A bola do Paulo...

Day 4,369, 08:25 Published in Portugal Portugal by General Destroyer

Na minha infância tínhamos por hábito jogar futebol no rinque lá da praceta. Dali não saiu nenhum craque nem nenhum de nós tinha especial aptidão para o jogo da bola. Uns mais craques que outros, mas nada que deslumbrasse um qualquer olheiro que por ali passasse ao engano.
No nosso grupo, que enchia o rinque de barulho de manhã à noite nas férias de Verão tínhamos um amigo chamado Paulo. O Paulo era aquele tipo de miúdo que nasceu com dois pés esquerdos quadrados e que era quase sempre o último a ser escolhido e porque não havia mais ninguém.
O Paulo tinha outro problema, percebia tanto de futebol como a maioria de nós de agricultura biológica. Mas achava que era o futuro Paulo Futre a caminho do estrelato num qualquer estádio nacional.
De nada servia explicar ao Paulo que o futebol se jogava em equipa e que só combinando estratégia entre todos seria possível derrotar os adversários. O Paulo considerava-se o craque da equipa e sentia-se constantemente injustiçado por ser o último a ser escolhido e por quase todos o criticarem nas opções que tomava.
Aborrecido o Paulo tentou o derradeiro truque dos miúdos mimados: comprou uma bola nova, a bola oficial usada no Mundial de 90. Naquele mês de Agosto apareceu no rinque da praceta de bola debaixo do braço, reluzente, de sorriso nos lábios, como quem acabara de ganhar o título mais importante no mundo. Agora, na sua cabeça, o Paulo ia ser, de certeza, o primeiro a ser escolhido e, claro, iria ser a estrela dos jogos de verão na praceta.
O que o Paulo não esperava é que a maioria do pessoal se estava a borrifar para a bola nova e para os tiques de craque de um gajo que não percebia nada da bola. Não era uma questão de manter o status quo instalado. A malta não tinha era paciência para as lérias do Paulo e para a sua bola nova.