[Sterben4kk] A Democracia (curto)
Sterben4kk
Na nossa sociedade, quase que tratamos a democracia como se fosse uma deusa. Substituímos os ídolos e antigas crenças pagãs pela crença nos ideais que nos últimos três séculos têm vindo a sobrepor-se nos imaginários políticos da civilização ocidental, definindo-a de forma única e característica, com fortes inspirações na zona do Mediterrâneo, desde a fadada Lácio à Ática.
E assim, veneramos a democracia quase que cegamente. Falamos nas suas milhentas virtudes, nos direitos e deveres que nos concedem a liberdade e nos coloca, indiretamente (no caso ocidental moderno) ao leme dos destinos da nossa nação.
É atraente, não é? Imaginamos a Democracia como se fosse Afrodite e Atena mescladas. Atraente e sedutora, sábia e infinitamente graciosa, com a sua armadura, escudo e lança pronta a defender o Ocidente, pronta a defender a própria democracia.
No entanto, o modelo atual democrático não é sustentável. Não é desejável. Diria mais: todo o sistema político moderno é uma afronta a qualquer cidadão que se considere minimamente democrático, crente na liberdade e na justiça como a concebemos.
Peço-vos, portanto, introspeção. Consideram-se aptos a uma participação democrática?
Informados, cultos, sabedores do sistema, das suas consequências, vantagens e desvantagens. E mais, sabedores de leis, bem-aconselhados por outros tantos sabedores, pessoas que duvidam até das suas próprias cores e vertentes políticas.
Creio que, em grande parte, a maior parte do eleitorado, até eu que escrevo tal opinião e outros tantos interessados que a poderão ler por interesse puro e genuíno, falham esta categoria.
Com isto vem a falha, de que falei em anterior artigo, sobre o facto de todas as opiniões terem, em conceito geral e político, o mesmo valor intrínseco. Não sendo nós iguais, qual a justiça de o meu voto ter o mesmo valor de outro que saberá mais ou menos que eu? É neste clima de igualdade que se cria o grande problema do controlo das massas. Populismos apoiados por “políticos” (leia-se “oportunistas”) astutos, levam a uma desracionalização das bases votantes, utilizando argumentos de cariz emocional e poderosos, criando a sensação de um caminho certo para uma colossal base de apoiantes, mais facilmente ludibriados pelos mecanismos políticos. Nisto se inclui os famosos nacionalismos, entre outras ideologias marcadas para a “população comum”, a dita plebe, que muitas vezes é demonstrada como a força moralmente superior quando comparada com as elites ricas e/ou educadas, criando contrastes entre pseudogrupos sociais com base na sua riqueza e educação, retratando as elites como o inimigo, unitário, do povo, não muito diferente do bolchevismo. Claro que esta é uma definição extremamente genérica de um termo extremamente complexo, pelo que poderão perdoar qualquer imprecisão que tenha sido tomada de forma a melhorar o entendimento do ávido leitor.
Tal como, supostamente, terá defendido Sócrates (o filósofo [clássico e ateniense]), o povo escolherá sempre “O Vendedor de Doces”, nunca “O Médico”.
Mas, e porque motivo se deve dar ao povo o poder da escolha? Continuando na linha Socrática, qual a razão pela qual a escolha entre “um Passageiro” ou “um Capitão experiente” para controlar o navio, é sequer equacionado? Fará sentido, tendo em conta o óbvio problema que daqui poderá surgir, sobretudo se o tal “Passageiro” for carismático o suficiente?
E o que impede um populista nato, tal como Adolf Hitler, de conquistar a democracia e a destruir por dentro? Apenas um povo educado e ponderado. Assim, afirmo que um regime que não que se consegue defender a si mesmo, é um regime que não merece a sua existência.
Os estados modernos são demasiado grandes e complexos para albergar uma democracia do nosso género, o que apresenta os seus grandes problemas. Um sistema verdadeiramente democrático (direto e inclusivo), apenas pode existir numa sociedade ideal, esta que, na minha opinião, não deverá exceder o tamanho de uma cidade com dezenas de milhar de habitantes.
Acredito com magnânima certeza que o leitor discordará de mim. Com certeza semelhante, afirmo que a linha de pensamento será do género:
“Mas e as nossas liberdades?” (Serão essas liberdades sequer justificadas? Leiam novamente a parte sobre a introspeção)
“O eleitorado escolherá sempre o melhor para os seus próprios interesses…” (Leiam a parte sobre o populismo)
“Mesmo que seja um sistema imperfeito, é o melhor que temos. Os líderes estão nas nossas mãos, ao fim ao cabo.” (Leiam a parte sobre Adolf Hitler)
Se tiverem mais alguma dúvida das que eu não coloquei aqui, espero que me indiquem.
Reconheço a ironia de poder criticar o sistema democrático apenas porque este o permite. Se estivéssemos em ditadura, certamente não seria capaz de criticar a sua existência. E é, neste ponto, aquilo que mais amo sobre uma sociedade que permite a liberdade de expressão. Apesar de criticar duramente o voto popular, a liberdade de expressão é algo que valorizo como necessidade mais absoluta do cidadão, sobre qualquer circunstância. Não me tomem como ditatorial. Não me tomem como descrente. Tomem-me com um céptico natural cujas vacinas políticas foram administradas para tal ceticismo prático se tornar útil em determinada análise.
Ponderem no que vos disse. E depois, passem para o jogo. Perceberão o que quero dizer.
Bem haja a todos,
Sterben4kk
E como estou numa onda de Billie Eilish (Neo-Adolescente, provavelmente)
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Comments
O meu grande agradecimento à Catzii por ser sempre a minha editora e revisora oficial 😘
Para ti, sempre! ❤️
Tu partes do principio que as pessoas não sabem o que fazem e são burras.
Eu considero o povo soberano, discordo completamente com o tipo de sociedade e estado que temos em Portugal, sou mais adepto do modelo Suíço ou Holandês, mas entendo que a maior parte pessoas quer o país que nós temos.
Um estado paizinho, para quem olhar quando a vida corre mal (e em muitos casos olham para o estado como forma de subir na vida, através da politica).
É isso que o Português quer.
Não quer mais liberdade, não quer mais liberdade de escolha nas diferentes áreas da vida, querem que alguém lhes mande para onde ir e o que fazer.
Resumindo somos um povo manso mas que tem o que quer, pobres mas pelo menos temos quem mande em nós.
O artigo em defesa da Democracia virá mais tarde. Admitidamente, como disse à Catzii, faltou-me a vontade, mas dá-me um mesito ou dois 🙂
Sim senhor, Sr. Passos. Subiu um ponto na minha lista.
E acho que quem, como tu, convive diariamente, embora virtualmente comigo, saberá a minha opinião nesse aspeto.
Deixa de ser nerd e vai jogar Blades!
O meu tlm não dá... Quando sair para PC!
demasiado curto para o meu gosto 😃
É bem!
Óptima leitura para eleições a acontecer mas para nortear se queremos uma comunidade democrática ou autocrata.
Sou liberal e acredito verdadeiramente nas potencialidades da democracia. Não acredito exatamente no caso Português nem na nossa democracia em particular. Eventualmente virá artigo mais completo e complexo. Admito que este foi um rascunho que comecei a fazer à uns meses e depois parei, por falta de inspiração. Decidi adaptar o pouco que já tinha, mas provavelmente terei falhas 😃
E pics da Afrodite e Atena mescladas?
"No entanto, o modelo atual democrático não é sustentável. Não é desejável. Diria mais: todo o sistema político moderno é uma afronta a qualquer cidadão que se considere minimamente democrático, crente na liberdade e na justiça como a concebemos."
Não percebo o racional e não concordo sem mais informação.
"Não sendo nós iguais, qual a justiça de o meu voto ter o mesmo valor de outro que saberá mais ou menos que eu? "
Mas nós somos todos iguais - geneticamente somos os mesmos animais - eu não tenho mais direitos porque percebo de estística e tu percebes de ovelhas. Uma cultura democrática é uma cultura em que cada um é diferente e aceita ser influenciado na sua opinião pelas opiniões dos outros. O problema do populismo advêm da preguiça das respostas fáceis e a falta de humildade dos que tudo sabem. È uma fraqueza do modelo mas existem formas de mitigar essas fraquezas - quer na cultura que nos incutem no seio familiar/amigos, quer na escola.
Continuo a preferir que seja liderado em democracia por alguém com quem discordo do que liderado em autocracia por alguém com quem concordo.
"Não percebo o racional e não concordo sem mais informação."
Uma falha no raciocínio que advém do propósito original do artigo quando o comecei a escrever e que entretanto seguiu por caminho oposto.
A minha ideia, em suma (admitidamente abandonada), é que toda a democracia, por mais bem intencionada que o seja, é insustentável. Populismos, nacionalismo, ideologias anti-democráticas podem livremente florescer no seu meio. Obriga a uma cultura política excelente, e em particular em situações de melhoria económica e nos padrões de vida da classe média. Mas como disse, é uma via que decidi não seguir. E é aparente porquê.
"Mas nós somos todos iguais - geneticamente somos os mesmos animais - eu não tenho mais direitos porque percebo de estística e tu percebes de ovelhas. Uma cultura democrática é uma cultura em que cada um é diferente e aceita ser influenciado na sua opinião pelas opiniões dos outros. O problema do populismo advêm da preguiça das respostas fáceis e a falta de humildade dos que tudo sabem. È uma fraqueza do modelo mas existem formas de mitigar essas fraquezas - quer na cultura que nos incutem no seio familiar/amigos, quer na escola.
Continuo a preferir que seja liderado em democracia por alguém com quem discordo do que liderado em autocracia por alguém com quem concordo."
È algo que irei abordar no próximo artigo. Mas só daqui a meses!
Obrigado pela participação, aprendo sempre o7
Não recebi.... Para ler isto tudo
Democracia = direito de veto na ONU, é uma pena pois o nosso potencial esta lá...
Acontece que, segundo Merovigian, "escolha" é uma ilusão criada pelos que têm poder para manipular que não tem.
De maneiras que até num táxi ou num café já foi dito:
No dia em que as eleições mudem alguma coisa vão ser proibidas.
Não concordo nada com isto.
Tenho aqui um monte ideias para discutir sobre isto, mas estou sem paciência para escrever... pode ser que amanhã tenha um tempinho.
e moises chapadao de maconha perguntou a sarça que pegava fogo quem é voce?
a sarça respondeu: eu sou eu eu sou o que quiser ser eu sou o estado eu sou o CP eu sou o congresso eu sou a justiça eu sou JAVE deus de adao deus de enoque deus de noe deus de abraao deus de isaque deus de jaco deus dos pai de teus pais...
Mesmo na República burguesa mais Democrática, o destino do povo é na mesma a escravatura assalariada.
Qualquer que seja o Estado, e friso isto, qualquer Estado, é uma "força especial para a repressão" da classe oprimida. São ilusões filistinas os Estados livres/"mais" livres e do povo e oportunistas todos os que o pregam.
Fascista
És um monte de merda sem escrúpulos. Normal que este texto para ti tenha sido chinês.
Estás a insultar os montes de merda. E tens razão quanto ao chinês...
Este comuna devia ir para o Gulag passar uma temporada. Bastava um mesito, Janeiro ou Fevereiro, para eixar de venerar Stalin.
Mais um grande texto Sterben, faz um esforço para o próximo não ser apenas "daqui a uns meses" 😃
No entanto, gostaria de te ter visto a responder a este comentário em particular do Bokinski de outra forma "Mas nós somos todos iguais - geneticamente somos os mesmos animais - eu não tenho mais direitos porque percebo de estística e tu percebes de ovelhas.", expondo melhor a tua opinião em linha do que escreveste no artigo.
Li tudo e gostei.