eRepublik: um mundo dominado por milícias (+ novo módulo de guerrilha)
Gahnkaz
Ai, o eRepublik... grande simulador social, político, econômico, militar. Um mundo virtual orgânico e diversificado, que trás diversão para todo perfil de jogador: o empresário, o político, o jornalista, o militar. Um jogo, acima de tudo, defensor das mazelas entediadas, procrastinador dos trabalhadores estressados e aprofundado na sombra de realidade que simula aspectos de nosso admirável mundo real. Mas isso acabou. Foi-se o tempo que o jogo circundava tantas esferas diferentes. Hoje não passa de um simulador de guerra e o resto é puro adereço.
Quando criado ele foi pensado para ser um jogo mais equilibrado, voltado para o lado econômico e político. Guerras eram caras e difíceis, assim como no mundo real e a conquista de território não eram simples. GOLD era algo raro e normalmente grandes quantidades dele só existiam nas orgs governamentais. Mas o que os administradores do jogo perceberam é o triste peso da capitalismo: o jogo não estava lucrando e os investidores reclamando. Organicamente, e sem necessidade de cartões de crédito internacionais, era possível se criar um fluxo econômico natural, conquistar seus BRLS, convertê-los em GOLD e evoluir assim, devagar e sempre, criando seus pequenos impérios empresariais. Hoje isso é impossível, afinal "Cidadãos não podem adquirir mais do que 10 Gold por dia através do Mercado Monetário e de Doações" afirma Plato. Para quem usa o cartão de crédito esse limite é 300 GOLD.
O grande truque encontrado pelos administradores para ganhar dinheiro foi simples: facilitar a guerra, torná-la frequente e barata de se começar. Isso puxou o eMundo para uma interminável guerra mundial onde existem cada vez mais elementos que fazem o seu dinheiro real ser fundamental (quando não imprescindível) para a vitória. Essa falsa sensação de que ele era desnecessário, a premiação de BH para jogadores mais fracos com a criação das divisões, os prêmios por executar tarefas diárias e missões...tudo isso é uma grande e boa farsa para mascarar uma triste verdade. Afinal, o que são as barras de energia, as partes de bazooka, as armas de destruição em massa, os upgrades nos campos de treino e seus diversos níveis e tantos outros detalhes constantemente adicionados para te puxar para a tentação do PayPal?
Consequências Políticas
Ora, se o mundo gira em torno da guerra, e consequentemente o poder se estaciona nesse módulo, os verdadeiros poderosos desse planeta virtual são os grandes guerreiros militares. Mas a grande distorção que desestabilizou de vez um já fragilizado módulo político foi a criação das milícias. O módulo político sempre foi muito mais figurativo que prático, afinal raramente a maioria do congresso (se não todos) era realmente formada por jogadores interessados em construir algo para aquele e-país, mas a diminuição do poder financeiro dos Estados foi o que trouxe a derrocada do sistema. Antes eram os Estados que detinham a maior parte do GOLD em circulação, agora esse capital está nos grandes militares compradores de moeda online.
A fórmula é simples: os eGovernos não possuem cartão de crédito ou alguém que compre moeda por ele - não acredito em tanta filantropia - mas os soldados sim, logo, são eles que decidem onde e principalmente como gastam o dinheiro.Reunidos em torno de milícias e grupos militares - e não mais em partidos - são esses grupos que definem os rumos de um país, das alianças militares e finalmente de todo o Mundo.
Acontecimentos como o ultimato de BIG GIL são meras consequências desse sistema. Outro artigo tece um pouco sobre como isso funciona em milícias como CAT e finalmente este último aprofunda como essa falsa democracia anda nesse jogo. O grande problema não é exatamente a força de choque entre milícias rivais e decisões independentes: é como o eGoverno é pivô e impotente diante disso. O presidente da república, diante desse poder miliciano, se torna quase que um simples mediador do processo decisório no jogo - um negociador entre forças militares de um país, tentando manter todos unidos, mas inevitavelmente falhando hora ou outra na missão.
Módulo de guerrilha
Hoje vimos a estreia de um novo módulo no jogo: luta de guerrilhas. Basicamente é um novo modo de batalha PVP em que, equipado com armas que independem do módulo militar tradicional do jogo, você luta contra outros jogadores. Ainda é cedo para pensar em como isso influenciará as idiossincrasias da guerra ingame, ou se vai ser apenas mais um passatempo. No entanto, a finalidade é o famigerado funil de GOLD empurrando o jogador a comprar mais e mais. Mais um símbolo, talvez o mais forte e elaborado, de como o militarismo se tornou a parte mais importante desse jogo.
E o futuro?
Esse não é um artigo de crítica que é contra guerrilhas, milícias, militares e guerras. É uma análise que mostra um mundo se tornando o que é. Mas a consequência de tudo isso - e talvez um pouco pessoal e nostálgico por parte de um e-jornalista de 1500 anos de e-vida - é a morte da essência de muito daquilo que nos fazia apaixonar pelo universo de eRepublik. Quanto mais as relações sociais e políticas se tornam consequências de cliques mecânicos e gordas faturas do cartão de crédito, menos criamos vínculos de amizade - como muito já foi feito - aqui neste universo paralelo. É uma pena, mas talvez eu só seja mais um velho apocalíptico ou paneleiro aposentado.
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Gahnkaz é jornalista na vida real e nostálgico na virtual. Joga desde os primeiros meses de V1, mas abandonou o jogo depois de aventuras como presidente partidário, ministro ou vice-presidente. Aposentado, agora faz análises filosóficas e tenta evoluir como militar em alguns cliques, algo que nunca deu muita bola no jogo.
Gahnkaz, sabe o que faz.
Comments
FATOMAXXXXXXX
Artigo épico!!!! Votado e recomendado
Ótimo artigo!
Perfeito! Votado com gosto.
Éh mano...é isso que faz a fome do dinheiro
Artigo + que perfeito
Votado e Assinado
muito bom!!! votado é claro
Triste realidade do jogo que era muito melhor antigamente justamente por causa do foco político. Realmente as guerras de hoje não tem a mesma graça de antigamente.
Comecei a refletir nessa questão governo x milícias. Seu artigo me abriu um pouco a mente sobre o outro lado da moeda. Realmente quem nada no país não é mais o governo, mesmo boa parte das pessoas tentando defender e acreditar nisso.
É verdade. O game é mais atrativo para quem usa o cartão de crédito, tanto assim, que diariamente centenas de pessoas entram no game, mas quando não vê perspectiva de entretenimento sem custo abandona. são milhares que desistem antes do nível 21.
Plato tem um número pequeno de jogadores, frente outros centenas de games com milhares ou milhões usuários. Ele tem que oferecer mais competitividade para jogares free caso contrário vou cansar e desistir também. Abç!
uau! q artigo... votadão.
Lindo artigo e ótima abordagem da e-realidade atual! Muito obrigado pela citação e pelo gosto de ter lido seu texto.
ta bom mesmo! votado!
Gahnkaz, aquele sabe o que faz (e fala) ! : 3
+v
votado
Muito bom texto! Votado. Quando parei de jogar não tinha milícia e era mais ou menos isso.
Muito bom mesmo! Votado
Excelente artigo
Excelente artigo.
Bem nostálgico, principalmente para quem esta aqui desde antes do jogo se focar no modulo militar.
Agora acho que deveria ter respondido aquelas pesquisas de opinião de forma diferente :/
Épico.
Nao vejo saída idem.
perfeitinho...
excelente!
abração velhinho.
Varnhagen, aka Mahdi
Muito bom
Muito bom, acabei de ler e compartilho essa mesma tese.
Votadão!
Votadão.
Gahn, melhor artigo que li nos últimos tempos, parabéns!!!
Feliz para alguns, para outros, como eu e você, infelizmente, deixamos de ser jogadores e passamos a ser clientes aos olhos do Plato. E nesta relação, o cliente quase nunca tem razão!
Pedro arrazando!
😛
Muito bom artigo, deveria virar livro! Sem PALHAÇADA, você tocou no âmago das questões que tornaram o jogo "chato". Sou novo no Erepublik, mas nasci no meio das mudanças; ano passado a coisa era outra mesmo: guerras caras e pessoas muito filantropos buscando um pouco de hombridade que já morria na época. Hoje o que vejo são grupos milicianos se digladiando por um quinhão político. Triste. Existem jogos do mesmo tipo onde são travadas lutas SOCIAIS, econômicas e administrativas. Onde o dinheiro AINDA não fala mais alto. O caso do BG, fiquei triste pelo eBrasil, pelo BG e por saber que meu país "virou uma corja de assassinos covardes, estupradores e ladrões..." Tirando do poema de Renato Russo (Sem xingar ninguém, apenas aproveitei o ensejo para colocar uma poesia pertinente...).
É isso! Gostei MESMo do seu artigo, achei informativo, interessante e sem ter sido prolixo.
Abraços
Parabéns.
Tradução da situação perfeita.