eRepublik: um mundo dominado por milícias (+ novo módulo de guerrilha)

Day 1,947, 04:35 Published in Brazil Brazil by Gahnkaz


Ai, o eRepublik... grande simulador social, político, econômico, militar. Um mundo virtual orgânico e diversificado, que trás diversão para todo perfil de jogador: o empresário, o político, o jornalista, o militar. Um jogo, acima de tudo, defensor das mazelas entediadas, procrastinador dos trabalhadores estressados e aprofundado na sombra de realidade que simula aspectos de nosso admirável mundo real. Mas isso acabou. Foi-se o tempo que o jogo circundava tantas esferas diferentes. Hoje não passa de um simulador de guerra e o resto é puro adereço.

Quando criado ele foi pensado para ser um jogo mais equilibrado, voltado para o lado econômico e político. Guerras eram caras e difíceis, assim como no mundo real e a conquista de território não eram simples. GOLD era algo raro e normalmente grandes quantidades dele só existiam nas orgs governamentais. Mas o que os administradores do jogo perceberam é o triste peso da capitalismo: o jogo não estava lucrando e os investidores reclamando. Organicamente, e sem necessidade de cartões de crédito internacionais, era possível se criar um fluxo econômico natural, conquistar seus BRLS, convertê-los em GOLD e evoluir assim, devagar e sempre, criando seus pequenos impérios empresariais. Hoje isso é impossível, afinal "Cidadãos não podem adquirir mais do que 10 Gold por dia através do Mercado Monetário e de Doações" afirma Plato. Para quem usa o cartão de crédito esse limite é 300 GOLD.

O grande truque encontrado pelos administradores para ganhar dinheiro foi simples: facilitar a guerra, torná-la frequente e barata de se começar. Isso puxou o eMundo para uma interminável guerra mundial onde existem cada vez mais elementos que fazem o seu dinheiro real ser fundamental (quando não imprescindível) para a vitória. Essa falsa sensação de que ele era desnecessário, a premiação de BH para jogadores mais fracos com a criação das divisões, os prêmios por executar tarefas diárias e missões...tudo isso é uma grande e boa farsa para mascarar uma triste verdade. Afinal, o que são as barras de energia, as partes de bazooka, as armas de destruição em massa, os upgrades nos campos de treino e seus diversos níveis e tantos outros detalhes constantemente adicionados para te puxar para a tentação do PayPal?



Consequências Políticas

Ora, se o mundo gira em torno da guerra, e consequentemente o poder se estaciona nesse módulo, os verdadeiros poderosos desse planeta virtual são os grandes guerreiros militares. Mas a grande distorção que desestabilizou de vez um já fragilizado módulo político foi a criação das milícias. O módulo político sempre foi muito mais figurativo que prático, afinal raramente a maioria do congresso (se não todos) era realmente formada por jogadores interessados em construir algo para aquele e-país, mas a diminuição do poder financeiro dos Estados foi o que trouxe a derrocada do sistema. Antes eram os Estados que detinham a maior parte do GOLD em circulação, agora esse capital está nos grandes militares compradores de moeda online.

A fórmula é simples: os eGovernos não possuem cartão de crédito ou alguém que compre moeda por ele - não acredito em tanta filantropia - mas os soldados sim, logo, são eles que decidem onde e principalmente como gastam o dinheiro.Reunidos em torno de milícias e grupos militares - e não mais em partidos - são esses grupos que definem os rumos de um país, das alianças militares e finalmente de todo o Mundo.

Acontecimentos como o ultimato de BIG GIL são meras consequências desse sistema. Outro artigo tece um pouco sobre como isso funciona em milícias como CAT e finalmente este último aprofunda como essa falsa democracia anda nesse jogo. O grande problema não é exatamente a força de choque entre milícias rivais e decisões independentes: é como o eGoverno é pivô e impotente diante disso. O presidente da república, diante desse poder miliciano, se torna quase que um simples mediador do processo decisório no jogo - um negociador entre forças militares de um país, tentando manter todos unidos, mas inevitavelmente falhando hora ou outra na missão.



Módulo de guerrilha

Hoje vimos a estreia de um novo módulo no jogo: luta de guerrilhas. Basicamente é um novo modo de batalha PVP em que, equipado com armas que independem do módulo militar tradicional do jogo, você luta contra outros jogadores. Ainda é cedo para pensar em como isso influenciará as idiossincrasias da guerra ingame, ou se vai ser apenas mais um passatempo. No entanto, a finalidade é o famigerado funil de GOLD empurrando o jogador a comprar mais e mais. Mais um símbolo, talvez o mais forte e elaborado, de como o militarismo se tornou a parte mais importante desse jogo.

E o futuro?

Esse não é um artigo de crítica que é contra guerrilhas, milícias, militares e guerras. É uma análise que mostra um mundo se tornando o que é. Mas a consequência de tudo isso - e talvez um pouco pessoal e nostálgico por parte de um e-jornalista de 1500 anos de e-vida - é a morte da essência de muito daquilo que nos fazia apaixonar pelo universo de eRepublik. Quanto mais as relações sociais e políticas se tornam consequências de cliques mecânicos e gordas faturas do cartão de crédito, menos criamos vínculos de amizade - como muito já foi feito - aqui neste universo paralelo. É uma pena, mas talvez eu só seja mais um velho apocalíptico ou paneleiro aposentado.



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Gahnkaz é jornalista na vida real e nostálgico na virtual. Joga desde os primeiros meses de V1, mas abandonou o jogo depois de aventuras como presidente partidário, ministro ou vice-presidente. Aposentado, agora faz análises filosóficas e tenta evoluir como militar em alguns cliques, algo que nunca deu muita bola no jogo.

Gahnkaz, sabe o que faz.