The day the Portuguese community died – A tale of eRepublik and its ongoing battle to destroy everything that made it different
John Bokinski
Tinha prometido a mim mesmo não perder mais tempo com o jogo. Existem tantas coisas para fazer num dia de Santo António (nem que seja recuperar do dia anterior). No entanto quando vejo o estado actual da nossa comunidade há algo que me leva a escrever, mesmo que seja o seu epitáfio.
Sinto que os nossos jogadores vivem naquela ilusão que as coisas não estão bem mas ainda existe esperança, que ainda se pode recuperar e voltar a ter uma comunidade vibrante como foi nos primeiros anos, ou pelo menos aguerrida como foi a espaços, nos anos seguintes. Mas tudo isto é apenas uma das fases do processo, a fase da negação, a aceitação virá mais tarde. A comunidade portuguesa que jogou este jogo durante 7 anos e que jogou este jogo como ele foi criado, ou seja, uma comunidade com cidadãos activos que cobria actividades políticas, sociais, económicas e militares morreu – paz à sua alma.
Dos escombros da comunidade algo surgirá, algo diferente da comunidade que existia, algo que se adapta melhor ao jogo actual cujo o único objectivo é promover o investimento monetário por parte de cada jogador por forma a aumentar o dano que é capaz de fazer em campo de batalha. O eRepublik passou a ser um jogo de guerra em que a posse dos “países” é vendido aos jogadores que tenham capacidade/vontade financeira para pagar pelo seu controlo, mas por muito rentável que seja esta fase (para os donos do jogo), a perda total da noção de comunidade originada pelas ditaduras, matou a alma do jogo, algo que levará, na minha opinião, ao desaparecimento do jogo num espaço não superior a 3 anos.
Como se mata uma comunidade
Uma comunidade não é algo fácil de matar. Durante anos a comunidade portuguesa subsistiu a ataques de diversos adversários no jogo, com prevalência para a comunidade espanhola, para nos quebrar o espírito e fazer dispersar. Mas mesmo 6 meses sem territórios não nos destruíram, a nossa destruição fez-se às nossas mãos com as armas que o jogo colocou à nossa disposição.
Uma comunidade não morre enquanto se mantêm unida, mesmo que o seu número de cidadãos diminua. Uma comunidade morre quando as divergências dentro da comunidade se tornam tão irreconciliáveis que os membros da comunidade que asseguravam a sua coesão, desaparecem ou unem-se a um dos grupos em confronto. Todas as comunidades têm elementos desestabilizadores e mobilizadores, é fundamental para o progresso que haja desafio mas é fundamental para a sobrevivência da comunidade que a coesão seja mantida, mesmo que exista instabilidade por momentos.
A comunidade portuguesa durante os mais de 7 anos que leva de jogo sempre teve fases de maior e menor união. Quem conheceu a primeira fase da comunidade, quando a comunidade criava planos económicos para enriquecimento do estado, criava normativos de vivência em sociedade como a Constituição Portuguesa entre muitas outras coisas, podia ver que existia uma dinâmica criativa, que por vezes também originava crises, mas entre os elementos fomentadores da união e o mérito dos próprios planos, sempre se encontrava formas de manter coesão e avançar com ideias e acções.
É óbvio que muitos dos momentos de união e fortalecimento estão também ligados à guerra, sobretudo às invasões do nosso território, no entanto, gosto sempre de salientar que houve momentos de grande dinamismo da nossa comunidade que nada tiveram a ver com a guerra, tiveram a ver com actividade criativa, política, económica e social. Foi nesta altura que Portugal chegou ao Top10 do eRepublik em população, algo que nunca voltámos a atingir (se esquecermos um babyboom massivo que durou 1 mês). A nossa capacidade de criar estruturas sociais foi uma característica do início do jogo mas continuou em outros momentos (eRep 4 noobs, etc).
A comunidade portuguesa apesar de sempre ter tido divergências, sempre teve um centro em que gravitavam muitos jogadores antigos que estabelecia a coesão. Momentos mais radicais eram ultrapassados com alguma facilidade porque existia sempre uma maioria da população, muitas vezes pouco vocal que mantinha a comunidade equilibrada. Mas o jogo foi-se alterando, à medida que o erepublik investia em tornar o módulo militar mais capaz na absorção de dinheiro aos jogadores e a única fonte de interesse do jogo. Foram feitas alterações ao módulo económico para tornar o módulo menos rentável para os jogadores e totalmente impossível de interessar a novos jogadores, e os restantes módulos foram deixados ao abandono.
Isto levou a que o perfil dos novos jogadores que ficavam no jogo fosse bastante diferente dos jogadores do passado. É claro que existiam jogadores que se mantinha no jogo pelo módulo militar mas que também procuravam ter actividades complementares, mas aos poucos o conceito de unidade militar foi ultrapassando os partidos como foco de concentração de jogadores e muitas vezes ultrapassando também o próprio país.
À medida que isto aconteceu, os jogadores do “bloco central” foram diminuindo e a capacidade de manter a comunidade focada em temas comuns diminuiu. O interesse político desapareceu, a criação de estruturas para acompanhamento e desenvolvimentos dos cidadãos desapareceu e a única preocupação dos novos governos era garantir o divertimento dos cidadãos que sistematicamente envolvia criar uma guerra qualquer com alguém por mais absurda que a guerra fosse. O módulo económico desapareceu e os media deixaram de ter coisas que valiam a pena ler, para contar quase exclusivamente com artigos de malta extremista a criticar alguém ou grupos de jogadores. O módulo de media como o tínhamos conhecido desapareceu por falta de conteúdo.
Mas todas estas coisas aconteceram em toda a parte do eRepublik, Portugal não era muito diferente de outros países. A comunidade portuguesa apesar de todas as limitações impostas pelo jogo, ainda existia, adormecida mas ainda existia e quando era necessário defender o território a mobilização acontecia.
Por razões que julgo terem a ver com a miopia de curto prazo que há anos a eRepublik Labs demonstra, decidiu-se acabar com o módulo político. A ideia do módulo da ditadura era simples, a guerra anda desequilibrada e o dinheiro gasto na guerra convencional anda a baixar, então vamos fazer com que os países se guerreiem a si próprios. Os jogadores com mais dinheiro comprarão o direito de dominar o país e com um pouco de sorte os restantes irão se revoltar e garante-se uma guerra recorrente dentro do país que pode gerar bom dinheiro. É óbvio que com o módulo de ditadura acaba-se com o módulo político, mas a realidade é que o módulo político contribuía em zero para os cofres da eRepublik Labs. É óbvio que quem compra os países podem ser cidadãos de outros países e a noção de país e comunidade de um país vai aos poucos desaparecer. Tudo isso era óbvio mas o dinheiro a ganhar no curto prazo foi mais importante.
Muitas comunidades abordaram o tema da ditadura fazendo ditaduras defensivas de forma a evitar que uma ditadura imposta por elementos contrários aos interesses da comunidade do país tivesse oportunidade de lançar o golpe. Mas estas medidas apenas adiam o problema, o risco mantêm-se latente.
A comunidade portuguesa achou que não havia necessidade de uma ditadura defensiva porque confiou que o tradicional centro da sua comunidade a defenderia dos maiores riscos, mas enganou-se. O centro estava a desaparecer, e quando por razões absurdas alguém achou que estava aberta a oportunidade para instituir uma ditadura que não era desejada pela maioria dos jogadores, a comunidade estilhaçou-se. O jogadores que no passado promoveriam a coesão, ou já não existia, ou sentiram-se alienados pelo absurdo da situação e nada fizeram.
Foi este o dia em que a comunidade portuguesa morreu. Uma morte inesperada e para muitos desnecessária.
Não sei se foi a primeira comunidade o morrer desta forma, provavelmente não, mas adivinho que será parte de uma longa lista.
This is the end
Poderia falar de caminhos para o renascimento das cinzas da comunidade portuguesa mas não vou fazê-lo porque não acredito neles. As últimas 6-7 semanas do jogo tornam evidente a razão da minha descrença.
Acredito que quem lançou a ditadura (a inicial, a segunda é só uma consequência da morte da comunidade) não previa o impacto que ela teria na comunidade. No entanto, depois de ver o estrago poderia ter existido um assumir das responsabilidades. Mas se na vida real já é para muitos complicado assumir erros, na vida virtual poucos têm o discernimento de o fazer. A inexistência de um grupo significativo de jogadores que promova a coesão vai facilitar que as posições dos jogadores que continuam no jogo se continuem a extremar e que mais e mais jogadores deixem o jogo ou procurem fazer o jogo noutra comunidade.
O que sobrar não será a comunidade portuguesa, será uma caricatura.
ps - isto foi escrito no passado sábado, qualquer inconsistência temporal, peço desculpa
ps2 - a referência à canção do Don Mclean é uma piada seca, porque a canção não tem nada a ver com o artigo.
Bom jogo a todos
Comments
Excelente Artigo!
Votado!
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Mas voto na mesma. A comunidade morreu há faz tempo.
Excelente
V
"... poderia ter existido um assumir das responsabilidades ..."
Sempre disse q era o 1° passo necessário.
Infelizmente, esse atitude adulta e honrosa é algo q não é disponibilizada pelos packs do tio plato.
verdade texou tbm merecias 1 pack desses...
Darwin já dizia que os mais aptos sobrevivem às adversidades da evolução. Isto aplica-se à comunidade e aos jogadores. Muitos jogadores abandoram o jogo e/ou a comunidade porque não estavam aptos para a mudança.
mas nessas comunidades existe sempre novos elementos que continuam a entrar.... coisa que neste jogo não acontece
Evolução ou regressão??!!
O problema é que o erepublik não é "evolução", é "design 'inteligente' " (sic). Há um "deus" (ou melhor, um diabo) que é capaz de alterar as regras da realidade a seu bel-prazer. Há uma "causa final", um objetivo para as mudanças (no caso, maximizar o lucro de curto prazo do plato), ao contrário da evolução darwinista, na qual apenas os elementos (os genes no darwinismo e no nosso caso os jogadores) e não a força evolucionária em si possuem objetivos. Ao contrário das determinísticas forças da natureza, os desejos do plato podem ser alterados.
I.e.,, não é uma "evolução" natural e inevitável, e sim uma "evolução" forçada causada pelo plato para ganhar alguns trocados com um jogo que já estava perdendo receita desde as mancadas de alterações anteriores.
Sim, mas esqueceste-te da outra parte da teoria, aquela que fala da extinção...
Fantástico como sempre. Obrigado.
uma coisa que acho que talvez tenha razão é o reset de força todos os anos\meses... mantia a comunidade mais equilibrada... mas depois existe o problema dos ranks serem influenciados pelo dano... enfim... o jogo foi formulado de uma maneira pois coesa
*maneira pouco coesa*
Votado...
Um bom artigo, que descreve a realidade actual de forma ponderada. Gostei.
Caramba, poucas vezes li um artigo tão bom nesse jogo, e que capta perfeitamente o que está acontecendo. Votadíssimo!
Excelente leitura da erealidade. Entrámos em esuicídio assistido pelas ditaduras.
Votado
boa escrita boas opinioes mas mesmo assim penso como no comentario acima do elvi muitos nao percebem bem k as coisas nao estavam bem nem tinham forma de mudar, os egos sao altos quer de 1 lado quer do outro e a mama nao pode acabar para uns (sem visa) e os outros com visa continuam a fazer o que bem lhes entendem (isto de ambos os lados) a comunidade nao tem que morrer a comunidade como qualquer outra so tem que aprender, emendar,remendar e crescer, muitas vezes ja foram destruidas a comunidade e a uniao da mesma e ela voltou sempre a unir se so é pena mesmo os egos de certas e determinadas pessoas e os desejos de poder de certos elementos (em ambas as partes)
votado,
falta mencionar que existe membros anti comunidade,
basta ver o meu penultimo artigo como certos membros tratam os outros jogadores.
Alias, a comunidade nao sao os teus artigos lindos,
sao as acoes do dia a dia dos membros em geral.
Vou para os PORRADA, mas se continuar a ver membros como vi no Ministerio da Magia,
deixo de jogar este jogo, pois nao valera apena.
O teu problema é a tua atitude...
v
John,
Obrigado pela tua excelente análise, uma vez mais - pese embora te contradigas na medida em que os Media não morrem com artigos como este 😉
Por outro lado, a sociedade já vinha sendo destruída pela realidade mutável do jogo em si, que evolui na busca dos euros.
Porém, se tens razão que a sociedade se estilhaçou na 1ª Ditadura, por outro lado a 2ª Ditadura prova que também não é tanto assim - pela rápida oposição que tiveste....
Obviamente que o mal está feito, mas como todos os Portugueses na RL, compete-nos agora adaptar às novas realidades....os que por cá vão ficando 😉
Eu procurei separar entre o que é a redução da actividade da comunidade por um conjunto amplo de razões, mas cujo impacto mais significativo atribuo à própria mecânica do jogo, com a criação de diferenças irreconciliaveis entre grupos alargados da comunidade. Considero que é o segundo evento que verdadeiramente mata a comunidade.
Eu vejo a segunda ditadura como uma parte do processo de radicalização das partes. A acção e a reacção em nada contribuem para resolver o problema de fundo e procura de auto-justificações para as acções também não. Como tu dizes "o mal está feito" é esse o meu "punch line" há coisas que uma vez feitas não existe passo atrás.
Eu não me adapto à evolução de forma consciente, não por incapacidade. Não concordo com a forma como o eRep Labs procura incitar-me a jogar o jogo e recuso-me a fazer o que eles querem que eu faça. Hiberno até melhores verões ou até ao fim do jogo.
Não vou pôr em causa nada do que disseste.
Mas jogo a isto quase há um ano, e desde que entrei que muitos apregoam que o jogo está a chegar ao fim.
Esses mesmo queixam-se que não há renovação da população, e que os novos jogadores não se mantêm no jogo.
Não serão estes arautos da desgraça que estão a desmotivar e afastar os novos jogadores?
Num jogo em que depressa se percebe que para se ter alguma influência é preciso passar meses ou anos de treino assíduo, qual é a motivação para alguém cá ficar se lhe dizem que não vai ter tempo para ser ninguém de jeito?
Eu fiquei porque sou um teimoso casmurro, que só acredita no que vê, mas se calhar, outros mais inteligentes acharam que não valia a pena cá ficar só para assistir ao final.
Resumindo, porque isto já vai mais longo que o artigo em si, acho que deviam parar de anunciar o fim do eMundo, e começar a incentivar os novos jogadores a ficarem por cá e dar-lhes confiança que um dia poderão ser alguém influente no eRepublik.
Eu sei que comentei o teu artigo muito de raspão, mas há muito tempo que tinha isto atravessado.
O jogo sofreu muitas alterações e a esmagadora maioria foram para pior desde que jogo e única que encontro positiva na económica e política foi a forma como se elege os Congressistas em listas únicas e nacionais todas as que existiram e foram muitas que vivi nestes 4 anos foram incompreensíveis.
Se virmos os dados de população tem diminuído, a forma para mim mais correcta de sabermos quem está activo, em séries longas, é ver quem vota e eu há uns meses tirei uns dados para um artigo que nunca saiu, quem sabe um dia o faça.
http://prntscr.com/7i7v9o
O jogo está a perder jogadores, dinâmica e ano menos ano irá ser insignificante se não for nada feito. Esta obsessão pela vertente militar em detrimento das outras é a causa da morte, o que diferenciava de outros jogos deixou de ser diferente, passou a ser mais um.
Votado.
Excelente artigo! Parabéns!
Votado
375PTE angariados para o Bro-kinski comprar um traje branco e uma navalha para o sepukku.
500PTE e aluga-se o pavilhão do centro de dia para um bailarico minhoto com comes e bebes para nos despedirmos do John Muralha Bokinsi
750PTE e contratamos cidadãs de leste para um mega bacanal junto à campa
O que tu queres sei eu
pinar
Votado
Não poderia estar mais de acordo contigo John, pena é que os estragos que foram feitos, não os consigam entender, pelo menos neste momento, pois ainda acham que isto se consegue compor.
Eu com quem tenho falado, tenho dito isso mesmo, que ou admitiam o erro e se voltava a reunir e a reagrupar, mantendo o mínimo de coesão da comunidade, ou então, a fragmentação e a desistência só tem tendência a aumentar, e da comunidade vir a desaparecer, ou como dizes, ficar a tal "caricatura".
É pena, mas é o que temos, e se até aqui ainda existia quem se dedicasse, nem que fosse a espaços, a tentar fazer algo positivo, daqui em diante, a tendência será de cada vez menos isso acontecer, e de PT se gladiar mais internamente, do que propriamente em objectivos comuns virados para o exterior.
Gostava de estar enganado nesta análise, mas temo que não esteja, infelizmente. O tempo encarregar-se-á de nos mostrar realmente os estragos que foram feitos. 😉))