Carta Aberta a Dio Brando

Day 519, 22:31 Published in Portugal Portugal by Arthk

Querido Deus Imperador Dio Brando


Escrevo-te para te confidenciar algumas coisas que me têm assombrado a eAlma. Peço antes de mais desculpa por te incomodar com estas coisas, que se calhar para um Deus Imperador são apenas coisas triviais, mas ouvi durante tanto tempo falar da tua benevolência para com os necessitados que decidi escrever esta carta.

Muita coisa neste jogo anda esquisita. Eu sei que se assim é eu deveria queixar-me aos admins, mas de todas as vezes que tentei nunca tive muito sucesso, houve sempre problemas com censura, posts apagados, artigos movidos, pessoas ignoradas... e raramente houve soluções. Como me disseram que tu eras benevolente, paciente e bom ouvinte decidi transmitir-te o que me vai na alma.


Como disse, o jogo anda esquisito, poucos sabem o que andam cá a fazer. Ainda noutro dia uma nova jogadora, ao pedir-me ajuda perguntou-me qual era o objectivo deste jogo. Eu com a minha experiência toda não lhe fui capaz de responder. Demorei um dia inteiro a pensar na resposta que lhe haveria de dar, mas acabei por não conseguir responder devidamente. É deveras uma pergunta complicada, não achas ? Eu pessoalmente fui definindo muitos objectivos, mas confrontado com esta pergunta fiquei sem resposta possível.

Ainda assim, conto-te o que penso. A essência do jogo está na componente social. Na realidade não acho que tenha um grande objectivo nele, nem nunca tive, mas conforme a interacção que vou tendo com outras pessoas defino objectivos que vou (ou não) cumprindo. Eu comecei a jogar este jogo para me divertir apenas, mas acabei por trabalhar mais do que estava à espera. À medida que me fui envolvendo na comunidade fui ganhando interesse, e acabei por aprender coisas que nunca o teria feito noutras circunstancias. A certa altura envolvi-me de tal maneira que acabei por me tornar Presidente do meu País e a partir daí as responsabilidades que esse facto trouxe acabaram por definir o meu modo de jogo. Conheci muitas pessoas, li muitos artigos e muitos fóruns, discuti opiniões, ideologias, dei entrevistas, li entrevistas, opinei, recebi críticas, critiquei... Enfim, interagi com a comunidade.

Este aspecto de certo é positivíssimo neste jogo, aliás, pensando bem foi o que realmente me atraiu para o mesmo. A ideia de um jogo em que a única maneira de se jogar era interagindo com a comunidade, falando, discutindo, tomando decisões em equipa... Um jogo em que jogando sozinho seria extremamente monótono e cansativo, mas que em comunidade tornava-se divertido e interessante.


Isto tudo o que disse é verdade, longe de mim mentir ao Deus Imperador, mas ainda assim sinto esta horrível sensação que esta parte do jogo está a ser menosprezada. Estou a ver a voz dos jogadores a ser sobreposta a lucros, estou a ver as mecânicas a focarem-se apenas e só nas maneiras de se gastarem recursos, estou a ver o eMundo a esquecer-se da sua melhor qualidade, a esquecer-se daquilo que realmente faz deste jogo um jogo diferente dos outros.. Estou a ver o eRepublik a esquecer-se da sua comunidade que tantas coisas lhe ofereceu durante este tempo todo.


A única coisa que vejo são guerras, a saga pela conquista do mundo, a medição de força entre potências e mais nada. Ainda existe a parte política, mas essa está esquecida, deixada apenas à mercê da sede de poder de alguns, onde passam muitas palavras mas pouca essência, pouca ideologia, poucos artigos realmente interessantes, poucos fenómenos curiosos (como foi o caso do Paquistão e de Portugal na BETA, cujo sistema económico era mais virado para o socialismo, mas que com chegada da V1 esses mesmos sistemas passaram a ser impossíveis de existir devido às mudanças das mecânicas do jogo que propositadamente foram feitas para suprimir qualquer tipo de sistema económico que realmente se afastasse muito do capitalismo). Agora a economia dos países é demasiado linear. Quantos mais habitantes melhor, mais GOLD a entrar nos cofres, mais produção, etc etc etc. Para realmente ser-se uma potência basta-se ter muita população, impostos moderados para ir trocando a moeda local por GOLD e meia dúzia de empresas de armas de qualidade financiadas pelos impostos (esta última nem é preciso em muitos casos). Realmente optou-se mais pela imagem e quantidade mas esqueceu-se a qualidade.

E caro Deus Imperador Dio Brando, uma coisa te digo... Estou farto de guerras. Não por ser pacifista mas por serem em demasia. Uma guerra não é divertimento, deixou de o ser há muito. Todos os dias existem inúmeras batalhas, todos os dias se gastam inúmeros recursos... Para quê ? Para alianças e potências mundiais medirem forças, para ver quem conquista que território, para ver quem consegue ficar com o ego maior... Razões práticas em si não existem.

Ainda me lembro das primeiras batalhas da V1... ou até mesmo do tempo da BETA em que as batalhas eram raras e emocionantes...

Que disparate estar-te a dizer isto... tu sabes isso melhor que ninguém! Estiveste cá nessa altura! Eu na realidade só queria partilhar isto contigo para ver se concordavas.

De qualquer maneira falo-te agora da minha experiência de guerra. Eu sinceramente sei o que é uma batalha emocionante, vivi-as de perto!

Lembro-me como se fosse ontem, as primeiras batalhas a sério e emocionantes da V1. Foi no meu próprio País, vê lá, cá em Portugal! Estava eu no meu primeiro mandato como Presidente quando Espanha nos declarou guerra. Tempos conturbados esses... foi a primeira guerra em grande escala que existiu. Lembro-me das primeiras batalhas, todo o mundo focado nelas, todo o mundo interessado no resultado, cada momento da batalha era passado com emoção. Grandes vitórias eram festejadas, derrotas choradas, cada ponto na muralha era feito com empenho, cada arma gasta era gasta com o sacrifício de quem luta pela Pátria.

Foram bons tempos até nos apercebermos que não havia vantagens nenhumas em fechar guerras neste jogo... aliás, as desvantagens eram bem mais do que as vantagens. E a partir daí as batalhas foram diárias, a partir daí habituámo-nos a elas. Nunca mais houve tanta emoção como ao inicio. A guerra ficou banalizada, sem valor. Algo que deveria ser o último recurso é tido como algo que se faz numa base diária. A guerra em si está muito subvalorizada.

Essas guerras também dependem apenas dos números. Quanto mais pessoas e recursos gastos melhor. A componente estratégica é quase nula.... bem, aqui eu até estou a dizer uma asneira. A componente estratégica existe, baseia-se em bloqueios e fusos horários. Se uma batalha ocorrer num fuso horário benéfico uma potência facilmente ganha (pois tem mais pessoas acordadas no final da batalha), mas para conseguir ter a iniciativa de iniciar as batalhas no horário que lhes convém precisa de bloquear o inimigo, dando margem para passar à ofensiva. A técnica usada para bloquear é arranjando um outro País que ataque o inimigo, impedindo assim que ele ataque primeiro, dando tempo para se atacar nas horas que quisermos. O problema vem do facto que esses países usados para atacar são países normalmente pequenos, que por essas potências estarem em confronto sofrem as consequências disso mesmo. Vêem cidadãos estrangeiros a instalarem-se no seu país e elegerem um candidato desconhecido, isto tudo por causa de uma guerra.´Os gritos para o módulo da cidadania são imensos, mas já passaram meses e ainda não se viu nada.

Mas agora falando de Países pequenos... Já reparaste que existem inúmeros países fantasma? Chamo países fantasma àqueles países que não têm representação da população da vida real suficiente para realmente construírem um país, ficando assim à mercê de governos falsos, que servem apenas para acalmar o ego de quem não consegue ter a medalha de presidente no seu país de origem. Ou então para se roubar todo o GOLD que eventualmente esses países possam ter.

Mais estranho ainda é o facto de estarem sempre a ser criados novos Países que na realidade são Países fantasma. Esses países são logo pilhados por membros de grandes potências, com o único objectivo de deitar a mão aos 1000 GOLD iniciais de cada país. Não achas estranho estes países serem criados ? Eu sinceramente não percebo, não sei qual a urgência em criar países sem haver pessoas desses países a jogar em quantidade suficiente...

Sinceramente, este eMundo já não é o eMundo que conheci outrora...

Cada vez que cá estou penso "estes admins querem é vender GOLD". Sim, claro, é normal. Mas acho que poderiam fazer um trabalho bem melhor do que fazem neste momento. Até porque se realmente quisessem vender GOLD, como é que falharam tão redondamente neste caso do GOLD falso ? Como é que eles puderam dizer a todos há uns meses atrás que esse problema tinha sido corrigido, e agora vamos a ver e afinal não foi ? Não é do interesse deles vender o GOLD ? Eu sinceramente já nem sei, não percebo mesmo.

Este jogo é suposto ser um jogo de estratégia social (como diz na pagina de entrada, Social Strategy Game) e eu vejo a parte social a ser menosprezada e a parte da estratégia a tornar-se linear e basear-se em takeovers políticos. Estará isto correcto?


Sim, eu sei o que estás agora a pensar, e mais uma vez peço-te desculpa por estar a dizer-te isto tudo. Não és tu que tens de ouvir as minhas queixas, mas sim os admins do jogo. Mas não penses que não tentei! Aliás, não fui só eu!

Toda a comunidade tem pedido maneiras alternativas de ver o jogo, toda a comunidade pede justiça (como em certos casos de favorecimento de amigos dos admins), toda a gente sugere soluções para um eMundo melhor. Já vi muita gente a escrever artigos interessantes não só pedindo o módulo da cidadania mas também dando outras perspectivas do jogo, outras maneiras de se jogar. Mas esses pedidos infelizmente têm sido constantemente ignorados ou censurados. Já vi artigos e posts apagados, já vi excelentes ideias ignoradas, já vi muita coisa.

Mas o que realmente ressalta à vista é a preocupação dos administradores em ganhar dinheiro, é a preocupação pela imagem e não pela essência, é erepublik shop, é erepublik funny tshirts, é facebook applications... e o jogo em si?

Lembro-me de ouvir o lema "Citizens build eRepublik" da boca do Alex Bonte e lembro-me do quão inspirado fiquei com isso. Neste momento digo com tristeza que a comunidade está a ser ignorada, estão a tentar calar a comunidade em nome do lucro fácil, comunidade essa que é quem deveria construir o jogo!

Porque não contratar especialistas em economia, política e sociologia para ajudar a desenvolver o jogo? Eu ouvi muitas vezes o grito de que "só com a guerra o eRepublik é divertido" mas essa mesma guerra tornou-se repetitiva e monótona. Porque não tornar as outras componentes do jogo realmente interessantes ? Porque não criar um jogo em que realmente seja interessante de jogar sem guerras, em que a guerra seria o último recurso e seriam pouco frequentes mas emocionantes? Porque não dar uma nova perspectiva ao jogo, cujo conceito é excelente?

Sim, o conceito é genial! Penso que ninguém o nega, resta saber como é que ele se aproveita.

Não, não fiques a pensar que vou sair do jogo, tenho razões para ficar, como é óbvio. Tenho a população do meu País que confiou em mim para o gerir este mês e vou continuar. Para além disso tenho as pessoas que conheci, as pessoas com quem discuti, as pessoas com quem convivi. O que me mantém neste jogo não é o jogo em si, é sim a comunidade, a componente social. Percebes porque é que essa componente é importante?

Para além disso quero acreditar que a comunidade tem realmente o poder de mudar o rumo que o jogo está a ter. Não acredito que a política que tem sido usada pelos administradores de censurar para esconder as falhas do jogo vá sobreviver. Eu acredito que as falhas do jogo irão ser apontadas por todos nós, a comunidade, e a partir daí tomaremos o caminho certo para jogarmos realmente um jogo interessante e divertido.

Chama utopia a isso à vontade, mas prefiro pensar assim a desistir e ver este potencial todo cair.

Espero não te ter maçado com esta carta longa e se calhar um pouco chata de se ler, mas realmente já que os admins não ouvem a voz da comunidade, tal como o Padre António Vieira se dirigiu aos peixes quando os homens não o ouviam eu me dirigi a ti, tendo a certeza que és um bom ouvinte e que te preocupas com os nossos problemas, ao contrário do que os admins parecem fazer.

Com os meus melhores cumprimentos,


-Arthk
um simples cidadão do eMundo


P.S.- Queria traduzir isto para ingl~es, mas vai ser o cabo dos trabalhos ;_;