Devaneios de namuh #10

Day 3,006, 22:05 Published in Brazil Brazil by Rocha II


Hoje eu vou falar de um pensamento complexo, que é difícil de por em palavras mas vale a pena pensar.

Andando pelas ruas da metrópole, em meio a multidão, esbarrões, gritos, murmúrios, motores e buzinas, minha cabeça ficava cada vez mais cheia, me via em meio ao caos e isso me assustava, as vozes ficavam mais altas, o chão parecia macio, eu me sentia cansado e enjoado.

Já no meu limite eu resolvi sentar em um banco de um shopping, deitei a cabeça na madeira encurvada, e olhando pra cima, via as folhas de uma árvore, pensava na tranquilidade daquelas folhas, pareciam estar em outro universo, um onde reinava a paz e não o caos que estava ao meu redor, me senti confortável naquele momento, foi quando um mendigo sentou-se ao meu lado.

- Olá senhor, eu me chamo Leôncio Marques de Albuquerque, sou formado em biologia, com doutorado em ecologia, biodiversidade animal e vegetal, doutorado em microbiologia, PHD em funcionamento das células, já fui professor da maior universidade dos Estados Unidos por 10 anos e sei falar em 8 idiomas, também sou um jogador experiente de canastra e gosto de jogar handebol nos finais de semana.

Olhei para aquele homem já da terceira idade e pensei: "esse cara só pode estar de sacanagem". Ele continuou:

- Mas como na vida acontecem coisas que não conseguimos explicar, eu perdi todas as minhas propriedades num investimento arriscado e agora estou necessitado de ajuda para sobreviver, se o senhor puder me ajudar eu fico muito agradecido.

Aquele mendigo estava realmente fedorento, se ele tivesse apenas pedido alguns trocados eu teria dado na mesma hora, mas ele havia me irritado e eu não ia liberar nenhum tostão tão fácil assim.

- Sei, essa conversa toda não me engana, provavelmente você perdeu todo o seu dinheiro jogando canastra e agora está querendo que eu dê mais dinheiro pra alimentar o seu vício, acho que você nem sequer sabe nada de biologia.

O velho ficou irritado com a minha última indagação, ele se levantou e levou a mão direita ao peito:

- Claro que sei! Me faça uma pergunta e terei o prazer em lhe responder para provar os meus conhecimentos.

Fiquei curioso, lembrei das folhas das árvores que me acalmaram, pensei que elas poderiam me salvar novamente, então perguntei:

- Então me diga, como funcionam as folhas das árvores?

Então o velho começou a descrever uma árvore de forma brilhante, explicou sobre a estrutura das células, explicou o processo de fotossíntese, falou de várias e várias coisas que me lembraram do tempo de escola, no início fiquei empolgado, mas depois de um tempo e do excesso de informações, a sensação de angústia voltou, a explicação me deixava cansado e cada vez mais aquele universo de paz se tornava agudamente caótico, não eram aquelas folhas mensageiras do nirvana?

Então minha mente parou para se proteger, foi quando eu pensei que realmente nada havia mudado, então me levantei.

- Ok, ok, o senhor já me convenceu, pegue esse dinheiro aqui.

Dei uma nota de R$10,00, era a menor que eu tinha naquele momento, o senhor se foi feliz para a direção do Sol poente, como numa cena final de um filme.

Foi quando a abstração se organizou, as folhas balançavam, as pessoas se esbarravam e gritavam ao redor, os carros buzinavam e passavam como vultos, mas o mundo parecia parar, e por um momento eu podia olhar a cidade de cima e entender, então eu entendi que eu só precisava seguir o fluxo como todos os outros elementos da vida, que não devia me angustiar pelo caos, porque ele nada mais é do que o milagre das interações que os objetos e pessoas tem entre si.

Então eu gritei para o mendigo:

- Ei! Obrigado!

Ele parou, ficou parado por alguns segundos e se virou com um sorriso maquiavélico no rosto, então respondeu:

- Obrigado você, seu trouxa.