Deserto da Política Nacional - As tristes eleições de janeiro

Day 776, 22:42 Published in Brazil Brazil by H00LIG2NS


EDITORIAL – O pitaco de hoje expressa estritamente a opinião pessoal deste jornalista

Mais uma vez, chega época de eleição no Brasil. Como sempre, os ânimos crescem, e a mídia transborda de mensagens de apoio e críticas, além do flood tradicional dos candidatos (sempre que há disputas acirradas).

Essa enorme movimentação na vida política do país não significa, no entanto, que estejamos em um momento de avanço de discussões, nem numa disputa real de projetos. Muito pelo contrário – me parece, infelizmente, que voltamos aos mesmos dilemas que nos atormentavam alguns meses atrás.

Pois é - estamos vivenciando um claro retrocesso político. Parece até mesmo que já vi acontecer a disputa atual, da “panela” contra a “renovação”. Um paradigma que nunca levou e nunca levará a nada. Será que um dia conseguiremos ir além, ou continuaremos neste eterno “déjà vu” tupiniquim?

O falso dilema: “panela” x “renovação”


Todos os governos são formados por pessoas com uma certa identidade pessoal, política ou ideológica. É da natureza de qualquer gestão bem-sucedida, já que sem unidade administrativa não é possível alcançar nada. Não existem “panelas”, o que existe são governos mais abertos ou fechados à participação e às opiniões de pessoas de fora do grupo de governo.

Grupos de governo, por sua vez, podem ser de caráter pessoal, partidário, ou ideológico. Alguns grupos têm uma mentalidade comum, mas não se concentram em nenhum partido específico: são formados através de relações pessoais. Outros são partidários: formam-se a partir de interesses comuns de um ou alguns partidos. Enfim, o importante é entender que esses grupos existem, sempre existiram e sempre existirão – estigmatizá-los de “panelas” não leva a nada, apenas cria um conceito pouco construtivo e quase pejorativo em relação a alguns, esquecendo que todos pertencemos, de alguma foram, a algum destes grupos.

O que signifca “renovação”? Apenas uma mudança no grupo de poder, só isso? A política nacional gira, portanto, apenas em torno de grupos de interesse que disputam e “revezam” o poder entre si, em conflitos eleitorais vazios?

Eu digo que não - renovação é mais do que isso. Renovação precisa ser mais do que isso. É trazer um novo projeto para o país, é propor novas maneiras de encarar nossos problemas, novas formas de organização, novas estruturas de poder e gestão. Renovar é inovar, renovar é re-criar, é trazer o novo, e não apenas dar cara nova ao velho.

O discurso da renovação é o discurso da construção, da ampliação de possibilidades, e não da disputa de poder.

Os candidatos


Acompanhei com atenção as propostas e equipes dos candidatos deste mês. Não posso esconder minha decepção com alguns, e surpresa com outros:

-Antonio salgado, “jazar”, o candidato da continuidade, não ofereceu nem mesmo a manutenção e melhoria das estruturas bem-sucedidas atuais (sistema de gestão das estatais criado que vem desde TexMurphy, estado-maior estruturado, etc.)

-Martel, que vem sendo proclamado porta-voz da “renovação”, não fez absolutamente nenhuma proposta renovadora; seu projeto não propõe nada de novo, apenas aquilo que inúmeros governos já fizeram ou quiseram fazer, a única diferença é que sua equipe tem nomes novos, ou seja, é um grupo diferente que tenta chegar ao poder, mas não é de forma alguma uma candidatura “renovadora”

-Suriat, o magabo, foi o único que elaborou um projeto realmente inovador, e nesse sentido, me impressionou. Suas propostas são abertas e ele se propõe a criar projetos que envolvam a todos, congresso, população em geral através de enquetes e consultas, e uma participação ativa de qualquer voluntário interessado com tempo disponível. Sua candidatura, portanto, se diferencia das outras duas por não ser um projeto de poder de um grupo específico, e sim uma proposta de organização nacional renovadora. Seu grande trunfo, no entanto, também é sua grande fraqueza: essa abertura extrema acabou deixando seu programa extremamente generalista, e sem nome nenhum para sua equipe. Apesar de interessante, acaba inspirando pouca confiança.

Perfil das Candidaturas


Suriat – a candidatura genérica

Quando li a candidatura de magabo, senti-me inicialmente disposto a apoiá-lo. Suas propostas são realmente inovadoras, e interessantes. O perfil do candidato, no entanto, deixou-me em dúvida da viabilidade de seu projeto. Magabo é conhecido por seu sarcasmo e críticas ferozes – a mídia e nosso fórum estão repletos de seus comentários rudes e pouco construtivos. Sempre direto ao ponto, suriat é um militar nato, “nu e cru”, e pouco político. Seu projeto de governo, no entanto, exigiria enorme capacidade de diálogo e mediação do Presidente (já que a equipe será formada por voluntários dispostos, haverá consultas populares sobre a atuação dos ministros, etc.). Tenho grandes dúvidas em relação a capacidade do candidato de cumprir essa função.

Além disso, o programa apresentado foi extremamente generalista e amplo. Falou muito pouco sobre ações concretas, e nesse aspecto, acaba deixando um enorme ponto de interrogação sobre o que seria do Brasil em janeiro.

Enfim, sua candidatura parece interessante, mas não gera nenhuma confiança.

Jazar – o retorno de Elma chips

Candidato anunciado já há algum tempo, Antonio salgado parece que deu pouca importância à construção de uma candidatura ampla. Com propostas muito concretas e sólidas, seu projeto é o da consolidação, e não da inovação. Os cargos do governo irão, em sua maioria, para personagens conhecidos e experientes, o que garante uma certa “certeza” sobre o bom andamento das funções básicas do governo.

A candidatura salgado, no entanto, não faz nenhum esforço para propor soluções inovadoras ou duradouras para o Brasil. Seu único objetivo parece ser manter as coisas andando bem durante um mês, e pronto. É a quase total ausência de projeto nacional, não há preocupação com os problemas de longo prazo que afligem nosso país, e muito menos com estimular novas lideranças que poderiam garantir contínua estabilidade ao país.

É uma candidatura que, sinceramente, anima muito pouco, especialmente depois de várias falhas cometidas neste mês em relação à política externa, pasta da qual Antonio Salgado é o mandatário. Pouca atenção à ALA e as falhas na Austrália são apenas alguns exemplos mais gritantes. Tendo sido uns dos mentores e principais defensores da campanha australiana, Elma Chips acaba pondo em dúvida sua própria capacidade de tomar decisões, o que abala sua candidatura extremamente personalizada (pouco focada em partidos).

Martel – a falsa renovação

Minha disposição inicial, nestas eleições, era de votar no candidato Martel. Tive o prazer de trabalhar com ele no ministério das relações exteriores, e ainda me lembro de seu interesse e disposição para exercer suas tarefas. Depois de acompanhar seus artigos da candidatura, no entanto, perdi meu entusiasmo – suas propostas foram incapazes de propor soluções inovadoras e diferentes, e seu projeto nacional, em geral, é pouco interessante. Acredito que faltou um pouco de preparação e maturidade para esta candidatura. Seu único diferencial é uma equipe diferente de governo, ou seja, novas caras para fazer a mesma coisa, com a desvantagem de colocar pessoas inexperientes em posições importantes (os únicos nomes realmente experientes de sua chapa são Gahnkaz e Nosrial Olem)

A candidatura Martel me parece, basicamente, um projeto partidário da União Brasileira para retornar ao poder máximo da nação. Isso não é uma crítica à UB, já que é mais do que natural que partidos tenham projetos de poder (e todos têm). É um projeto, no entanto, que não ganha meu entusiasmo, especialmente por repetir o discurso eleitoral vazio da última candidatura UBista, o da “renovação”, que foi amplamente utilizado (com sucesso) durante a candidatura Nosrial Olem.


O que fazer?


Diante de um deserto de opções animadoras para janeiro, sou obrigado aqui a colocar meu apoio à experiência. Não há, de verdade, nenhuma proposta de renovação concreta, nem nenhum projeto nacional que atenda amplamente as necessidades de longo prazo do Brasil. Sendo assim, o ideal é, ao menos, garantir que o Estado terá suas funções básicas bem-geridas, e que não entremos num cenário de incerteza política durante um período delicado de guerra mundial.

Não sou amigo, nem fã de Antônio Salgado, e muito menos faço parte da suposta “panela”. Os que acompanham as discussões do fórum sabem muito bem que minhas divergências com ele já até passaram dos limites da cordialidade em alguns momentos. Nestas eleições, no entanto, me sinto obrigado a apoiá-lo: não quero que o Brasil retorne ao caos administrativo, nem entre num período de instabilidade interna. Na ausência de alternativas concretas, Salgado é o único com o qual tenho certeza de que o Brasil continuará funcionando, apesar de não exatamente como eu gostaria que fosse.

Enfim, nestas eleições, não caia no discurso eleitoreiro vazio. Lembre-se que a gestão de um país exige muito mais que uma campanha bonita, e que “renovar por renovar” não significa nada.

Pessoalmente, estou decepcionado ao ver o retrocesso político do Brasil. Acho que isso mostra como estamos andando em círculos, e nos recusamos a avançar na política. As razões são muitas – ausência de projetos nacionais partidários, inexistência de discussão sobre projetos de longo prazo, incapacidade de construir e manter estruturas novas. É um tema longo, que merece um pitaco próprio.

Por enquanto, só posso dizer que jamais pensei que seria obrigado a escolher o candidato “menor pior”, mas é isso aí – em janeiro, o Brasil precisa de Elma Chips.

Boa sorte a todos, e boa sorte ao Brasil em janeiro. Quem sabe em fevereiro teremos eleições mais construtivas, com projetos estimulantes em disputa. O próprio Martel me parece ser uma das pessoas mais capazes de fazê-lo, pena que desperdiçou a oportunidade neste mês.