eCrônica - Maxiba

Day 2,703, 20:13 Published in Brazil Brazil by Deco Bastos

Do inesperado, veio a sentença: sois uns maxibas. Tamanho julgamento transcendeu silenciosamente as barreiras da mensagem de texto ecoando no amplo espaço de 7 metros quadrados da sala de espera. Semelhante ao alvoroço inflamado pelo gol do Flamengo em pleno Maraca lotado, a decisão não esboçou qualquer reação nos presentes.

Senti-me aliviado, afinal era necessário ocultar meu novo estigma. Mas o que seria maxiba? Estou certo de que o bichano, preguiçosamente estendido na cadeira à frente, gargalhava de minha pessoa. Desde a sentença, fixara seus olhos de gude em mim, lambendo por vezes sua pata. Evidente deboche! Mas o que seria um maxiba?

Durante a consulta, uma voz fria me perguntou: realizas algum tratamento? Por praxe, respondi negativamente, mas ciente de que mentia. Eu estava doente. Aquela mensagem derrubara minha imunidade. Restei vulnerável. O vento, o sereno, o sinal vermelho, a aposta perdida, a fila, a comida gelada, enfim, tudo poderia me derrubar. Seria uma derrota sem luta, álcool ou gozo. A única ventura de um maxiba. Mas o que seria?

Recorri ao dicionário. Página 791. Capítulo 4. Versículo 13. Filipenses. Tudo posso naquele que me fortalece. Desconfiei. Quem é o autor? Restei enfraquecido. Certamente não é um maxiba.

Prestes a transcorrer "in albis" o prazo contra injusta, e irremediável, sentença, um forte tremor iluminou meu silêncio pálido...