"Paranóias. Só podem ser paranóias.." - (ficção ?)

Day 678, 18:33 Published in Portugal Portugal by Equilibrium

Boas a tod@s,

Hoje, para variar, trago-vos uma história. Uma história sobre um cidadão, como eu ou qualquer um de vocês. Um cidadão trabalhador, honesto, dedicado e que pensava, ingenuamente talvez, que a sua postura correcta se reflectia também nas outras pessoas, dado que se ele era correcto e sem necessidade de mentir, os outros também o seriam.

Pensava..






Paranóias. Só podem ser paranóias.. por Equilibrium


Justin Case acordou, no que parecia ser mais um dia normal na sua eVida.

Como qualquer eCidadão que se preze, Justin Case levantou-se e foi trabalhar, treinar e lutar, tendo posteriormente recuperado a sua wellness através de uma deslocação ao hospital Q5 mais próximo.

Após conclusão destas actividades, Justin Case dedicou-se ao seu hobby, ler jornais, hábito que cultivava desde pouco depois de ter chegado à eRepública, numa tentativa de se manter sempre actualizado sobre o que se passava no restante ePlaneta.

"Deixa lá ver o que se passa hoje", pensou, enquanto se dirigiu ao quiosque mais próximo. Nessa curta distância, recordou-se de uma notícia lida no dia anterior, na qual um ex-traidor da sua ePátria, conhecido por ter tentado roubar os cofres do Estado e demonstrado que torcia pela vitória dos seus inimigos históricos, se defendia das acusações contra ele formuladas, dizendo que a sua identidade havia sido roubada e mantendo um diálogo (?) com o alegado ladrão.

Justin Case recebeu uma educação interessante. Foi educado para acreditar que roubar é incorrecto, e que como tal não deve ser opção para ninguém. Educado para acreditar que a Honra se sobrepõe à necessidade. Educado para ser bondoso. Tão educado e crente na bondade era que acabou por se tornar um pouco ingénuo. Curioso do comportamento humano, era também um daqueles picuinhas da ortografia, um grammar nazi, um chato por vezes.

Assim, enquanto se lembrava novamente da notícia mais chocante do dia anterior, pensava concretamente no pobre coitado cuja conta havia sido roubada, e na forma como a sua reputação havia sido enlameada por um indivíduo sem escrúpulos, sem respeito, sem.. Honra.

Ansioso por saber desenvolvimentos, comprou um exemplar do jornal do dito eCidadão.

Leu o artigo desse dia de uma ponta à outra. Nem queria acreditar. Então não é que o ladrão de identidades não só admitia o que tinha feito, como ainda dizia ter a intenção de manter e se aproveitar da identidade roubada ?

"Triste, não só lhe roubam a identidade e arruínam a reputação como ainda gozam com ele", pensou.

Ia colocar o jornal debaixo do braço e desenvolver a sua consternação sobre o caso, quando um pormenor lhe prendeu a atenção. Um erro ortográfico, quase insignificante, no artigo que tinha acabado de ler e que havia sido publicado, conforme já dito, pelo crudelíssimo ladrão de identidades.


Tamanho original

"Ah grande filh.. cabr.. estúp.. err.. mal-educadão, não só rouba identidades como ainda dá erros básicos de Português!"

Repentinamente, lembrou-se de ter lido que uma pessoa que comete o mesmo erro ortográfico durante muito tempo, tem sempre dificuldade, mesmo quando alertada, em não o cometer novamente. Porque a escrita é um hábito, que vem de cedo. Se eu passar 10 meses a escrever "batáta" em vez de "batata" e for alertado sobre isso, certamente que das próximas 10 vezes que o escrever, em quatro ou cinco sairá "batáta" na mesma.

"Mas espera.. sabendo disto, posso tentar ajudar o pobre miserável a demonstrar que fala a Verdade! Preciso apenas de analisar os seus artigos anteriores, assumidos como seus, e demonstrar que escreve de maneira diferente!"

Chegou a casa e foi buscar todos os artigos que guardava do dito jornal.

Primeiro um de há 12 dias atrás:


Tamanho original

Depois um com 16 dias:


Tamanho original

Outro, de há 30 dias:


Tamanho original

Mais um, há um mês e pouco:


Tamanho original


Justin Case não queria acreditar no que os seus olhos viam. Segundo o que só agora observava, isso significaria que o ladrão e o pobre coitado eram UMA E A MESMA PESSOA !!

"Não pode ser, se ele diz que é inocente é porque é, se eu não mentiria por isso ele também não o pode ter feito. Será que o ladrão já lhe tinha roubado a conta há um mês atrás? Só há uma forma de saber.. ler um dos seus artigos mais antigos, dos primeiros mesmo, do tempo em que os eEspanhóis tentavam anexar ePortugal.. do mesmo tempo em que o coitado os ajudava".

Artigo com 10 meses:


Tamanho original


...


Chocado com o que acabara de descobrir, pesou o sucedido. De um lado, tinha a sua educação, "treinado" para acreditar na bondade e na Honra. Do outro, os aparentes "factos". Se acreditasse nos "factos", isso significaria que a sua educação era uma farsa, uma pintura colorida desadequada a um mundo negro.


Justin Case juntou todos os jornais. Sentou-se na sala, acendeu a lareira, encheu um copo de whisky, acendeu um cigarro.

E pensou, enquanto fumava e via os jornais a arder:

"Paranóias. Só podem ser paranóias.."


'té manhã,

Equilibrium