[Sterben4kk] A Democracia (curto)

Day 4,328, 06:16 Published in Portugal Portugal by Sterben4kk


Na nossa sociedade, quase que tratamos a democracia como se fosse uma deusa. Substituímos os ídolos e antigas crenças pagãs pela crença nos ideais que nos últimos três séculos têm vindo a sobrepor-se nos imaginários políticos da civilização ocidental, definindo-a de forma única e característica, com fortes inspirações na zona do Mediterrâneo, desde a fadada Lácio à Ática.
E assim, veneramos a democracia quase que cegamente. Falamos nas suas milhentas virtudes, nos direitos e deveres que nos concedem a liberdade e nos coloca, indiretamente (no caso ocidental moderno) ao leme dos destinos da nossa nação.
É atraente, não é? Imaginamos a Democracia como se fosse Afrodite e Atena mescladas. Atraente e sedutora, sábia e infinitamente graciosa, com a sua armadura, escudo e lança pronta a defender o Ocidente, pronta a defender a própria democracia.
No entanto, o modelo atual democrático não é sustentável. Não é desejável. Diria mais: todo o sistema político moderno é uma afronta a qualquer cidadão que se considere minimamente democrático, crente na liberdade e na justiça como a concebemos.

Peço-vos, portanto, introspeção. Consideram-se aptos a uma participação democrática?
Informados, cultos, sabedores do sistema, das suas consequências, vantagens e desvantagens. E mais, sabedores de leis, bem-aconselhados por outros tantos sabedores, pessoas que duvidam até das suas próprias cores e vertentes políticas.
Creio que, em grande parte, a maior parte do eleitorado, até eu que escrevo tal opinião e outros tantos interessados que a poderão ler por interesse puro e genuíno, falham esta categoria.
Com isto vem a falha, de que falei em anterior artigo, sobre o facto de todas as opiniões terem, em conceito geral e político, o mesmo valor intrínseco. Não sendo nós iguais, qual a justiça de o meu voto ter o mesmo valor de outro que saberá mais ou menos que eu? É neste clima de igualdade que se cria o grande problema do controlo das massas. Populismos apoiados por “políticos” (leia-se “oportunistas”) astutos, levam a uma desracionalização das bases votantes, utilizando argumentos de cariz emocional e poderosos, criando a sensação de um caminho certo para uma colossal base de apoiantes, mais facilmente ludibriados pelos mecanismos políticos. Nisto se inclui os famosos nacionalismos, entre outras ideologias marcadas para a “população comum”, a dita plebe, que muitas vezes é demonstrada como a força moralmente superior quando comparada com as elites ricas e/ou educadas, criando contrastes entre pseudogrupos sociais com base na sua riqueza e educação, retratando as elites como o inimigo, unitário, do povo, não muito diferente do bolchevismo. Claro que esta é uma definição extremamente genérica de um termo extremamente complexo, pelo que poderão perdoar qualquer imprecisão que tenha sido tomada de forma a melhorar o entendimento do ávido leitor.
Tal como, supostamente, terá defendido Sócrates (o filósofo [clássico e ateniense]), o povo escolherá sempre “O Vendedor de Doces”, nunca “O Médico”.
Mas, e porque motivo se deve dar ao povo o poder da escolha? Continuando na linha Socrática, qual a razão pela qual a escolha entre “um Passageiro” ou “um Capitão experiente” para controlar o navio, é sequer equacionado? Fará sentido, tendo em conta o óbvio problema que daqui poderá surgir, sobretudo se o tal “Passageiro” for carismático o suficiente?
E o que impede um populista nato, tal como Adolf Hitler, de conquistar a democracia e a destruir por dentro? Apenas um povo educado e ponderado. Assim, afirmo que um regime que não que se consegue defender a si mesmo, é um regime que não merece a sua existência.
Os estados modernos são demasiado grandes e complexos para albergar uma democracia do nosso género, o que apresenta os seus grandes problemas. Um sistema verdadeiramente democrático (direto e inclusivo), apenas pode existir numa sociedade ideal, esta que, na minha opinião, não deverá exceder o tamanho de uma cidade com dezenas de milhar de habitantes.

Acredito com magnânima certeza que o leitor discordará de mim. Com certeza semelhante, afirmo que a linha de pensamento será do género:
“Mas e as nossas liberdades?” (Serão essas liberdades sequer justificadas? Leiam novamente a parte sobre a introspeção)
“O eleitorado escolherá sempre o melhor para os seus próprios interesses…” (Leiam a parte sobre o populismo)
“Mesmo que seja um sistema imperfeito, é o melhor que temos. Os líderes estão nas nossas mãos, ao fim ao cabo.” (Leiam a parte sobre Adolf Hitler)
Se tiverem mais alguma dúvida das que eu não coloquei aqui, espero que me indiquem.

Reconheço a ironia de poder criticar o sistema democrático apenas porque este o permite. Se estivéssemos em ditadura, certamente não seria capaz de criticar a sua existência. E é, neste ponto, aquilo que mais amo sobre uma sociedade que permite a liberdade de expressão. Apesar de criticar duramente o voto popular, a liberdade de expressão é algo que valorizo como necessidade mais absoluta do cidadão, sobre qualquer circunstância. Não me tomem como ditatorial. Não me tomem como descrente. Tomem-me com um céptico natural cujas vacinas políticas foram administradas para tal ceticismo prático se tornar útil em determinada análise.
Ponderem no que vos disse. E depois, passem para o jogo. Perceberão o que quero dizer.

Bem haja a todos,
Sterben4kk



E como estou numa onda de Billie Eilish (Neo-Adolescente, provavelmente)

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