[Fanfiction] Prazeres carnais de PrétendantTH

Day 2,372, 17:48 Published in Portugal Portugal by Giuseppe Kony

Paris, 1942.

Eram duas da manhã e PrétendantTH, segurando o saco de compras que trazia consigo, cruza um dos cantos rosa do Au Lapin Agile.
Um Faux soubrette desde tenra idade, saía exausto após protagonizar uma sessão de burlesco que arrancou palmas aos soldados nazis. Nem os gritos do leão de Verdun, o próprio Maréchal Pétain, pedindo silêncio, pareciam acalmar a plateia em polvorosa.

A meio do caminho, PrétendantTH sente uma necessidade urgente de, de certa forma, livrar-se do pão recesso fabricado na sua padaria.

Com tudo à volta fechado e sem lugar para onde ir, com o rio Sena tão longe e polvilhado de meretrizes e cidadãos cujo roubo é o único ofício para o qual são contratados, todas as opções pareciam difíceis demais para travar a sensação tépida e frágil anunciada pelo som e aroma que rasgava o silêncio da noite como um trovão.


*pfft* sinalizava o momento em que se apercebera da futilidade dos seus actos. Tarde demais.
Ou não?

Alternava o passo com cuidado, sempre devagar para se afastar das poucas pessoas que ainda via à distância. Sentia as baguettes a sair a qualquer momento, e com mera força de vontade impedia a porta de abrir

"Nnnnnggghhh!" exclama perante o ribombar do conteúdo a querer forçar a campânula ainda inerte por milagre divino. Mas conseguia senti-lo. A padaria começava a traí-lo.

"Por favor, agora não! Deixa-me chegar a casa" e como que se o sol brilhasse na penumbra, o seu desejo foi concedido e conseguiu levar as baguettes de volta à prateleira, embora que temporariamente.

Aproximando-se de um beco recôndito, pensa na jornada que o espera até casa e a oportunidade, tal como o saco que lhe carrega os vegetais, é frágil.

Após se certificar que não estaria ninguém a vê-lo e perdoar-se pelo declive moral a que se sujeitará, PrétendantTH inicia a sua caminhada em direcção a um dos mais grotescos prazeres humanos.

Não, não estamos a falar da torcida do Olympique Lyonnais.

À procura de um lugar onde colocar as baguettes, olha para baixo e só vê o saco que segura nas mãos. "Não posso" - pensa - "como poderei depois levar os vegetais para casa?".

Mal tempo teve para registar que o sinistro ribombar dos trovões voltara e após uma luta perdida contra o desejo da fábrica panificadora, dissipa as dúvidas morais que o seguravam como correntes invisíveis ao destino de todos os seres cristãos.
Ou o saco, ou les pantalons. O pão teria de cair em algum lado.

Com um gesto rápido insere os pilares da padaria nas abas do saco, mal cobrindo os toldos da loja. Aproveita para apanhar alguma da fruta que levava consigo quando estala a claque chauvinista. É um séntiment que bem conhece e que persegue todo o ser que descobre, logo ao nascer, a arte de la fermentation.

É hora. A primeira baguette sai com um guinchar peremptório, vítima de anos de faux-soubrétisme e travestissement.

Não mais o nosso protagonista se sujeita aos fantoches de Vichy, do clero e da sociedade bipolar que lhe nega uma 3ª forma de ser e estar! Ah, a liberdade de l'anarchie!
Uno com a terra e isento por momentos das amarras que o prendiam até então, como Falstaff PrétendantTH atinge um invejável estado de joie de vivre. Um lollard que num milionésimo de segundo testemunhou a presença de Baco.

E depois sente a segunda baguete. A terceira. A quarta e a quinta quase em uníssono. Parecia que nada pararia a revolução.

E, tão breve como começou, pára o fabrico para dar lugar ao interminável minuto da orquestra que, em três actos cacófonos compostos por fás sustenidos, num conjunto de baralhadas e quiçá envergonhantes exibições, deixa brilhar em si o espírito da revolução.

Vive la France!