A influência dos povos na formação da cultura brasileira

Day 3,089, 17:04 Published in Brazil Brazil by Giovanne Ferreira

"INTRODUÇÃO

A cultura pode ser definida como um complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições artísticas e intelectuais transmitidos coletivamente, e típicos de uma sociedade. Ou seja, é o conjunto formado pela linguagem, crença, hábitos, pensamentos e arte de um povo, que no caso do Brasil é um dos mais plurais do mundo.

Durante os séculos de colonização, o território brasileiro foi palco de uma fusão primordial entre as culturas dos indígenas, dos europeus, especialmente portugueses e dos escravos trazidos da África. Foi nesse período que se deu o início da formação cultural brasileira que, mais tarde, também recebeu influências da imigração de europeus não portugueses e povos de outras culturas, como árabes e asiáticos. Países como a França, a Inglaterra e os Estados Unidas, grandes centros culturais do planeta, não ficaram de fora desse contexto e também exportaram seus hábitos e produtos para o Brasil, formando assim uma sociedade altamente miscigenada.

Tudo o que se vê hoje culturalmente nas regiões brasileiras é resultado da reunião das crenças de todos esses povos que, direta ou indiretamente, transmitiram suas características culturais e formaram o que hoje é o Brasil: um conglomerado de povos, culturas, crenças, cores e movimentos. Por mais que esses povos tenham sido marcados no passado pelas contradições do conflito e da convivência, atualmente o Brasil constitui uma nação de traços singulares, de convivência pacífica e baseada no respeito e na coletividade.

1 – A INFLUÊNCIA PORTUGUESA:

Colonizadores do território brasileiro por 322 anos, de todos os povos que chegaram ao País, os portugueses foram os que mais exerceram influência na formação da cultura brasileira. Durante todo o período de colonização cidadãos português foram transportados para as terras sul-americanas, influenciando não só a sociedade que viria a se formar, como também as culturas dos povos que já existiam. O evento que mais trouxe implicações políticas, econômicas e culturais para o Brasil foi à mudança da corte de D. João VI para o Brasil, em 1808. A partir daí a imigração portuguesa foi constante e perdurou até meados do século XX.

A mais evidente herança portuguesa para a cultura brasileira é a língua portuguesa, atualmente falada por todos os habitantes do País. Difundida principalmente pelos padres jesuítas, o português era no início da colonização considerado língua geral na colônia, ao lado do tupi. Com a proibição do tupi em virtude da chegada de muitos imigrantes da metrópole, o português fixou-se definitivamente como o idioma do Brasil. Das línguas indígenas, ele herdou as palavras ligadas à flora e à fauna (abacaxi, mandioca, caju, tatu, piranha), bem como nomes próprios e geográficos.

Outro importante legado português foi a religião católica, crença de grande parte da população brasileira. O catolicismo, profundamente arraigado em Portugal, deixou no Brasil as tradições do calendário religioso, suas festas e procissões, tornando-se a religião oficial do Estado até a Constituição Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. Atualmente, o Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais. De acordo com o IBGE 73,8% da população brasileira declara-se católica.

Além da língua e da religião, vários folguedos populares como o bumba-meu-boi, o fandango e a farra do boi denotam grande influência portuguesa. No folclore brasileiro, são de origem portuguesa os seres fantásticos como a cuca, o bicho-papão e o lobisomem, e muitas das lendas e jogos infantis como as cantigas de roda. Duas das festas mais importantes do Brasil, o carnaval e a festa junina, também chegaram ao Brasil por influência dos portugueses.

A culinária brasileira também recebeu algumas interferências dos colonizadores. Muitos dos pratos típicos do País, por exemplo, é o resultado da adaptação dos pratos portugueses às condições da colônia. Um deles é a feijoada brasileira, que foi um resultado da adaptação dos cozidos portugueses. A cachaça, que foi criada nos engenhos como substituto para a bagaceira portuguesa, e alguns pratos portugueses como as bacalhoadas também se incorporaram aos hábitos brasileiros.

Nas artes, a cultura dos portugueses foi responsável pela introdução dos grandes movimentos artísticos europeus como o renascimento, maneirismo, barroco, rococó e neoclassicismo. Com isso a literatura, pintura, escultura, música, arquitetura e artes em geral no Brasil colônia eram muito baseadas na arte portuguesa. Essa referência pode ser vista nos escritos do Padre Antônio Vieira, na decoração de talha dourada e nas pinturas de muitas igrejas coloniais. As intervenções portuguesas seguiram após a Independência, tanto na arte popular como na arte erudita. E muito do que o Brasil é hoje, tem forte apelo à cultura dos colonos misturada com as culturas dos demais povos que habitaram o País.

2 – A INFLUÊNCIA INDÍGENA:

Primeiros habitantes do território brasileiro, os índios se dividem em diversos povos de hábitos, costumes e línguas diferentes. Cada tribo possui sua cultura, religião, crenças e conhecimentos específicos. Os Ianomâmis, por exemplo, falam quatro línguas, já os Carajás falam apenas uma. Os Guaranis manifestam sua cultura em trabalhos em cerâmica e em rituais religiosos, enquanto os Tupis acreditam ser dominados por um ser supremo designado Monan. A diversidade cultural presente entre as culturas indígenas brasileiras é proporcional a existente hoje em todo o Brasil.

Apesar de a colonização europeia ter praticamente destruído a população indígena não só fisicamente, através de guerras e escravidão, como também culturalmente, pela ação de catequese e intensa miscigenação com outras etnias, a cultura e os conhecimentos desse povo acabaram por influenciar parcialmente a língua, a culinária, o folclore e o uso de objetos, como as redes de descanso, no Brasil. Porém, as consequências da colonização foram tamanhas que, atualmente, apenas algumas nações indígenas ainda existem e conseguem manter parte da sua cultura original.

Durante a colonização, a cultura e os conhecimentos indígenas foram determinantes; tanto que o principal destaque nesse período foi a influência indígena na chamada língua geral, uma língua derivada do Tupi-Guarani com termos da língua portuguesa que serviu de língua franca no interior do Brasil até meados do século XVIII, principalmente nas regiões de influência paulista e na região amazônica. Atualmente, o português brasileiro guarda inúmeros termos de origem indígena, especialmente derivados do Tupi-Guarani. Dentre eles estão os nomes na designação de animais e plantas nativas como o jaguar, a capivara e o ipê, e a presença muito frequente na toponímia por todo o território.

Também recebeu forte influência indígena o folclore das regiões do interior do Brasil, com os seres fantásticos como o curupira, o saci-pererê, o boitatá e a iara. Na culinária, a herança indígena está na mandioca, na erva-mate, no açaí, na jabuticaba, nos inúmeros pescados e em pratos típicos como o pirão. Apesar de esses legados terem uma boa representatividade no País, a influência indígena se faz mais forte em certas regiões brasileiras como o Norte do Brasil, em que os grupos conseguiram se manter mais distantes da primeira ação colonizadora.

A vontade de andar descalço foi outro hábito que herdamos dos indígenas. O costume de descansar em redes é outra herança dos povos indígenas.

A culinária brasileira herdou vários hábitos e costumes da cultura indígena, como a utilização da mandioca e seus derivados (farinha de mandioca, beiju, polvilho), o costume de se alimentar com peixes, carne socada no pilão de madeira (conhecida como paçoca) e pratos derivados da caça (como picadinho de jacaré e pato ao tucupi), além do costume de comer frutas (principalmente o cupuaçu, bacuri, graviola, caju, açaí e o buriti).

Além da influência indígena na culinária brasileira, herdamos também a crença nas práticas populares de cura derivadas das plantas. Por isso sempre se recorre ao pó de guaraná, ao boldo, ao óleo de copaíba, à catuaba, à semente de sucupira, entre outras, para curar alguma enfermidade.

A influência cultural indígena na sociedade brasileira também está presente no nosso idioma; várias palavras de origem indígena se encontram em nosso vocabulário cotidiano, como palavras ligadas à flora e à fauna (como abacaxi, caju, mandioca, tatu) e palavras que são utilizadas como nomes próprios (como o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, que significa, “lugar que já foi mato”, em que “ibira” que dizer árvore e “puera” tem o sentido de algo que já foi. O Rio Tietê em São Paulo também é um nome indígena que significa “rio verdadeiro”).

3 – A INFLUÊNCIA AFRICANA:

A cultura africana é extremamente diversificada e suas características retratam tanto a história do povo quanto a do continente – considerado o território habitado a mais tempo na Terra. Isso acontece porque os habitantes da África evoluíram em um ambiente cheio de contrastes e com várias dimensões. Culturalmente eles diferem muito entre si, falam um vasto número de línguas, praticam diferentes religiões, vivem em habitações diversificadas e se envolvem em inúmeras atividades econômicas. Tribos, grupos étnicos e sociais formam essa população de costumes, tradições, línguas e religiões específicas.

No Brasil, a cultura africana chegou através do tráfico negreiro que trouxe para o País povos da África na condição de escravos. Formados principalmente por bantos, nagôs, jejes, hauçás e malês, os africanos tiveram sua cultura repreendida pelos colonizadores. Na colônia, os escravos aprendiam o português, chegavam a ser batizados com nomes portugueses e obrigados a se converterem ao catolicismo. Mesmo assim foram eles que ajudaram a dar origem às religiões afro-brasileiras, difundidas atualmente em diversas regiões do País. As mais praticadas no Brasil são o candomblé e a umbanda.

Porém, a contribuição dos africanos na cultura brasileira não se limitou à religião. Dança, música, culinária e idioma receberam influências que prevalecem no Brasil até os dias de hoje. Na culinária regional, por exemplo, a herança africana é evidente, principalmente na Bahia. O dendezeiro, uma palmeira africana da qual se extrai o azeite de dendê, foi introduzido na região pelos os escravos e é hoje utilizado em vários pratos de influência africana como o vatapá, o caruru e o acarajé. Já o idioma brasileiro ganhou novas palavras como batuque, moleque, benze, macumba e catinga.

A música também foi muito favorecida pela cultura africana que contribuiu com os ritmos que são à base de boa parte da música popular brasileira. Um exemplo disso é o gênero musical lundu, que juntamente com outros gêneros deu origem à base rítmica do maxixe, samba, choro e bossa nova. Além da contribuição rítmica, também foram trazidos alguns instrumentos musicais como o berimbau, o afoxé e o agogô, todos de origem africana. O mais conhecido deles no Brasil é o berimbau, instrumento utilizado para criar o ritmo que acompanha os passos da capoeira."