Sobre recrutamento e o papel do Estado

Day 2,125, 16:59 Published in Portugal Portugal by John Bokinski

Bom dia,

Existem 2 artigos que tenho planeado escrever há algum tempo, mas que tenho tido falta de tempo/paciência para os escrever nos últimos meses.

Um deles tem enfoque no facto de a forma como os países se relacionam no eRepublik ter se alterado substancialmente. Globalmente as alianças tinham por base as relações de amizade criadas entre comunidades mas actualmente essas relações foram transformadas de forma a que o interesse próprio seja a cola que constrói alianças. Gostaria de descrever os processos que levaram a que isso acontecesse, na minha opinião, e as implicações que isso pode ter para Portugal.

Vou adiar este artigo para mais tarde porque existe um tema que acho mais premente falar. A evolução da nossa comunidade e alguma tendência para o retrocesso que existe quando olhamos para alguns indicadores do jogo.

Em primeiro lugar, muita da informação que comentarei neste artigo é fornecida pelo e-Gov. O e-Gov não é uma fonte de informação perfeita, mas é a melhor que temos. É claro para todos que os dados populacionais que existem no jogo não têm qualquer ligação com a dimensão das comunidades, o e-Gov sem ser perfeito, é uma ferramenta que nos fornece informação mais realista, desde que a mesma tenha um número de observações suficientemente extensa.

O e-gov é um site criado pelo cidadão polaco Avie que recolhe um conjunto de estatísticas sobre o eRepublik. Tem informação sobre cidadãos activos, cidadãos que lutaram, dano, força, rank, treino etc. Muita informação. A informação sobre cidadãos activos é, à minha vista, também pouco precisa, e tenho avaliado a dimensão de cada comunidade com base nos hábitos de treino e não com base no que o site indica como cidadãos activos.
Fiz uma recolha de dados bastante densa entre o dia 1900 e 2120. São cerca de 220 dias, mais d 7 meses de dados.

O dia 1900 para contextualizar, situa-se já alguns meses, após o wipe que sofremos de Espanha, quando o Brasil e os USA nos retiraram apoio e passaram a apoiar Espanha. Situa-se após os baby booms “FalconetPT” mas antes de alguns BB pontuais que os governos da altura perseguiram.

No dia 1900 a nossa comunidade rondava os 1000 jogadores a treinar, no entanto, com base num esforço de recrutamento empenhado o número de jogadores portugueses a treinar evoluiu de forma muito rápida. Cerca de um mês mais tarde 1930 tínhamos quase 1200 jogadores a treinar e atingimos o máximo de jogadores a treinar no dia 1953 com 1304. Esse número nunca foi recorrente e foi fruto de um BB na altura, mas quando se normalizou, perto de 1960, passámos a ter entre 1150-1200 jogadores a treinar. Durante muito tempo este número manteve-se estável, se bem com ligeira tendência para a redução, com os jogadores em treino a ficarem sistematicamente entre os 1100 -1150 jogadores, ou seja, um período de cerca de 3 meses em que a nossa população activa praticamente estabilizou. Mas esta tendência de estabilidade mudou a partir do dia 2050. Desde esse período temos perdido cerca de 50 jogadores por mês e hoje em dia temos entre 900-950 jogadores a treinar.

Estruturalmente a comunidade também mudou. Em 1900 tínhamos cerca de:

D1 – 375
D2 – 235
D3 – 160
D4 – 170

Hoje temos:

D1 – 250
D2 – 350
D3 – 140
D4 – 200

Parece uma evolução estranha, com a D2 e a D4 a crescerem e a D1 e a D3 a minguarem mas isto tem uma explicação.

Durante muitos meses antes dos BB “FalconetPT” ninguém na nossa comunidade procurou recrutar em massa para o jogo. A comunidade tinha um número de jogadores novos por dia bastante reduzido e isso provoca que a comunidade envelheça e comece a se concentrar na D4. As comunidades Russa e Croata são exemplos do que estou a dizer, uma grande acumulação de jogadores antigos, mas sem renovação as restantes divisões perdem jogadores que não são repostos.

Com os BB ocorridos entre 1800-1900 e os que ocorreram entre 1900 e 1950, criou-se uma onda de jogadores em Portugal que actualmente, na maioria dos casos está a passar na D2. Mas a nossa D3 tem um buraco muito grande, porque poucos jogadores dessa onda chegaram à D3. Isto é normal e estava relacionado com a falta de novos jogadores há cerca de um ano atrás. Pouco podemos fazer para mudar isto.

A quebra da D1 é mais grave. No dia 1953, atingimos também o número máximo de jogadores a treinar na D1 653, e o número manteve-se acima dos 450 por meses. Hoje, como mencionei temos 250 e a tendência é de baixar mais ainda.
Esta situação tem duas implicações uma social e outra militar. A social prende-se com a renovação da comunidade que julgo ser sempre fundamental, novas ideias, novos jogadores com disponibilidade para contribuir para a comunidade. No entanto, novas ideias e novas personalidades também trazem discussão, divergência de opiniões e a comunidade muda.

No aspecto militar a entrada de novos jogadores é fundamental para reforçar o potencial militar da comunidade se bem que o impacto militar de BB’s leva tempo a maturar, e esforço por parte da comunidade para integrar os novos jogadores, porque como todos sabemos, os novos jogadores têm tendência para se lutar muito quando é o contrário que se aconselha.

A contracção na entrada de novos jogadores no jogo deriva, na minha opinião, pela ausência de iniciativa do estado/governo em serem os motores desse recrutamento. Nos últimos 4-5 meses os governos em Portugal têm ou descurado totalmente o recrutamento ou criado incentivos para os jogadores privados recrutarem. O próprio jogo concede bastante incentivos ao recrutamento, por isso, francamente não creio que seja os incentivos do estado que tenham um impacto significativo no recrutamento.

Em primeiro lugar gostaria de clarificar que eu vejo o recrutamento apenas como uma das fases do processo de aumento do número de jogadores para a comunidade. O processo em si inclui: (i) recrutamento; (ii) acolhimento; (iii) tutoring e (iv) formação. É também por esta razão que eu não chamo baby boom ao recrutamento. O baby boom é algo diferente, são acções efectuadas por jogadores com enfoque em meios de “mass media” que faz num período de tempo entrarem centenas de jogadores no jogo, mas muitos desses jogadores nunca tentarão jogar o jogo. Dos que tentam jogar o jogo (imaginem 20% do total), se não tivermos capacidade de fazermos o acolhimento e o acompanhamento do jogador, vamos perder muito mais jogadores do que aqueles que são adequadamente acompanhados.

Por sistema, num BB as estruturas de acolhimento não têm capacidade de lidar com todos os jogadores que entram no jogo, enquanto que, se o recrutamento for consistente, podemos ajustar essas estruturas mais lentamente ao aumento do numero de jogadores activos. É por esta razão que acho que o recrutamento é fundamental e estrutural. Os baby booms podem permitir saltos na população activa mas são mais difíceis de gerir.

O problema de Portugal é que nos últimos 4-5 meses o recrutamento nunca foi feito de forma consistente. Vemos diariamente entrarem 20-30 jogadores, dos quais 4-5 efectivamente tentam jogar o jogo. É muito pouco. No período de 1900-2000 tivemos meses em que todos os dias entravam 80 jogadores e por vezes tínhamos dias de 200-250.

Ao não fazer recrutamento, deixamos a nossa comunidade mais jovem minguar e começamos a ver sinais disso, mesmo nas batalhas. A nossa D1 ganhava a Espanha sistematicamente há 3 meses atrás, hoje as coisas mudaram. Para ganharmos uma batalha mais a sério, precisamos dos nossos D1 de elite a lutar em força, porque se contássemos só com o volume da nossa D1 os resultados já não seriam muito positivos. E como é óbvio, se a nossa elite da D1 lutar muito irão deixar de ser D1… Passemos aos números só para terem uma ideia.

No dia 2054 Portugal tinha 163 jogadores no top 3000 do ranking de força da D1. Isto representava 5.4% do total e colocava Portugal como uma das 3 melhores D1 do mundo. Isto era acompanhado por 18-20 jogadores no Top100, algo que também não tinha rival. A Espanha no mesmo dia tinha 102 jogadores (3.4😵. Nesta altura Espanha tinha mais 20% de jogadores a treinar em D1 do que Portugal, mas o facto de termos programas de jogadores a treinarem sem lutar fazia com que dominássemos no ranking de força.

Hoje (2124) temos 139 jogadores no top3000 da D1 e a Espanha tem 125. Ou seja, a Espanha não só tem mais jogadores a treinar na D1, como tem crescido bastante a sua quota de D1 top. Nós estamos a perder e de 5.4%, baixámos para 4.6%. Ainda temos uma elite muito forte na D1 (14 no top100), mas alguns já passaram para a D2 onde ainda não são tão influentes.

Se olharmos para a D2, nas mesmas datas, vemos que aqui crescemos, passámos de 81 jogadores no top3000 da D2 (2.7😵 para 97 (3.2😵. Os Espanhois também têm melhorado, passaram de 153 para 162, eles são uma potência mundial em D2. Mas as melhorias que temos na D2 derivam de um trabalho realizado 150 dias antes, ao deixarmos de trabalhar para reforçar voltaremos ao passado. E apesar de todo o esforço efectuado pelos nossos jogadores D3 e D4, eles representam o que era Portugal em termos de peso militar nestas divisões. No caso da D3 temos 46 jogadores no top3000 (1.5😵 e no caso da D4 28 jogadores no top3000 (0.9😵 e zero no top500. O impacto de Portugal com 3-4% é muito diferente de 1-1.5%.

A razão que eu acredito que o recrutamento deve ser uma função do estado, prende-se com duas razões fundamentais:

A primeira advém do facto de já estar provado que nem sempre os jogadores individuais têm hábitos de recrutamento recorrentes, e o nosso passado recente e remoto (onde o recrutamento nem era visto com qualquer prioridade) são bons exemplos que se queres ter recrutamento não podes depender de algo não estruturado.

O segundo ponto, igualmente importante, é que o recrutamento privado é efectuado para as Mu’s ou os partidos de quem os está a recrutar e isso origina muito dos problemas que temos hoje. O tutoring e a formação é efectuada por jogadores que eles próprios têm pouco conhecimento do jogo e frequentemente, o apoio que dão a novos jogadores tem por objectivo a defesa dos seus interesses pessoais. Esse recrutamento ocorrerá sempre, mas provoca sectarismos e divisões. Um aconselhamento neutro, como no passado foi realizado, sempre formou melhor os cidadãos. Mas as estruturas que faziam esse trabalho desapareceram ou têm uma capacidade marcadamente inferior ao passado. Os SET, e os eNoobs (iniciativa privada), as FAP etc, foram importantes na nova geração formada a partir de 1800-1850.

No inicio falei do processo: recrutamento – acolhimento – tutoring – formação. Olhemos para as estruturas actuais:

Recrutamento organizado – não existe, já houve períodos que o governo assumiu esta função mas nunca de forma estruturada.

Acolhimento – nunca foi criado. Era efectuado ad hoc
Tutoring – Já existiram vários programas públicos e privados. Actualmente está tudo inactivo.

Formação – Os conteúdos antigos existem, alguns mais actuais que outros. Alguns tutoriais têm sido criados mas os media são meios que não chegam a todos.

Por isso, o problema não acaba no recrutamento, mas sem recrutamento que motivação existe para se criarem as estruturas seguintes.

É óbvio que criar recrutadores oficias de Portugal, criar estratégias de recrutamento e depois preparar as estruturas de acolhimento, tutoring etc dá trabalho. Mas se temos equipes de finanças, e negócios estrangeiros, porque é que o estado não tem estas equipes ? dentro ou fora do MDS. Este jogo não é apenas um jogo de guerra, somos nós que o fazemos num jogo de guerra.

Nota: Este artigo foi escrito antes da actual crise política em Portugal e as opiniões que nele expresso não têm qualquer ligação aos eventos mais recentes.