Nas entrelinhas ou algo parecido
Varnhagen
Numa democracia, é comum o contraditório, a diferença entre visões de mundo, entre práxis políticas. Quando se pensa em democracia, aliás, se pensa exatamente nisso: no choque entre essas diferentes idéias. Cabe, como sói acontecer em qualquer regime democrático, que a população, de onde emana todo poder, escolha entre as diferentes opções e projetos aquele que conduzirá os rumos do país por um dado período. Quem não concorda com isso, não pode dizer que tem apreço por sistemas democráticos, pois negar essas premissas básicas é negar a própria idéia de democracia.
No Brasil e, obviamente, no eBrasil, já que somos as mesmas pessoas e não acredito numa esquizofrenia coletiva, onde aqui somos uma coisa e no “mundo real” outra, temos pouco apreço pela democracia. Um leitor mais contumaz dirá que estou me repetindo. Meus críticos de plantão, fiéis como a torcida do Flamengo, dirão que falo sempre das mesmas coisas. Tem razão os dois, tantos os leitores quanto os críticos de plantão. Realmente nunca falei outra coisa em O Minarete senão de Democracia, de fortalecimento das Instituições, dos Poderes constituídos da Nação e da necessidade de alargarmos a participação popular nos mecanismos decisórios.
Volto hoje ao tema raiz, a democracia e a construção de um Estado democrático aqui. Talvez algum dia essa discussão seja descartável, rezo para isso. Por enquanto é um assunto que, se não está colocado, se coloca por si só em qualquer pauta ou agenda política. Negar que esse é um assunto “do dia” é, no meu parco entender, assumir que a democracia é um empecilho, apenas um meio para se atingir determinado fim. Entendo eu que a democracia, mais que isso, é um fim em si mesmo. Se nos fizermos democráticos, os outros problemas tendem a serem resolvidos de forma mais efetiva. E se não forem, resta ainda a esperança de recomeçar sempre, como gente e não como gado. Até porque gado é tangido, marcado e morto. Com gente é diferente, dizia uma velha canção de resistência dos anos 60. Pois é, com gente tem de ser diferente...
O contrário da democracia é o autoritarismo e, num grau maior, a opção totalitária. Normalmente essas práxis se caracterizam pela negação da vontade popular e pela afirmação da política como reduto dos “politiqueiros”, dos “canalhas”, da demagogia, de uma forma geral. Nos modelos totalitários, cria-se a figura do “inimigo público” e se desqualifica, através dessa construção, todo pensamento que não é um reflexo da vontade do Líder. Interessante notar que essa construção não é estática: o “inimigo” pode mudar de rosto ou de forma, em consonância com os interesses da “inteligentzia” que ocupa o poder.
Da mesma forma, constrói-se o mito de que sem o Líder, estaríamos mais órfãos que um Robison Crusoé sem Sexta-Feira ou sequer um radinho de pilha e que contrariar o Líder seria, de fato, contrariar os interesses do Estado. Aqui se opera a fusão entre o Estado e o Dirigente, que encarna o Estado. Nessa operação, o povo, de onde emana todo poder constituído, se transubstancia em “massa” amorfa, plasticamente moldada de acordo com os cânones do Líder, que é sua voz, seu pensamento, seu espírito. Ir, nesse sentido, contra o Líder é ir contra o “povo”, pois nessa engenharia, o “povo” só existe como reflexo de seu Senhor. No Antigo Regime, ir contra o Rei era ir contra Deus, pois o Rei governava absoluto porque representaria a vontade de Deus. Graças a Ele evoluímos um pouco, bem pouco, nesse sentido.
É com imensa felicidade; que vejo que não temos muito disso aqui, basta observar os comentários, as falas e as ações dos que estão no poder (ou são o poder, há controvérsias...). Se dissemos muitas vezes que estão dando as cartas por muito tempo, ora, é por competência. Se não somos competentes, alguém haverá de sê-lo. Se somos todos uns boçais que nunca “fizemos nada” pelo país, curvemos nos à taca dos que aí estão e ofereçamos o lombo bruto para uma boa sova, pois só reclamamos, falamos demais e nada fazemos...
Concordemos então, numa coisa: não precisaremos mais pensar, pois há quem pense por nós, quem haja por nós, quem seja por nós o eBrasil que dizem não fazermos parte. E o resto, como gosta “muita” gente, é Iluminação. E quem brinca com Iluminados pode acabar na Santa Inquisição...
Quem tem ouvidos que ouça.
Varnhagen, aka Mahdi
Comments
Vazio.
Interessante como "democrático" é um grupo que faz o Brasil de refém com ameaças diversas no campo militar caso não ganhem.
Essa é uma leitura sua, Braga. Há outras leituras possíveis. E mais densas. Considero seu comentário vazio e casuísta. Diz o adágio popular que quem planta vento colhe tempestade. Arrogância dá nisso. Mas você ainda aprende.
Quais são essas outras leituras ou outras leituras?
O que eu vejo é que um grupo perde as eleições, faz greve militar e não defende o país sendo invadido, que teoricamente seria de todos, e teoricamente o governo foi eleito democraticamente.
Você acha democrático fazer boicote militar, porque você tem o "poder" para isso, para defender o país de invasão em retaliação por ter perdido a eleição? Isso parece respeitar o voto popular?
Você foge de qualquer consideração prática e fica nesse discurso etéreo.
Ah, eu gosto de tempestades, trovões e relâmpados. Acho eles todos fascinantes.
Cara, não defendo lutar contra o eBrasil e nem me omitir dessas questões. Não acho democrático boicotes e muito menos provocações débeis. Não defendo isso e não verá, se tiver lido, no meu texto nada nessa linha. Quanto aos discursos etéreos, não são feitos pra qualquer idiota. Nem são etéreos. Quem tem ouvidos, que ouça... Quem não tem, que continue nesse caminho. Ele é curto.
haha
Então seu papel é apenas levantar debates que não gerem conflito com as práticas dos seus aliados. Certo.
Sempre fico com uma duvida...
Porque ate hoje ninguém falo o MOFA ta errado, por favor eu posso fazer melhor deixe eu tentar? :/
Porque ninguém fala eu tenho uma entrada melhor com o país X posso contribuir? :/
Ei! você! o País Y lhe aceita melhor precisamos disso e disso, pode fazer isso pela gente? :/
Ae galera penso em ataca o país K vamos ataca-lo? (Enquete feita) :/
Quero ser inimigo de tal país por isso e isso, que vai contribuir com isso e isso (Enquete feita):/
São pequenas coisas que contribuiriam....
Sempre quem sofre é a população, que não participa das discussões, muitas vezes sendo excluída do processo. Infelizmente as ferramentas deste jogo não permitem um governo totalmente aberto e dinâmico, mas acredito que é possível fazer mais.
Porém, é preciso trabalhar nesta direção.
Não sei se o que me veio a cabeça após lê-lo era o que querias dizer, mas como sempre uma boa leitura!
Varnhagem meu presidente, sempre um grande artigo.
Quanto a democracia verdadeira, sim ela aqui é refem de um pequeno grupo que se acha melhor que os demais.
Quando seus interesses são contrariados, a vontade individual e a liberdade de associação privadas são questionadas e retalhadas.
Quanto ao atual governo da panela.
Onde esta seu Mofa?
Onde estão suas explicações?
Onde existe esclarecimento a sociedade sobre os fatos que ora ocorrem?
A propósito, quando os defensores do wipe vão começar a se manifestar alegando que ser ripado faz bem? Que ser ripado ajuda o comércio? Que ser ripado é um estratégia militar incomparável?
Votado...
@Braga, ou você não consegue entender o que lê, caso clássico de analfabetismo funcional ou quer confrontar por confrontar. A sua leitura é rasa, pequena e não dá conta do que escrevi. Não adianta, pela sua impossibilidade de pensar fora de sua órbita, achar que todos os ebrasileiros pensam de forma tão pequena também. Não somos reflexos de você, meu caro. E isso nos faz diferentes. E viva a diferença.
Leio seus textos por anos e entendo sim. Inclusive os mais antigos que eram mais produtivos.
Mas é desconectado da realidade para parecer bonito. Por uma série de mudanças no jogo e mesmo no perfil dos jogadores, a democracia cada diz mais se torna frágil. Você sabe que o peso das decisões (não dos votos) está migrando do povo, cidadão comum e seus representantes (partidos), para as milícias com sua própria agenda.
Ou então realmente não entendi de quem você está falando.
Votado, inclusive pelo debate, embora o "umbigo" da imagem final (ou seria uma imagem de alta resolução da área de impacto de um corpo celeste em Tunguska?) tenha me deixado intrigado.
Vanhagenmaxxx!
Votado!
Vanhagenmaxxx![2]
Na política e na empresa quando um líder precisa ser autoritário:
http://www.administradores.com.br/noticias/carreira/na-politica-ou-na-empresa-quando-o-lider-precisa-ser-autoritario/77246/
e votado em seu artigo Varnhagen apesar de acreditar que em uma democracia a vontade da maioria é aceita ao contrario do eBrasil de hoje onde a vontade de uma minoria são acopiladas pela maioria para formar a tão querida democracia que vocês defendem...
Infelizmente o autor confunde tomar decisões com ser autoritário e liderança com despotismo.
Talves Riograndense, talves... Mas concordo com o autor ao dizer:
Eu sou um defensor da gestão participativa, da escuta ativa, da discussão de ideias, mas o mundo corporativo me ensinou que mais importante do que o consenso é a decisão. Alguém tem que decidir, alguém tem que ouvir as opiniões – prós e contras – e ter a coragem de dizer o que será feito. Um líder que busca o consenso e quer agradar a todos é perigoso. Quando me perguntam qual é o pior líder que uma empresa pode ter, minha resposta é sempre a mesma: “O líder que não decide!”.
Sim, mas isso nada tem a ver com ser autoritário... isso é ser líder apenas.
E trazendo isso para o eR, se por ventura um CP ou PP tomar decisões furtivas apenas pq ele é o "eleito", o povo (inclusive seus pares) não vai curtir muito a ideia.