The day the Portuguese community died – A tale of eRepublik and its ongoing battle to destroy everything that made it different

Day 2,765, 07:48 Published in Portugal Portugal by John Bokinski
Introdução

Tinha prometido a mim mesmo não perder mais tempo com o jogo. Existem tantas coisas para fazer num dia de Santo António (nem que seja recuperar do dia anterior). No entanto quando vejo o estado actual da nossa comunidade há algo que me leva a escrever, mesmo que seja o seu epitáfio.

Sinto que os nossos jogadores vivem naquela ilusão que as coisas não estão bem mas ainda existe esperança, que ainda se pode recuperar e voltar a ter uma comunidade vibrante como foi nos primeiros anos, ou pelo menos aguerrida como foi a espaços, nos anos seguintes. Mas tudo isto é apenas uma das fases do processo, a fase da negação, a aceitação virá mais tarde. A comunidade portuguesa que jogou este jogo durante 7 anos e que jogou este jogo como ele foi criado, ou seja, uma comunidade com cidadãos activos que cobria actividades políticas, sociais, económicas e militares morreu – paz à sua alma.

Dos escombros da comunidade algo surgirá, algo diferente da comunidade que existia, algo que se adapta melhor ao jogo actual cujo o único objectivo é promover o investimento monetário por parte de cada jogador por forma a aumentar o dano que é capaz de fazer em campo de batalha. O eRepublik passou a ser um jogo de guerra em que a posse dos “países” é vendido aos jogadores que tenham capacidade/vontade financeira para pagar pelo seu controlo, mas por muito rentável que seja esta fase (para os donos do jogo), a perda total da noção de comunidade originada pelas ditaduras, matou a alma do jogo, algo que levará, na minha opinião, ao desaparecimento do jogo num espaço não superior a 3 anos.

Como se mata uma comunidade

Uma comunidade não é algo fácil de matar. Durante anos a comunidade portuguesa subsistiu a ataques de diversos adversários no jogo, com prevalência para a comunidade espanhola, para nos quebrar o espírito e fazer dispersar. Mas mesmo 6 meses sem territórios não nos destruíram, a nossa destruição fez-se às nossas mãos com as armas que o jogo colocou à nossa disposição.

Uma comunidade não morre enquanto se mantêm unida, mesmo que o seu número de cidadãos diminua. Uma comunidade morre quando as divergências dentro da comunidade se tornam tão irreconciliáveis que os membros da comunidade que asseguravam a sua coesão, desaparecem ou unem-se a um dos grupos em confronto. Todas as comunidades têm elementos desestabilizadores e mobilizadores, é fundamental para o progresso que haja desafio mas é fundamental para a sobrevivência da comunidade que a coesão seja mantida, mesmo que exista instabilidade por momentos.

A comunidade portuguesa durante os mais de 7 anos que leva de jogo sempre teve fases de maior e menor união. Quem conheceu a primeira fase da comunidade, quando a comunidade criava planos económicos para enriquecimento do estado, criava normativos de vivência em sociedade como a Constituição Portuguesa entre muitas outras coisas, podia ver que existia uma dinâmica criativa, que por vezes também originava crises, mas entre os elementos fomentadores da união e o mérito dos próprios planos, sempre se encontrava formas de manter coesão e avançar com ideias e acções.

É óbvio que muitos dos momentos de união e fortalecimento estão também ligados à guerra, sobretudo às invasões do nosso território, no entanto, gosto sempre de salientar que houve momentos de grande dinamismo da nossa comunidade que nada tiveram a ver com a guerra, tiveram a ver com actividade criativa, política, económica e social. Foi nesta altura que Portugal chegou ao Top10 do eRepublik em população, algo que nunca voltámos a atingir (se esquecermos um babyboom massivo que durou 1 mês). A nossa capacidade de criar estruturas sociais foi uma característica do início do jogo mas continuou em outros momentos (eRep 4 noobs, etc).

A comunidade portuguesa apesar de sempre ter tido divergências, sempre teve um centro em que gravitavam muitos jogadores antigos que estabelecia a coesão. Momentos mais radicais eram ultrapassados com alguma facilidade porque existia sempre uma maioria da população, muitas vezes pouco vocal que mantinha a comunidade equilibrada. Mas o jogo foi-se alterando, à medida que o erepublik investia em tornar o módulo militar mais capaz na absorção de dinheiro aos jogadores e a única fonte de interesse do jogo. Foram feitas alterações ao módulo económico para tornar o módulo menos rentável para os jogadores e totalmente impossível de interessar a novos jogadores, e os restantes módulos foram deixados ao abandono.

Isto levou a que o perfil dos novos jogadores que ficavam no jogo fosse bastante diferente dos jogadores do passado. É claro que existiam jogadores que se mantinha no jogo pelo módulo militar mas que também procuravam ter actividades complementares, mas aos poucos o conceito de unidade militar foi ultrapassando os partidos como foco de concentração de jogadores e muitas vezes ultrapassando também o próprio país.

À medida que isto aconteceu, os jogadores do “bloco central” foram diminuindo e a capacidade de manter a comunidade focada em temas comuns diminuiu. O interesse político desapareceu, a criação de estruturas para acompanhamento e desenvolvimentos dos cidadãos desapareceu e a única preocupação dos novos governos era garantir o divertimento dos cidadãos que sistematicamente envolvia criar uma guerra qualquer com alguém por mais absurda que a guerra fosse. O módulo económico desapareceu e os media deixaram de ter coisas que valiam a pena ler, para contar quase exclusivamente com artigos de malta extremista a criticar alguém ou grupos de jogadores. O módulo de media como o tínhamos conhecido desapareceu por falta de conteúdo.

Mas todas estas coisas aconteceram em toda a parte do eRepublik, Portugal não era muito diferente de outros países. A comunidade portuguesa apesar de todas as limitações impostas pelo jogo, ainda existia, adormecida mas ainda existia e quando era necessário defender o território a mobilização acontecia.

Por razões que julgo terem a ver com a miopia de curto prazo que há anos a eRepublik Labs demonstra, decidiu-se acabar com o módulo político. A ideia do módulo da ditadura era simples, a guerra anda desequilibrada e o dinheiro gasto na guerra convencional anda a baixar, então vamos fazer com que os países se guerreiem a si próprios. Os jogadores com mais dinheiro comprarão o direito de dominar o país e com um pouco de sorte os restantes irão se revoltar e garante-se uma guerra recorrente dentro do país que pode gerar bom dinheiro. É óbvio que com o módulo de ditadura acaba-se com o módulo político, mas a realidade é que o módulo político contribuía em zero para os cofres da eRepublik Labs. É óbvio que quem compra os países podem ser cidadãos de outros países e a noção de país e comunidade de um país vai aos poucos desaparecer. Tudo isso era óbvio mas o dinheiro a ganhar no curto prazo foi mais importante.

Muitas comunidades abordaram o tema da ditadura fazendo ditaduras defensivas de forma a evitar que uma ditadura imposta por elementos contrários aos interesses da comunidade do país tivesse oportunidade de lançar o golpe. Mas estas medidas apenas adiam o problema, o risco mantêm-se latente.

A comunidade portuguesa achou que não havia necessidade de uma ditadura defensiva porque confiou que o tradicional centro da sua comunidade a defenderia dos maiores riscos, mas enganou-se. O centro estava a desaparecer, e quando por razões absurdas alguém achou que estava aberta a oportunidade para instituir uma ditadura que não era desejada pela maioria dos jogadores, a comunidade estilhaçou-se. O jogadores que no passado promoveriam a coesão, ou já não existia, ou sentiram-se alienados pelo absurdo da situação e nada fizeram.
Foi este o dia em que a comunidade portuguesa morreu. Uma morte inesperada e para muitos desnecessária.

Não sei se foi a primeira comunidade o morrer desta forma, provavelmente não, mas adivinho que será parte de uma longa lista.

This is the end

Poderia falar de caminhos para o renascimento das cinzas da comunidade portuguesa mas não vou fazê-lo porque não acredito neles. As últimas 6-7 semanas do jogo tornam evidente a razão da minha descrença.

Acredito que quem lançou a ditadura (a inicial, a segunda é só uma consequência da morte da comunidade) não previa o impacto que ela teria na comunidade. No entanto, depois de ver o estrago poderia ter existido um assumir das responsabilidades. Mas se na vida real já é para muitos complicado assumir erros, na vida virtual poucos têm o discernimento de o fazer. A inexistência de um grupo significativo de jogadores que promova a coesão vai facilitar que as posições dos jogadores que continuam no jogo se continuem a extremar e que mais e mais jogadores deixem o jogo ou procurem fazer o jogo noutra comunidade.

O que sobrar não será a comunidade portuguesa, será uma caricatura.

ps - isto foi escrito no passado sábado, qualquer inconsistência temporal, peço desculpa

ps2 - a referência à canção do Don Mclean é uma piada seca, porque a canção não tem nada a ver com o artigo.

Bom jogo a todos