POPULISMO E TECNOCRACIA NO eBRASIL

Day 1,922, 18:12 Published in Brazil Cuba by Greywacke
POPULISMO E TECNOCRACIA NO eBRASIL




Difícil encontrar uma figura mais adequada para ilustrar este artigo...


As movimentações e os debates públicos relacionados ao possível acordo com a Indonésia, através do qual esta ocuparia o território de Charrua (Uruguai), através de um “swap” através dos territórios Sul Africanos alugados ao Brasil, me obrigam a tecer algumas considerações a respeito do caráter político do atual governo ChaingumMAX.

(Um ótimo resumo do caso)

Trata-se de uma crítica política, que, ouso dizer, seria uma crítica “pela esquerda” ao caráter político adotado (ou possível de ser adotado). Eu já planejava escrever há algum tempo, provavelmente esperando o final do governo (ou esquecer a ideia e não perder meu tempo com isso), mas os acontecimentos, citados no parágrafo anterior, precipitaram minha decisão.

Não se cogita em nenhum momento que sejam comentários pessoais com relação à capacidade de egovernar da atual presidente, e espero que o artigo possa servir para uma compreensão melhor do funcionamento de nossa comunidade.

Antes de falar do atual governo, vamos analisar qual seria o caráter dos governos anteriores, ditos “da panela”.





Da Tecnocracia




Tecnocracia é, nos ensinam os mestres Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino (que pelos nomes todos já sabe que se tratam de sociólogos chineses...), na sua obra Dicionário de Política (4ª edição, volume 2, Editora da Universidade de Brasilia, 1992, 1318 pp..), é um dos conceitos mas ambíguos em política. A interpretação que nos interessa em particular é a que seria “um regime social caracterizado pela emancipação do poder das suas tradicionais conotações políticas e pela tomada de uma configuração diferente, despolitizada e de “competência”.” Ainda usando os termos dos autores, um regime no qual os “peritos” tomam o lugar dos políticos.





Todos tem consciência de que o eRepublik é um jogo, dotado de regras e limitações que tornam relativamente tranquilo o estabelecimento de procedimentos técnicos mais eficientes, na condução dos negócios (pessoais e da nação). Desse modo é natural que se pregue que “existe uma maneira correta” em se jogar, que é mais vantajoso financeiramente vender matéria prima do que armas, que apenas empresas de nível mais elevado podem contratar funcionários sem ter prejuízo, que as mpps precisam ser estabelecidas levando-se em conta o risco de perde-las por conta das beligerâncias entre os países, etc... Também é fato que a melhor diplomacia é feita por aqueles com maior domínio da língua inglesa (ou espanhola) e pelos que tem maior habilidade em comunicar e debater.

Técnicos competentes sempre foram e sempre serão (felizmente), uma necessidade de todos governos reais ou do eMundo. São os quadros de Estado, que se fazem presentes em todos os governos, não é de surpreender assim, que uma mesma pessoa seja incluída nas equipes de governo de diferentes candidatos à presidencia do eBrasil.

O problema surge quando os tecnocratas se julgam autossuficientes e autônomos em relação aos políticos. Embora seja muito fácil tomar uma decisão técnica (se temos os dados adequados para isso), aplica-la na vida real não é, muitas vezes, fácil, ou mesmo possível. Temos no eRepublik a vantagem (?) de que não há pessoas reais sofrendo com as decisões tecnicamente corretas, mas socialmente ou culturalmente desastrosas.


Pois bem, a chamada “panela” sempre pecou pelo fato de acreditar (conscientemente ou não) que tudo o que importa é a técnica, que a política está morta no eRepublik, que decidir se vamos manter ou não uma aliança com um país é apenas questão de contabilidade de dano, não dando espaço para uma opção política diferente daquela indicada por suas calculadoras. O Presidente passa a ser mais um CEO, do que um político.

Embora válido par muitas decisões, esse domínio técnico precisa ser temperado por considerações político-sociais, e pela valorização da democracia acima do autoritarismo tecnocrático.





O agravante dessa ideologia tecnocrática é que forma-se uma verdadeira panela: se tudo depende exclusivamente de decisões técnicas, apenas aqueles que aprenderam como toma-las e que se tornam competentes para assumir postos de decisão. Confundindo-se posições de Estado com posições de Governo.
E são os técnicos experientes que decidem quem está ou não pronto para essas funções. Obviamente, para esses técnicos, aqueles pupilos obedientes, por eles formados, têm vantagens sobre aqueles de “outras escolas” (Por exemplo, a escola da “panela” da Arena, que liderou ou orientou vários os governos da época da “Coligação”).





Do Populismo





Também segundo Bobbio, Mateucci e Pasquino, o Populismo seria mais uma síndrome que uma doutrina política precisa. Entre as várias definições, a que mais se aproxima do nosso caso, é que este seria baseado em dois princípios: 1 - o da supremacia da vontade do “povo”, e 2 - o da relação direta entre o “povo” e a “leadership”. (as aspas são minhas)

Essa liderança “natural” seria devida ao “fato” de que o líder teria uma empatia carismática, ou mística, com a população.

Em termos práticos esses dois elementos conduzem o “líder”, “ducce” ou “füher” a assumir uma postura autoritária:
“O voto é a única autoridade que eu preciso, o povo falou pelo voto e qualquer contestação à minha autoridade é uma afronta ao povo”.
E:
“Como líder escolhido pelo povo (povo este inspirado por um poder divino ou por um caráter nacional ou étnico excepcional), minhas decisões refletem a sagrada sabedoria do povo, e não podem ser questionadas.”


Um discurso com toques dessa categoria foi usado por nossa presidente recentemente nos debates a respeito do projeto de trazer o reforço indonésio para a América do Sul, como podemos ver nos comentários expostos neste tópico do Fórum: http://www.erepublikbr.com/showthread.php/13549-Indon%C3%A9sia-segurando-o-Uruguai/page4 (para quem tem acesso ao C😎.

Para quem não tem, abaixo o extrato de alguns comentários feitos (tenho consciência que não estou vazando nenhuma informação crítica ou perigosa para a segurança do país):

“Sobre a idéia ser ruim... bem isso é opinião pessoal de cada um, não cabe avaliação, vou fazer conforme a minha idéia pq fui eleita para isso, se a população brasileira quisesse seguir a idéia dessa meia dúzia de paneleiro teria....”

“façam alguma coisa pelo país e depois podem reclamar.”

“estou aqui neste forum nem sei pq... só pra passar informações pra inimigos, haja vista o último vazamento. Mas estou aqui pra repassar pra vcs... estou repassando... mas vcs tem que ter consciência que essa meia dúzia de haters que acessa o forum não representa o Brasil.... isso é coisa da panela... estou aqui ainda só por causa da tradição, pq as babaquices que a panela fala aqui, pra mim não vale nada.... tenho 50 MPchats onde fala com o povo brasileiro... e não adianta vcs chorarem, mês que vem tem mais.... querem apostar??? E sabe pq tem mais... pq obviamente o pessoal que usa esse forum não representa a comunidade. O Congresso sim, e tudo o que precisa de votação o congresso decide... e o que não precisa o governo decide... é assim...”

“Não importa o resultado desta empreitada... sairei com a consciência tranquila, pois fiz o meu melhor, movimentamos o país (até ontem estavam todos quietinhos, hj perdemos algumas RWs e estou loucas tentando aproveitar a brecha) e eu estou fazendo o máximo, gastando o que tenho e o que não tenho. Mas não tenham medo ainda.... isso está só começando.”



Além disso, essa liderança carismática é sustentada e alimentada pelo atendimento de demandas do povo, por meio de ações assistencialistas, que não resolvem o problema estrutural real, ao contrário, fazem uso deste para justificar a ação assistencialista.

Como exemplo, a retomada dos projetos Madrugada dos Mortos Vivos e Bastardos Inglórios, de fornecimento de recursos para combates em horários excepcionais, através de doações privadas.
Esse mecanismo foi utilizado, consciente ou inconscientemente, pela atual presidente (que foi quem iniciou tais doações e, salvo engano, é a maior contribuinte do projeto), também para a promoção de sua imagem.


A combinação dessas características marca o atual governo como um governo claramente populista. Que (aparentemente) rejeita a mediação oferecida pelo Fórum e outros instrumentos regularmente utilizados no regime tecnocrático, sem contudo ter, ou reformado os mecanismos de controle social do Fórum (duvido que poderia ter feito isso, visto ser o fórum um instrumento particular), ou proposto um mecanismo alternativo de consulta à e debate com a população.
Convenientemente, evitou colocar entre seus projetos um espaço no qual as discordâncias com a política adotada poderiam ser apresentadas (talvez por temer que a tecnocracia fizesse uso desse espaço para paralisar ou desestabilizar o atual governo).


Conhecemos vários populistas em nosso mundo real, presidentes antigos e recentes do Brasil, o grande caudilho da Argentina, líderes fascistas da Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Sérvia.... Além da figura já mítica de Chavez na Venezuela. Há os de esquerda e os de direita, não é isso que caracteriza o populismo.








Conclusões

Não é meu objetivo avaliar se o atual governo erra ou acerta mais do que os anteriores, apenas acentuar a diferença de concepção política entre eles. Deixo esse papel para os apoiadores e opositores desse governo.

Ambos os modelos de gestão do eBrasil, a Tecnocracia e o Populismo, tem defeitos e qualidades.

Aos defeitos, apresentamos acima, as qualidades seriam:
A precisão e eficiência das decisões tomadas tecnicamente (quando as decisões tem de ser técnicas), para a tecnocracia;
E a demonstração que pode haver contestação a mecanismos de administração vendidos, até então como únicos e infalíveis, ou seja, que há espaço para um debate político, para o populismo.

Embora eu esteja criticando a postura do atual governo, acredito que a eleição de uma pessoa com discurso claro contra a “panela” (ou panelas), é um avanço pois quebrou o mito de que há verdades que só são contestadas por quem não sabe o que está falando.

Ainda sem julgar se é um governo melhor ou pior (“tecnicamente”) que os anteriores, registro que não foi o fim do mundo, nem foi um governo, sequer desastroso, esteve na média dos sucessos e trapalhadas de outros governos, talvez, faltando um apuro técnico para contornar essas trapalhadas.


Acredito que esse avanço só vai ser realmente um avanço se ambos os lados (tecnocracia e populistas), aprenderem a lição e aperfeiçoarem seus métodos e suas máquinas de governo, e que a população não ceda á tentação de abrir mão de seu direito de opinar e de discordar, em troca da comodidade de não pensar e ser conduzido pelos líderes caudilhescos ou técnicos, que subirem no poleiro do poder.



Muito obrigado (e não se esqueça de votar).