescador cobriam a pele negra com suavidade. Com tranquilidade o homem levantou a mão, o ser que antes parecia incontrolável foi ficando quieto até que foi tocado e desapareceu. Todos os animais pareciam aflitos, cada um a seu modo emitiu sons. Os meninos estavam imóveis, atônitos e ao colocar a mão no peito o velhinho fez um sinal com o chapéu e desapareceu. Os animais parecia ter sido acalmados mas a vida daqueles meninos foi marcada para sempre por aquele momento, do medo surgiu agradecimento a aquele ser que nem sabia como chamar, mas que tinha salvado a vida deles naquela noite.


Autora do conto: The Woman
Autor do projeto A Hora do Medo: Zero Bone


Explicações Sobre a História

Chupa-cabra é uma suposta criatura responsável por ataques sistemáticos a animais rurais em regiões da América, como Porto Rico, Flórida, Nicarágua, Chile, México e Brasil. O nome da criatura deve-se à descoberta de várias cabras mortas em Porto Rico com marcas de dentadas no pescoço e o seu sangue drenado. Uma vez que não existem registos da sua real existência, o chupa-cabra é um elemento da criptozoologia.

Criptozoologia é o estudo de espécies animais lendárias, mitológicas, hipotéticas ou avistadas por poucas pessoas. Inclui também o estudo de ocorrências de animais presumivelmente extintos.



Então pessoal, é a primeira vez que escrevo um conto de suspense/terror e espero que tenham gostado da história. Fique a vontade pra comentar este artigo ou mandar uma mensagem privada, mas evite xingar pois fico triste e talvez o chupa cabra venha puxar o seu... pé. Abraços, The Woman.


Convidamos todos os eBrasileiros a participarem dos Meios Oficiais de Comunicação:

Discord : clique aqui
Telegram: clique aqui
Fórum Oficial do eBrasil: clique aqui
Página Oficial do Facebook: clique aqui