Sobre Portugal [Parte 1]

Day 1,836, 21:55 Published in Portugal Portugal by John Bokinski

Tenho hesitado em escrever um artigo sobre este tema porque muitos jogadores gostam de politizar o que escrevo e eu nunca gostei de me envolver no módulo político do jogo, por questões de feitio e de tempo. No entanto, olhando para muitos dos artigos que têm aparecido nos nossos media, sinto que se não escrever nada agora, perde-se também os timings de falar e é melhor ficar calado.

Sobre a crítica míope

Nos últimos meses vários sectores da nossa sociedade têm criticado todos os CP’s recentes. Naturalmente que as criticas vêm dos sectores opositores e se no passado existiam 2 sectores, actualmente as facções aumentaram muito mais e toda a gente arranja argumentos para a crítica. A crítica é fácil, o difícil é fazer bem.

E criticar é fácil sobretudo a quem nunca foi governo, porque não compreende as dificuldades que os elementos do governo passam para fazer alguma coisa com a nossa comunidade. Os que já foram governo criticam ainda mais, porque foram criticados quando lá estavam por aqueles que agora são governo e “baixam o cacete neles”. É um ciclo vicioso.

A crítica para ser progressista tem de apontar caminhos alternativos, que tenham sido reflectidos com cuidado e não ideias absurdas baseadas mais na necessidade de criticar ou na revolta do contexto em que estamos actualmente. Mas pensar, analisar e avaliar alternativas dá trabalho, obriga-nos a despender tempo em cada caso e por vezes chegamos à conclusão que aquilo é mesmo difícil de resolver. Mas é essa a posição do CP, ele não pode criticar-se a si próprio, ele tem de decidir, em conjunto com os membros do seu governo, e sejamos justos, a situação geopolítica que Portugal hoje tem, é muito difícil, e não vale a pena tentar encontrar culpados, porque parte da culpa está relacionada com o contexto, e um país da nossa dimensão tem menos influência no contexto do que um país de grande dimensão. Mas parte da culpa é nossa e se reflectíssemos de forma não emocional nos erros que fizemos talvez aprendêssemos umas coisas.

A crítica míope sempre foi um dos traços da nossa comunidade, mas era amplamente compensada pela crítica bem-humorada, pelo artigo de reflexão política, diplomática ou existencial. Pelos artigos de análise de contexto e possíveis caminhos a seguir, pelo trolling inocente e pelos artigos de exaltação da comunidade e do apelo à união. Hoje a crítica míope prevalece, e apesar de existir alguns jogadores que continuam a procurar reflectir sobre temas diferentes, esses artigos pouco são comentados (ou mesmo lidos) em contrapartida os primeiros rapidamente dão origem a “shitstorms” que ajudam a afastar cada vez mais a comunidade e a criar cada vez menos condições para que alguma coisa que se decida fazer seja implementada. A única coisa que ainda conseguimos fazer em conjunto é disparar contra os taçardos, e nesse aspecto estamos melhor que outros países que nem isso conseguem fazer em conjunto.

Mas mesmo nesses países vejo um maior respeito pelo governo, do que tenho visto na nossa comunidade.

Uma das características fundamentais da crítica míope é a de que defendo sempre os meus (lealdade, etc) e por sistema acho que as ideias dos outros são sempre más, excepto se forem iguais àquilo que eu defendo. A primeira parte deste comentário não é um problema da comunidade portuguesa de eRep é um problema de Portugal. O Português demasiadas vezes é benevolente com as acções idiotas dos seus amigos, quando o que eles precisam é mesmo de alguém que lhes diga que estás a ser parvo. E ao apoia-lo somos tão culpados pela acção idiota do que ele (provavelmente até mais).

A segunda parte do comentário tem a ver com a excessiva politização da comunidade e neste caso, não acho que isso seja um traço Português. Nós somos de um partido como somos de um clube de futebol, no entanto defendemos muito mais o nosso clube do que o nosso partido político. No eRep são poucos os jogadores que escolhem um partido com base na ideologia, maior parte escolhe com base em conhecerem alguns jogadores que lá estão. Mas quando isso se torna inibidor de termos uma opinião razoável sobre o tema que estamos a discutir, então aconselho a todos a não ter partido.

Sobre o governo actual

Vou fazer um conjunto de considerações, que vou justificar, algumas são críticas mas considero que são críticas fundamentadas, pelo menos com base na informação que tenho.

O governo actual, tal como os últimos governos, teve dificuldade em gerir expectativas do eleitorado, propôs objectivos ligeiramente menos ambiciosos do que os últimos governos o que reflecte uma tendência que aconselho todos a seguirem, mas apesar disso ainda incluía alguns objectivos inatingíveis num mandato.

No entanto o Álvaro não se focalizou naquilo que era fundamental fazer e que ele estava bastante bem colocado para o fazer, que era, promover a união da comunidade. O Álvaro era um elemento de uma facção da nossa comunidade que a seu tempo percebeu que se queria contribuir para a comunidade não podia entrar em jogos de lado branco e lado negro da força. Tem pessoas que respeitam o seu trabalho (ou pelo menos as suas intenções) em vários sectores e poderia e deveria procurar promover a aproximação dos elementos mais disponíveis a trabalhar com ele desses sectores e evitar os elementos mais radicais. Penso que se tentou fazer isso no início, mas rapidamente se perdeu no caminho.

Na minha opinião o primeiro erro grave do CP foi incluir na sua equipa dos negócios estrangeiros um elemento que está a apoiar um partido PTO (com base Sérvia) nos USA. Este erro tinha várias implicações complicadas:
- Afastava elementos do governo que se recusam a aceitar o PTO como política
- Impedia qualquer conversa com maior profundidade com os USA que é dos países não EDEN o único que poderá estar disposto a mediar uma conversa com Espanha de forma equilibrada.

Mesmo que a segunda parte do problema não fosse visível aos olhos do nosso CP, a primeira parte do problema foi óbvia logo nos primeiros dias do trabalho e ajudou a que alguns dos jogadores da equipe governamental que tinha fosse se afastando dele. Quem conhece os governos portugueses sabe que é tradicional alguns ministros não trabalharem ao nível exigido por questões de RL. Quando acrescentas ao “turnover normal” justificações éticas para as pessoas se afastarem a tua posição fica ainda mais fraca.

Se o Álvaro tivesse acedido a promover as alterações que foi aconselhado a fazer, teriam mantido mais alguns na sua equipe e promovido a união que precisava para trabalhar, mas não, o Álvaro por natureza é teimoso, e se a teimosia nos permite ter persistência para não desistir das nossas ideias quando confrontado com outras, a realidade é que quando essa teimosia se reflecte não em ideias, mas em pessoas, normalmente dá mau resultado. Só para balanço final pergunto-me o que o Viarizi acrescentou ao governo do Álvaro, mesmo depois de o terem colocado numa área em que o seu perfil trazia menos inconvenientes quando comparado com o dano que causou em termos de união do grupo.
Durante este período o actual CP assumiu que o cargo ocupava mais tempo e esforço do que ele pensava e começou a envolver o HM 2.0 no governo (primeiro como simples armazém, depois como parte da equipe do MoD, sendo o próprio MoD um elemento ligado ao HM).

Muita gente criticou as duas coisas. Na realidade acho injusto a crítica ao primeiro comentário, porque acho perfeitamente natural, alguém que nunca foi CP subestimar o trabalho que dá ser CP. Pelo contrário, assumi-lo é intelectualmente mais honesto do que esconde-lo. Já ao envolvimento do HM no governo voltamos ao mesmo tipo de erro que descrevi acima, sabendo que a inclusão desse jogador provocaria a desunião porque é que não procurou alguém mais consensual. Na realidade quem fez o trabalho de MoD quando a guerra começou foi muita gente, incluindo o próprio CP, mas o contributo do HM foi residual (para além de ter criado mais uma desculpa para Espanha não assinar o tratado com aquele trolling das 50k de armas Q7). Se achava que o HM podia contribuir então ele que contribuísse sem cargos, o HM tem uma conta a pagar à comunidade portuguesa e para a pagar tem de fazer as coisas certas sem esperar recompensas e não o contrário.

Se acho que os erros de casting que o Álvaro cometeu foram erros evitáveis e que provocaram danos graves à forma como a comunidade evoluiu este mês, já o acordo proposto a Espanha me parece apenas ser a repetição dos erros que anteriores CP’s fizeram. O problema está em investir tempo a tentar acordar um NAP com Espanha sem que exista antes alguém a influenciar fortemente os Espanhóis nesse sentido, e o único país que pode estar disponível para fazer isso de forma, mais ou menos, isenta são os USA. Uma negociação para valer a pena, pressupõe que existe um conjunto de condições que são aceitáveis para ambos os países, e neste momento, as comunidades portuguesa e espanhola exigem coisas que não são conciliáveis. O Álvaro, tentou, é razoável que tente porque existe um conjunto muito grande de membros da nossa comunidade que pensam que esse é o caminho, mas é preciso ser realista e pensar que numa negociação nem o Álvaro nem ou qualquer outro CP vai conseguir fazer Espanha acordar algo que não quer. Na minha opinião é perda de tempo, já achei que o Lucifel perdeu demasiado tempo também com isto, mas não culpo os CP’s por isso porque é a comunidade que os empurra para que tentemos negociar.

Finalmente o Álvaro virou-se para a única iniciativa de impacto que lhe restava. Atirar-se aos taçardos, e coordenar com a EDEN mais uma tentativa de recuperar o congresso. E nessa tarefa foi ajudado por muitos (incluindo o ataque dos USA ao México que criou confusão inesperada), mas o fundamental é que foi bem sucedido. Não vale a pena dizer-se que foi o CP que conseguiu isto, mas também não vale a pena tentar-se argumentar que ele não teve um papel importante na operação desenvolvida. E quem esteve muitas horas à espera de lutar nos momentos certos viu lá muita gente, o CP, os MEK’s, os SPA’s os TIF’s e muitos mercenários e aliados. Mas existe um trabalho de bastidores que é responsabilidade do governo e esse obteve resultados.

Tal como o anterior CP conseguiu algumas regiões para que pudéssemos cumprir as missões, o actual conseguiu algo que tem mais valor intrínseco, 1 mês de congresso e mais uma vez relembrar os espanhóis que Portugal será sempre uma faca preparada para se espetar em algum sítio da sua anatomia. Teve um custo monetário, mas isso é inevitável. Irá entregar um país em wipe para o novo CP, mas isso é quase inevitável nas actuais condições geopolíticas.

Por isso, para mim, o Álvaro falhou em algo que eu achava fundamental, que era promover a união, e desde o início percebi que isso não iria acontecer dado alguns erros iniciais e as características pessoais dele. No restante esforçou-se como alguns dos anteriores na diplomacia e na guerra, mas não conseguiu trazer um “game changer” para Portugal mas isso não lhe podemos pedir até porque é trabalho para mais que um mandato.

Sempre que a comunidade segue o caminho de ostracizar mais um CP, MoD ou MoFA que mal ou bem procurou desempenhar as suas funções, fica mais fraca, porque o número de jogadores dispostos a contribuir para a comunidade não é extenso e os jogadores disponíveis para isso, são cada vez menos e cada vez menos bem preparados. Mas é preciso também que este jogadores saibam assumir os seus erros e aprendam com eles, depois disso é muito mais fácil lidar com a situação.

Sobre união

Esta tem sido uma ideia recorrente na nossa comunidade, qual é a prioridade, reconquistarmos os nossos territórios, trabalharmos para mudar o contexto geopolítico que nos encontramos ou promovermos a união da comunidade. A primeira tarefa é de curto prazo e sempre me pareceu impossível, excepto se ocorrer uma mudança de contexto. Eu não digo que não devemos bater nos Espanhóis, pelo contrário, devemos aproveitar todas as situações favoráveis para lhes cairmos em cima, mas temos de compreender que naturalmente eles voltam a nos reconquistar. Não existe vergonha nisso. Eles são o exército invasor, nós a resistência, continuaremos a cansá-los mas com o actual desequilíbrio de forças entre a ONE/CoT e a EDEN a tendência é para todos os países da EDEN irem perdendo territórios. Hoje a Grécia, amanhã outro. Mas este trabalho é tarefa do MoD o governo tem de estar focalizado no médio prazo.

Acho que a promoção da união e participarmos na mudança de contexto estão interligados. Nós temos de chegar a um acordo de o que é fundamental atingirmos para que possamos realmente promover a união e temos de aceitar que é importante estarmos unidos antes de discutir estes assuntos ou continuaremos a discordar por discordar. Isto reflecte-se na forma como comunicamos uns com os outros e na forma integramos novos jogadores.

Falando frontalmente os principais obstáculos à união da comunidade é a antipatia criada por vários jogadores em relação a outros. Já existiram jogadores que promoveram PTO’s em Portugal para assumirem o poder, já houve jogadores que roubaram fundos, já existiram jogadores que lutaram contra Portugal e os seus interesses de forma sistemática. Se esses jogadores esperam que sejam perdoados sem fazerem um “mea culpa” é melhor esquecerem. E também sei que esses jogadores não têm a humildade suficiente para fazerem o “mea culpa” por isso é esforço perdido investir nesse sentido.

Por vezes, a melhor forma de não cheirar mal é não mexer na merda, por isso o que aconselho é não continuar a discutir o passado mesmo que não o ignoremos. Identifique-se uma equipe de jogadores que trabalhem na promoção da união, jogadores novos e velhos que tenham capacidade de dialogar e criar plataformas de entendimento. Os jogadores que hoje promovem a desunião se quiserem podem participar, mas não esperem que seja elementos centrais às decisões estratégicas, porque não têm um capital de confiança da comunidade como um todo. Mas isso não os impede de coordenarem batalhas ou atraírem novos jogadores. Precisam é perceber que se as suas acções continuam ser de doutrinar uns contra os outros, então ficarão sempre “left of centre” (referência obscura à Suzanne Vega). Se mudarem os seus comportamentos então o seu status pode mudar.

No fundo o que proponho é um governo de união nacional, não baseado em partidos e liderado pelos elementos mais capazes na promoção da união. E que tenham disponibilidade para a tarefa, que me parece hercúlea. Se os partidos quiserem ter algo a dizer sobre isto, que identifiquem de forma isenta quem dentro dos seus quadros têm características para trabalhar neste tipo de projecto. E a comunidade invés de criticar apenas as coisas que correm menos bem, procure contribuir com ideias, exija informação sobre o que estão a procurar fazer e se envolva nas coisas.

Não tenho dúvidas de que haverá sempre rivalidade entre jogadores, mas não deixem que essas rivalidades levem à redução do potencial do nosso país, não basta que todos lutemos juntos, temos que actuar como um bloco e com objectivos estratégicos planeados. Vou dar um exemplo recente, num artigo brasileiro de alguns dias um elemento do actual governo chamou covardes aos brasileiros por atacarem países mais pequenos … mesmo que isso seja verdade, será que é este o tipo de relação queremos ter com os brasileiros ? não há outras formas de tratar o assunto ? temos de estar coordenados e esse tem sido uns dos erros que tardamos em compreender.

Sobre Rumos

Se assumirmos que actualmente não é possível chegar a um acordo com Espanha, a questão militar é fácil. Continuaremos a batalhar contra eles, e devemos atacar sobretudo em alturas estratégicas e quando eles tentarem dar NE em outros países. A frequência e a força são questões financeiras e de disponibilidade aliada, mas devemos compreender também que o objectivo é destabilizar e não obter uma vitória duradoura.
Se queremos sair do wipe temos de alterar o contexto e abro aqui 3 cenários de alteração de contexto:

1 – Alinhamento com a ONE/CoT

Este é o cenário mais fácil. Se Portugal aceitar alinhar-se com a ONE/CoT Espanha estará preparada para celebrar paz connosco ficando apenas com 2 regiões. Num cenário mais evoluído da relação até poderia nos ceder mais alguma região.

É uma solução que eu não estou preparado para aceitar porque representa o abandono de todos os princípios pelos quais Portugal se norteou até hoje, mas tenho consciência que a comunidade portuguesa está a mudar e podem existir jogadores que queiram explorar outras opções. Mas nesse dia eu pediria a cidadania Irlandesa.

2 – Apoiar a EDEN num realinhamento de forças

O problema de Portugal não é diferente do problema da EDEN. Ao contrário de alguns países EDEN estamos dominados por um adversário que é bastante mais forte que nós, mas o mesmo acontece a muitos países EDEN e os países da EDEN como a Roménia recentemente e a Croácia no passado já estiveram em wipe. A EDEN tem de desenhar uma estratégia para re-equilibrar as forças e Portugal pode ter um papel nessa estratégia. Mas a EDEN sabe que actualmente está a esgotar muito das reservas financeiras e continuar a lutar contra uma força que é superior à sua por muito mais tempo não é sustentável.

Este realinhamento pode passar pela cisão da EDEN em blocos geográficos que permita que novos países entrem na aliança ou a criação de uma nova Terra que seja atraente para países não alinhados porque lhes permite aumentar a sua influência dentro do bloco. É um caminho enquadrado com o que temos seguido mas exige que sejamos mais vocais na EDEN na promoção de mudanças.

3 – Alinhar-se com os USA

Não é segredo que os USA querem criar um bloco que tenham domínio/influência primordial. Para já celebraram um brotherwood agreement com o Brasil, Russia e Albânia. Não é impossível Portugal juntar-se mas para isso é preciso que as relações sejam mais próximas e que haja uma paz negociada entre Portugal e Espanha (mas uma paz negociada entre Portugal e Espanha com os USA como sponsor é bem mais apertado para os espanhóis do que actual).

Se não agirmos a própria Espanha poderá avançar para esta opção e alguns elementos do governo brasileiro tudo farão para que isso aconteça, mas existem problemas fundamentais a este modelo que os americanos têm consciência depois da frustração da CTRL. Nomeadamente a relação da Espanha com a Polónia e por isso qualquer brotherwood com a Espanha está sempre subordinada à Polónia e à Servia/Hungria. E por outro a entrada de Espanha retira uma série de potenciais “brothers” aos USA, e não apenas Portugal.

Este caminho obrigaria Portugal a redireccionar as suas lealdades mas para uma aliança que tem de estar alinhada com a EDEN para sobreviver. Na realidade a criação de uma aliança liderada pelos USA de alguma dimensão, faria com que essa aliança e a EDEN ficassem reféns uma da outra.

A opção 2 e 3 não são mutuamente exclusivas.

[Final da parte 1]