E atão? O Atão casou com a Atoa - by Elvimonte

Day 2,734, 04:23 Published in Portugal Portugal by Psychosis

E atão? O Atão casou com a Atoa

Na primeira visita do dia à caixa de correio electrónico, deparo-me com um e-mail cujo título me desperta a curiosidade, muito por causa da autora: "Aluna bate a colega". Com o piloto automático ligado, lá vou lendo e respondendo aos restantes e-mails, deixando aquele para último. Vários pensamentos desfilam em batch pelos meus neurónios à medida que prossigo a tarefa, mas algumas interrogações mostram-se recorrentes. "A minha vizinha já não me manda e-mails há muito tempo... Aluna bate a colega? Isto talvez esteja relacionado com o caso da Figueira da Foz... Hum". Finalmente, lá acabo por abrir esse último e-mail. Apenas contém um link. Sigo-o e deparo-me com um cenário de sala de aula, onde de facto uma aluna bate a um colega. Uma.

O dia tinha começado bem. Esta minha vizinha era demais. Podia agora entrever o seu dorso delicado, o cabelo a escorrer-lhe pelas costas, a curva suave dos rins e as ancas cheias, às quais me agarrava e que me impulsionavam, sincopadas, num movimento alternado. Boas memórias. Comparada com ela apenas aquela secretária que, andando eu à procura de um rato que me pudessem emprestar, se abeirou de mim e me perguntou:
- Quer que lhe empreste a minha ratinha? É muito felpudinha. É uma amster.

Os chatos do costume lá me começavam a bater à porta. Havia que pensar noutras coisas. Entre chatos, telefonemas e algumas leituras em diagonal, lá chegou a hora de almoço. Hoje havia que almoçar cedo e só se juntou a mim um colega. Já no restaurante, enquanto o meu colega atende uma chamada, reparo que na mesa à minha direita se fala sobre alimentação e que um dos convivas argumenta a favor da dieta macrobiótica. Entretanto, um outro pergunta:
- Os macrobióticos são aqueles que comem coisas grandes, não é?
Não pude conter uma gargalhada. Mas sobre o som da minha gargalhada noto que na mesa à minha esquerda se começou a discutir acaloradamente. O volume das vozes elevou-se e ouve-se de forma distinta alguém repetir: "E atão? E atão?"

O Atão casou a Atoa. E não há NAO, que hoje entra em vigor, que lhe valha. As línguas evoluem por via erudita e por via popular. À evolução por via popular preside a lei do menor esforço. Que interessam a etimologia e os étimos, quando duas consoantes consecutivas dão muito trabalho a pronunciar? A palavra então cai nesta categoria e atão dá muito menos trabalho. Mas não se pense que a lei do menor esforço não assume um carácter mais universal. Em finais do século XVIII já todas as Reais Academias por essa Europa fora tinham elaborado os primeiros dicionários, que viriam a fixar as respectivas línguas. Todas? Todas excepto a Real Academia portuguesa, que nunca passou do A. Sem a língua fixada, entrou-se numa deriva que permitiu ao português ser a língua europeia com mais reformas nos últimos 200 anos.
Com o almoço quase terminado, digo ao meu colega que o acordo ortográfico devia ir mais longe e não se devia restringir à ortografia. Trata-se de um exercício de demonstração por absurdo:
Pluviosidade? Vem do latim pluvia, certo. Mas nós já não dizemos pluvia, dizemos chuva. Portanto, pluviosidade devia ser suprimida e devíamos passar a dizer chuvosidade. Céu plúmbeo? Plumbo é chumbo, em latim. Como já não dizemos plumbo, mas sim chumbo, se o céu estiver cinzento escuro, está chúmbeo e não plúmbeo.
Aqui também a tabela periódica precisava de reforma ortográfica. Novo símbolo do chumbo: Cb e não Pb. O mesmo se passa com o enxofre. Sulfurosos coisa nenhuma: enxofrosos. E o que dizer da palavra ginecologista? Esta ainda é pior, vem do grego gine, que significa mulher. Acabe-se com a especialidade em ginecologia, sem ofensa para as Ginas, e institua-se a mulherologia. Do mesmo modo para andrologista, que deve ser substituída por homemlogista. Aquífero? Aquático? Nem pensar. Aqua era em latim. Aguífero e aguático, isso sim. Equitação? Mas o que é isso? Ao contrário de cavalgação, que não levanta quaisquer dúvidas. O mesmo se passa com hipódromo, a substituir por cavalódromo.

Faltavam só os cafés e é de relance que reparo que na mesa à minha retaguarda se tinham sentado o Psychosis, o csc11, o Bitorino, o teXou, o IDEIAS, o ReiLusitano, a BADGIRL84 e o RMarujo. Para meu espanto todos envergavam T-shirts com a inscrição #Movimento Queremos um Artigo do Elvimonte. O resumo da conversa que ainda pude escutar encontra-se aqui:

http://www.erepublik.com/en/article/-movimento-queremos-um-artigo-do-elvimonte-2523494/1/20

Elvimonte



PS – O meu agradecimento ao Psychosis pelo empréstimo do seu jornal.




E eu quero agradecer ao brilhante camarada Elvimonte o privilégio de ver um artigo seu publicado no meu jornal.
O #Movimento Queremos um Artigo do Elvimonte encontra-se, por agora, apaziguado. Exigiremos mais sangue deste virgem do jornalismo num futuro próximo, que iremos fazer do seu lençol intelectual um Mar Vermelho.

Beijos e abraços e carícias.
Dos Confins do Submundo.
Psychosis