O MEDO DE PERDER O BRASIL

Day 1,501, 06:34 Published in Brazil Cuba by Greywacke
EXPLICAÇÃO:

Estou lendo um livro muito interessante.

Muito complicado, mas muito interessante.

Ele se inicia com a seguinte citação:
“Uma nação [...] é um grupo de pessoas unidas por um erro comum em relação a seus ancestrasis e uma aversão comum em relação a seus vizinhos.”
(Deutsch, K.W. – Nationalism and Its Alternatives, 1969)

Um dos assuntos, não o principal, mas a espinha dorsal do livro, é a questão das nações e dos nacionalismos, e de como estes foram inventados.





Não se trata de uma novidade, é uma coisa de que já ouvimos falar por várias fontes e em vários contextos distintos: Há grupos que fazem uso de um discurso nacionalista (e as questões de etnia e religião são parte do nacional) para se perpetuar no poder e eliminar qualquer voz discordante ou diferente demais.

(“pero permitame amigo,
fijarme como lo doy,
que un señor abanderado
tambiem pude ser traidor...”)



Na verdade é um fato que é tão velho quanto as próprias nações.



A SITUAÇÃO DO E-BRASIL:

O pânico se instalou em função de um cidadão de outro país que não o Brasil na R.L. ter, primeiro ter obtido cidadania, depois ter aberto um partido que chegou ao TOP 5, e depois que consegui candidatar-se por um partido tradicional brasileiro e, finalmente, ter sido eleito (aliás, como o segundo candidato mais votado!).





Todo esse pânico em nome do que? Com medo de que?

Da perda de uma “identidade” nacional?

Da contaminação de nossa “pureza étnica”?



Irônico:
Brasil (R.L.),portos, porteiras e corações abertos para todas as nacionalidades e crenças, paraíso da tolerância (tudo bem, isso também é outro grande mito de nossa “brasilidade”).

E-Brasil (no jogo), muralhas, caras fechadas, comissões de “altíssimo nível” entre os congressistas “a elite da nação”, preocupadíssimas e com a concessão de cidadanias. Quase um pesquisa “científica” de tipo “nacional-socialista” sobre a origem dos que pedem cidadania.


Recriminações, ódios, gritos, berros, “ostras” para todos os lados, mamilos e gozações... E tudo por conta de algo que nem existe de verdade.

Nem isso é novidade, em minha primeira semana neste jogo, algo muito semelhante acontecia.


Mas não são necessariamente vilões querendo corromper nosso “perfeito” sistema político os que querem conseguir a cidadania para colocar elementos exóticos no poder. Esses (se existem) são uma minoria.

É mais que natural que um território com plenitude de recursos, que se refletem em obscenos bônus de produção nas primárias regras econômicas do jogo, em um país que consegue se manter relativamente íntegro em seu território, atraia uma multidão de “estrangeiros” a se estabelecer e abrir suas empresas. Essa produtividade compensa em muito os “altíssimos” salários pagos por aqui (claro, pagos em BRLs, moeda que vale quase metade das de vários países de ponta do eRepublik, com grandes populações).

São esses os invasores que batem a nossa porta: empresários que querem ganhar mais dinheiro, sem se perguntarem qual o cor, cheiro ou sotaque deste.



E ISSO É UM PROBLEMA?

Em parte sim, em parte não.

Se essa economiazinha vagabunda do jogo tem alguma base nos mecanismos da economia do mundo real, nossa superprodução, com baixo consumo interno (população pequena) conduzem a um excesso de produtos no mercado (mesmo com a ação dos boots artificiais). Por um lado, isso os barateia, tornando-os acessíveis a todos, permitindo que cada um lute mais vezes.

Por outro lado, parece que trabalhar no limite dos preços (lucratividade muito baixa) inibe o desenvolvimento de grupos empresariais mais sólidos, pois mesmo em países sem todos os bônus (e até sem nenhum), ainda há disponibilidade de armas e alimentos para lutar com eficiência, provavelmente em função de uma estrutura industrial melhor estabelecida.

Mas este não é um artigo sobre economia (felizmente).


E a diversidade cultural, será que o fato de que há vários jornais publicados em turco, romeno ou inglês (e teve até um em hebraico!) prejudica a comunicação entre os cidadãos do eBrasil, ou de seu governo com esses cidadãos?

Huahuahuahua! Quem é que depende dos jornais para se informar ou para tomar decisões corretas?

Definitivamente não é porque as pessoas que estão “convivendo” conosco falam línguas exóticas, que vamos ter nosso país de faz-de-conta destruído ou nossa cultura vilipendiada. Pelo contrário, para quem quiser se informar, ficou mais fácil acessar informações do que ocorre no exterior.


E o risco de perdermos o controle político, existe?

Bom, isso sim existe, pode passar um ou outro falso empreendedor de Cingapura ou outro país ameaçador, que queira assumir o congresso e depois a presidência do país e nos botar todos em grilhões....



A QUEM INTERESSA O MEDO?

A alguns....

Leiamos, por exemplo, a seguinte frase publicada recentemente:

“...não são todos do partido que são assim, há vários cidadãos de lá que tem"as idéias no lugar", que sabem o verdadeiro certo e errado para o país.”
.

Vocês não imaginam como fiquei tranqüilo por saber que há (no citado ou em outros partidos destacados, nos quais milita nossa elite intelectual), pessoas que sabem o que é certo e o que é errado, capazes de decidir por mim o que é melhor para mim e para toda nossa amada nação!



Bem, esses são os primeiro que se beneficiam com esse medo irracional dos estrangeiros: Os políticos “profissionais”, aqueles que vomitam regras de bom comportamento para congressistas e não congressistas, e depois inventam as exceções que só eles tem conhecimento, que os permitem descumprir essas mesmas regras. Especialmente no caso das cidadanias, para as quais acabam por criar um monopólio, e com isso monopolizam também o departamento das boas relações com o resto do e-mundo, e assim conseguem trocas de favores com outros países, sempre que necessitarem de uma nova cidadania para eles mesmos e seus amigos.

O medo do estrangeiro nos encarcera em nossas fronteiras. Os que levantam a bandeira desse medo, raramente o exibem, e são os que realmente podem se tornar cidadãos do mundo, com amizadas além de todas as fronteiras.


Depois temos o medo de perder dinheiro. Vários clamam que os estrangeiros vem ao país apenas para vender produtos por preços baixíssimos e oferecer salários exorbitantes, para quebrar nossa economia.

Ou seja, outros que tem medo são os empresários.
O problema é que aqui eles até podem ter alguma razão... competição maior, em um sistema artificial fechado e ridículo como o do jogo, produz menores lucros. Mas aí a solução é simples.

Não é uma campanha de boicote, porque ela não vai mesmo funcionar: sempre nos candidatamos aos empregos que pagam melhor e compramos os produtos mais baratos.

Não vai adiantar nada montar uma "Liga da Justiça Protecionista", para garantir o produto 100% nacional.

A solução é o Brasil devolver as regiões que não lhe pertencem, assim, sem os bônus, nossa economia fica menos interessante e menos pessoas vão querer a cidadania.

Algum candidato abraça essa bandeira?


Mas, sinceramente, que bem me faz ter apenas empresas 100% nacionais, elas poluem menos?, empregam melhor?, produzem comida com menos agrotóxicos?, nossas armas matam melhor que as romenas?
Neste nosso e-Mundo, não faz a menor diferença a nacionalidade de quem está produzindo! Mais uma vez, o nacionalismo é só uma desculpa para tirar vantagens.



O caminho é um só: abrir a imigração ao eBrasil, e se beneficiar do aumento de nossa população. Claro, uma melhoria na nossa cultura política seria muito bem vinda, mesmo que tenhamos que ler os boletins do MD em inglês.