Cavalos, Currais e Panelas

Day 1,883, 05:36 Published in Brazil Brazil by Varnhagen
Meus caros amigos,

Depois de uma estadia na roça, bebendo leite no curral e capando cavalo no muque, voltei ao ritmo frenético da rotina. Quero crer que nascemos todos para as férias. O trabalho, que me desculpe a sociologia, foi um acidente ou um acinte. E num mundo de eternas férias, seríamos amáveis e gentis, tolerantes até com o vampiro de Dusseldorf. As novas gerações talvez nunca tenham ouvido falar do vampiro de Dusseldorf. Aconselho o filme do Fritz Lang para quem gosta de cinema. Para quem gosta de ver filme, acredito que não será uma boa escolha. Lei do mundo, feliz ou infelizmente. Volto à capação de cavalo. Pro cristão criado a leite e pera, poderá parecer um negócio simples: o índio vai e corta o saco do animal. Nada mais equivocado, nada mais míope. As “veias” são amarradas primeiro, de modo a evitar hemorragia. Depois, os escrotos abertos e os bagos extirpados. E fazer isso no pasto, meus caros, mais difícil que entender a lógica de alguns companheiros de eBrasil.

Saiamos, no entanto, do campo e do idílio que ele provoca e passemos ao nosso eBrasil velho de guerra, país grande e bobo, que, parodiando ao jornalista (ou será escritor?), a cada mês esquece o que se passou no mês anterior e os canalhas da véspera são os salvadores de hoje. O leitor contumaz, mais raro que reta em Niemeyer, dirá que estou exagerando. Estou mesmo. Não se faz jornalismo no eBrasil sem exageros e sem sensacionalismo. É a mídia que cria ou demole os mitos. Não importa e, creio eu, não vai importar quase nunca os fatos. O que importa ou importará, quase sempre, é a versão do fato. Nada mais simples, nada mais óbvio, nada mais cartesiano. O engraçado é que a política aqui está um passo a frente e, de certa forma, antecipa o que virá na real politique desse século. Coisa muito interessante, mais ainda para quem vê nessa bagaça um laboratório com amplas possibilidades de experimentação. O eRepublik pode ser mais do que se apresenta, meus caros.

Mudando de assunto ou não, depende do entendimento do leitor, cada vez mais raro e cada vez mais presente, não poderia deixar de comentar um post que vi hoje, pela manhã. Lá, com todas as letras, a ARENA passava a ser, como um coelho sacado de uma cartola, uma extensão da dita “panela”, “oligarquia” ou algo que o valha. Num passe de mágica, num átimo de segundo, deixávamos de ser oposição e já éramos sustentação política da “situação”. No meu espanto, me imaginava com longos cornos e imensos canecos de cerveja numa taberna virtual. E lá, à luz dos archotes, conspirava com os cornudos para evitar a todo custo um “ragnarok” definitivo. Reestabelecido do primeiro choque me vi, já de Jim Bean na mão (11:11 horas de Brasilia) aturdido pela capacidade de análise política de meus econterrâneos. Com os olhos emprestados pelo discurso hegemônico atual, passaram a ver o mundo por uma certa ótica, nem sempre universal como desejariam. Para sermos oposição, deveríamos comer o fígado do adversário no café da manhã e, se houvessem de fato, degolar criancinhas (ou nerds) depois da sesta da tarde. Se o capeta se dispusesse a estar conosco contra a “situação”, deveríamos já reservar um resort no inferno. Análises nessa direção são tão profundas que uma formiguinha passaria sem molhar as canelas. Mas são dignas de nota, quero crer.

A política aqui, é sabido ou deveria ser, tem peculiaridades diferentes do mundo real, no que tange à capacidade de inovação e ação política. Não existe (e deveria existir) uma sociedade civil organizada no jogo, que acolha projetos e programas políticos e pugne por eles. A sociedade não é organizada, só tem como palco de atuação os partidos e as eleições. E as UM’s, que ultimamente vem se politizando cada vez mais e, obviamente, elevando a tensão na política local. A ARENA sabe que, dentro do contexto do eRepublik, o raio de ação é curto. Nos entendemos como oposição porque temos, em relação aos nossos adversários políticos, idéias completamente diferentes de gerenciamento político, de gestão de recursos, de política tributária, de relação com a população, do que é o poder e a quem ele deva servir. Entendemos que os governos nasceram para o povo e não o povo para os governos. Sermos oposição não significa que quereremos, que desejemos a cada segundo, a carótida do adversário, não significa a completa rejeição a todas as proposições dessas correntes e nem a negação sistemática de todas suas avaliações ou praxis política. No mundo da Política, isso é mister dizer, há pontos de convergência e divergência. Querer misturar as coisas é um exercício frágil, facilmente desmontável.

Um abraço, ex cordis,
Varnhagen, aka Mahdi