Sobre Democracia, Autocracia e Guerra

Day 5,227, 04:14 Published in Portugal Portugal by John Bokinski

O Erepublik foi criado com base num sistema democrático, imperfeito porque nunca conteve um módulo que fizesse vingar um sistema legal e um pouco estranho para nós portugueses, devido à concentração de poderes no presidente, mas um sistema democrático, em que cada cidadão tinha 1 voto, existiam partidos que apresentavam o seu programa, deputados/congressistas que aprovavam leis e media que poderia funcionar como meio para esclarecer cidadãos. Quem me conheceu como cidadão sabe que sempre achei exagerado o papel do modulo militar até porque era irrealista. Não é normal que os cidadãos dos países promovam sucessivas guerras, não só porque extinguem os recursos limitados de cada nação e cidadãos sem evidente retorno para cada um deles, assim como, a guerra mata, e sem morte de cidadãos em consequência da guerra, nenhum simulador seria realista e subestima de forma dramática o verdadeiro custo da guerra.

No entanto, foi sempre óbvio que após um momento inicial em que a comunidade portuguesa floresceu à base do sistema político e com a exploração de algumas fraquezas do sistema económico para enriquecer o estado e seus cidadão, todos os momentos de maior mobilização da comunidade estiveram ligados à guerra, sobretudo à reconquista do território nacional. O que não é de admirar, a monetização do jogo por parte da ErepublikLabs passava pelo dinheiro que jogadores estavam dispostos a pagar para ganhar guerras e força militar. Esta dinâmica chegou ao seu auge quando o jogo implementou um modulo de ditadura, em que permitia aos cidadãos mais poderosos militarmente, que não tinham conseguido obter o controlo do poder através de meios democráticos, agora fazê-lo de forma não democrática. Apesar da forma como essas regras de ditadura eram promovidas não deixa de ser realista que um sistema democrático posso ser substituído por uma autocracia quer através da ação de uma minoria com poder militar quer através da cedência de excesso de poder a um partido ou a um presidente que os utiliza para ganhar vantagem desproporcional no jogo democrático até que as regras em que se baseava o sistema democrático deixam de existir. Na última década temos assistido a isto na vida real, em algumas das mais experientes democracias do planeta e de forma mais marcada e consequente em democracias jovens e com instituições democráticas fracas.

Nos últimos 70 anos, a Europa viveu um período de paz incomparável na sua história recente, e não por acaso que foi neste período que o sistema dominante na Europa foi o democrático. A guerra real tem um custo dramático para os seus cidadãos, quer nas suas vidas e dos seus familiares, quer no seu conforto económico, no entanto, eles nada têm a ganhar quando a iniciativa da guerra pertence à sua nação. Quando é uma guerra de defesa obviamente que defendem a sua liberdade e têm bastante a perder se não a conseguirem manter. Por essa razão sempre achei que o modulo de guerra do Erepublik era inadequado para a vida real e infelizmente hoje a realidade lembra-nos isso.

Divergindo um pouco para a realidade, é importante perceber que o que está em causa na invasão do dia 25 de Fevereiro não é uma guerra de impérios típica do século XIX ou da primeira metade do século XX, esta é mais uma batalha de um sistema político autocrata que se sente ameaçado pelo sucesso e vantagens das democracias. É uma batalha que começou há mais de uma década, e as democracias têm sido atacadas através de desinformação nos nossos media, de financiamento das ideologias mais extremas na nossa sociedade sem ter reagido, em grande parte porque uma reação teria impacto económico negativo nas nossas sociedades. Foi preciso uma ação mais evidente para compreendermos que autocracias não são bons parceiros, e por vezes não podem ser parceiros de todo. É importante também perceber que a distribuição por igual dos custos económicos desta reversão vai colocar mais pressão sobre uma parte da população que beneficiou menos dessas associações e como tal é razoável a distribuição assimétrica destes custos.

É importante também compreendermos a importância que a democracia tem tido na manutenção da paz, e que é um sistema que através do poder dos seus cidadãos pode opor-se aos desejos de riqueza e poder de um cidadão ou de uma pequena minoria de cidadãos que podem beneficiar com a guerra.