[BdRA] O jardim das veredas que se bifurcam

Day 4,461, 18:13 Published in Brazil Argentina by Rick Adams


eBrasil, 06 de Fevereiro de 2020, eDia 4461 do Novo Mundo

Saudações caros leitores,

Após tanto tempo afastado, confesso o quão difícil foi escrever esse texto. Não por acaso, o começo é sempre muito tortuoso, esconde em si aquela velha agonia de não saber por onde começar, ou talvez pior, de não saber como prosseguir. Vejo que dei o primeiro passo, contudo, agora me vejo numa encruzilhada ainda mais obtusa, pois a minha frente, a cada nova palavra se multiplicam as possibilidades, evocando outros começos, em que – como escrevera Borges - “cada um é o ponto de partida de outras bifurcações” [1].

Dessa maneira, muito embora não seja novato no jogo e muito menos um iniciante na escrita, sinto como se estivesse fazendo tudo como se fosse a primeira vez e, de fato, “começar é poder conservar o olhar de Adão, logo, imediatamente, no segundo seguinte de haver mordido a maçã” [2], portanto, conservar o olhar virginal, de quem tendo visto a mesma coisa uma centena de milhares de vezes, consegue ainda surpreender-se com aquela vista familiar. Sinto-me neste labirinto do espaço-tempo, em que ocupando o lugar de sempre, já não reconheço os seus arredores.

De repente, as velhas memórias, fantasmas e outras coisas mais, desse querer e não-querer do passado, me arrebatam com força avassaladora. Agora, sobre o labirinto pairam as incertezas, os caminhos não tomados, os desfechos não vividos. Mas, afinal, quantos desfechos podem ter uma mesma história? Ora, infinitos... Pois não se descuida que existindo várias realidades possíveis, em cada uma delas as escolhas ditam finais inesperados. Hoje (e aqui) somos amigos, noutro tempo (e lugar) inimigos.

Aos que me conhecem, os caminhos que trilhei me levaram a um longo período de atuação dentro do Ministério das Comunicações, bem como a adotar uma posição moderada (politicamente falando), mas eu poderia ter feito carreira em outro ministério, ou ser um radical sanguinário como muitos optaram. Em vez de perder tempo com artigos e essas coisas que não agradam ninguém, perder tempo brigando, o que pelo menos animaria este tão grande auditório de gladiadores famintos. Assim não fiz, mas se tivesse feito? Só Deus saberá. Todavia, não me arrependo, penso que fiz as melhores escolhas, muito embora, possa não ter alcançado os melhores resultados. De qualquer modo, aqui estou de volta, portanto, nada está perdido. Se neste jardim cada vereda (escolha) esconde novas bifurcações (desfechos), mais do que nunca estou disposto a (re)começar, nesta mesma trama que me trouxe até aqui, me consumiu e agora revivo diante do inesperado, de mim, de tudo.

Aos que me acompanharam na antiga jornada, sejam novamente bem-vindos. Aos novos que ingressarem nesta cavalhada sertaneja, juntos então seguiremos este Rei desconhecido, o Rapaz-do-Cavalo-Branco [3].


REFERÊNCIAS:

[1] BORGES, Jorge Luis. Obras completas de Jorge Luis Borges. São Paulo: Globo, 1999, p. 80.

[2] WARAT, Luis Alberto. Territórios desconhecidos: a procura surrealista pelos lugares do abandono do sentido e da reconstrução da subjetividade. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004, p. 19.

[3] SUASSUNA, Ariano. Romance da pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017, passim.