NOSSOS PECADOS E NOSSOS CASTIGOS

Day 1,560, 11:22 Published in Brazil Cuba by Greywacke
Tinha a idéia de escrever este artigo a um ou dois dias, os fatos e outros artigos já deram um furo nele, propondo explicações alternativas, por isso precipito-me a lançá-lo, creio, ainda imaturo.




Ninguém é santo, e, por mais que não acreditem, ninguém, é demônio.

Continuamos, pois, em um mundo sem freios morais e altamente peripatético. As pessoas andam de um lado para o outro, com uma bússola vagabunda comprada na Galeria Pajé ou no Saara, apresentando sua ética e sua moral variável ao sabor das ondas e dos acontecimentos.



Assim com em boa parte dos ritos burocráticos do serviço público, onde o objetivo não é resolver um problema, mas passar a responsabilidade deste para outro mais adiante na cadeia de comando, tudo devidamente registrado por meio de processos, memorandos e ofícios, datados, carimbados e com recibo, aqui os indivíduos e os agrupamentos de indivíduos zelam não por encontrar o problema, isolá-lo e saná-lo, mas sim em encontrar rapidamente um bode, cabra ou até ovelha, expiatório, ou um rebanho inteiro, se possível, para atribuir a estes a culpa e a responsabilidade pelo problema. Dada a nossa natureza virtual e a inexistência de sanções da lei, essa prática dispensa toda aquela papelada.

Pois bem, rouba-se (ou pelo menos desvia-se) dinheiro “público”. Seja o erro cometido por presidente, ministro, vice-presidente, gestor de empresa pública, congressista, curioso, ou malandro, a gravidade do ato é proporcional à distância dessa pessoa do meu grupo político-ideológico, ou político-ideoLOLgico, ou miliciano-militar, ou o que quer que seja.


“Sinto estar sendo injusto aqui. Pelo que vejo, tenho a nítida impressão de que há grupos mais auto-críticos que outros, que não se importam em cortar a própria carne quando uma parte desta está podre. Digo isso sem citar nomes, e exclusivamente para não ser injusto com aqueles que não se comportam sistematicamente como uma máfia, e, de maneira nenhuma para especificar criminosos, pois, como já disse antes, não acredito que eles existam.”


Mas, em resumo: Grave não é ter cometido um crime, irregularidade, erro bobo, ou erro bem intencionado, grave é não ser identificado com meu grupo. Ou ainda, grave não é ter feito algo errado mas ter feito algo errado sem objetivos claros (ou objetivos certos), ou sem ter causado danos aos alvos certos.

O mesmo raciocínio vale para:

- compra de votos em eleições

- compra de votos em artigos de jornais (por qualquer preço),

- na criação de multicontas,

- na venda de contas,

- na compra de contas,

- em disputar eleições para PP sem ter sido escolhido candidato oficial,

- ao lutar contra o Brasi em uma batalha,

- em ser caçador de BH,

- em não ser caçador de BH,

- em escrever errado,

- em escrever certo demais,

- ao propor aumento no salário mínimo,

- em não saber botar figuras nos artigos,

- em ter tentado dar TO no Brasil,

- em ter denunciado uma tentativa de TO do Brasil (ou de brasileiros) em outro país,

- em ter uma opinião,

- em não ter uma opinião.....




Tudo pecado! PECADO MORTAL!
Dependendo de como o sol bate e de como o vento sopra...



E os castigos? Ah!, estes também abundam!
Musiquinha para falar de castigos e carrascos.



Existe o popular OSTRACISMO, ao qual quase todo mundo se refere na classe gramatical errada, mas que depende do consenso. Algo que não existe. Ninguém pode falar para o ostracizado: “- Pegue suas coisas e suma de Atenas!” Por que ele pode dizer simplesmente: “- Não vou, não vou e não vou!” E aqueles que ainda confiam nele, não o abandonarão.




Existem também as listas LARANJA e NEGRA do congresso, que castigariam aos congressistas que se comportam mal. Quem ou que crimes cabem em cada uma? Ninguém tem um acorcodo.
E ainda bem, porque o que querem punir, muitas vezes são “crimes de opinião” e a opinião de um legislador deveria ser sagrada e inimputável, por mais imbecil que ela seja! Até a ditadura militar tinha de pedir licença para punir um congressista! (por isso fechou o congresso...).
Que diabos, se eu acho que o presidente deve ser derrubado porque fez uma piada sem graça no IRC, eu tenho o direito de propor o impeachmet dele, e tenho o direito de agüentar as críticas que me vão fazer por ser tão imbecil! Mas não ser posto em uma lista de castigo!




E este que vos fala, não é menos defensor da inquisição, propus recentemente a criação de um poder judiciário para, em última análise, patrulhar nossos maus pensamentos. Só para depois descobrir que já tinham proposto algo parecido sob o nome de Ministério Público. Essas propostas apontam para uma regulamentação do imbróglio exposto acima, a situação atual é para infrações tão difusas, punições ainda mais difusas e confusas. E, por isso, geralmente injustas.



Se fossem praticáveis, essas propostas poderiam dar uma palavra final nas seguidas disputas, mas não acabariam como as disputas e trocas de ofensas.


O grande problema dessas propostas é: Quem tem a isenção para julgar? Quem não é amigo, ou inimigo, de ninguém? Quem tem tempo e meios para fazer uma apuração isenta dos fatos?


MAS...

Mas, este é um jogo. Não é um país. É, no máximo, uma comunidadezinha bem sem vergonha.
E é um jogo social, por mais que se diga que é um jogo de guerra ou de civismo. Será que vale a pena sofrer tanto por um jogo, acusar tanto, escandalizar-se de maneira tão veemente?
Não existe Espanha, não existe Brasil, não existe ONE, nem TERRA. Existe EU, existe VOCÊ, VOCÊ, VOCÊ e AQUELES OUTROS ALÍ.
É, na verdade, muito pouco diferente de um Facebook, farmville, ou zooville. O objetivo de todos e de cada um é impressionar o maior número possível de pessoas, de ter o maior número de seguidores, curtidores, fãs, whatever...
Desse pecado todos nós somos culpados.

E nossa punição?
Nossa punição é ficarmos aqui queimando e tostando lentamente, muito lentamente, nesta fogueira.