Sobre Contratos Sociais

Day 1,882, 16:54 Published in Brazil Brazil by H00LIG2NS


Foi num mundo devastado pela guerra civil, destruído por anos de atrocidades, desagregado por insolúveis desacordos de ideologias, disperso pela insuperável discordância das religiões, foi neste mundo banhado de sangue, esquecido pelos deuses e amaldiçoado pelo inexorável ciclo da história, que surgiram os primeiros pensadores dos chamados “pactos sociais”.

Num mundo aonde a própria natureza dos homens os dividia, aonde suas crenças os encaminhavam ao caos, estes pensadores sonharam que, se não pela natureza, seria através de um contrato que conseguiriam conviver, que conseguiriam estabelecer um conjunto básico de regras, uma autoridade mínima com a qual poderiam reger sua sociedade.

Esta sociedade fadada ao fracasso, esquecida num canto frio e dispensável do mundo, foi a Inglaterra do séc. XVII, e estes pensadores têm sua maior expressão em Thomas Hobbes, e posteriormente John Locke.

O pitaco de hoje se dedica a esta antiga idéia, que como todas as lições mais valiosas, às vezes não nos custa relembrar.

Em tempos como estes, de opiniões fortes e opostas, disputas generalizadas, rixas insolúveis e acusações múltiplas, parece-me de bom grado retornar ao básico, àquilo que não deveríamos, mas que por vezes damos por esquecer.

O Problema

Acompanhando discussões sobre as ações recentes destes nossos congressistas aloprados (esses que aprovam cidadanias e enviam NEs a bel-prazer), que aparecem de vez em quando, houve uma certa gama de argumento que preocupou-me, e merece ser rebatida em boa e alta voz.

Estou falando especificamente dos argumentos que negam certos instrumentos “off-game” como válidos para tomar decisões nacionais.

Fico preocupado, por exemplo, quando jogadores dizem que nosso fórum (do eBrasil) seria apenas Roleplay, enquanto outros dizem que o Cantinho Brasileiro e o Bunker Nacional seriam grupos privados, e que não seria necessário, portanto, seguir decisões deles quando não o desejarem.

Isso me deixa preocupadíssimo, por que antes de qualquer discussão, é indispensável concordar ao menos que o fórum não é optativo, ele é determinante para as regras de convivência da comunidade ebrasileira.

Concordar que o fórum é um espaço de discussão e decisão da comunidade brasileira é o mínimo necessário para termos uma convivência tolerável.

Vejam só, 99% do erep acontece extra-game: irc, formulários, chats, fóruns, etc, etc.

As regras do jogo "em si" determinam muito pouco:

- De acordo com as regras ingame, por exemplo, não existem alianças como EDEN, TWO ou CoT, existem apenas MPPs de 30 dias que o congresso pode aprovar à vontade com quem quiser.

- De acordo com as regras ingame, não existem "grupos corporativos", acionistas, empresas da milícia, nada disso, existem apenas empresas pessoais, controladas por um único jogador.

- De acordo com as regras ingame, não existe exército nacional, existem apenas "grupos militares" autônomos

etc, etc, etc.

As regras ingame determinam muito pouco na dinâmica do erep. As regras ingame são a base, o tabuleiro no qual se colocam algumas regras básicas.

O resto é feito pela própria comunidade:

- Não existe nada ingame que impeça o Brasil de ter MPP com a Romênia e o Chile ao mesmo tempo. No entanto, a dinâmica do jogo estabelecida pelos jogadores torna isso inviável.

- Não existe nada ingame que impeça um jogador de tomar as empresas da milícia para si próprio, já que estão no seu perfil. No entanto, a pressão da comunidade faz dessa atitude um suicídio social.

etc, etc.

Portanto, as regras ingame são poucas e pouco determinantes na maioria das coisas.

O que determina a dinâmica de convivência do erepublik são as regras que, de certa forma, nós mesmo estabelecemos.

É um contrato social, digamos, que nós fazemos para facilitar nossa convivência.

Sobre Contratos Sociais



Traçando um paralelo com a vida real: se todos no Brasil deixarem de reconhecer uma lei, essa lei deixa de existir. Se a população não cumprir, a polícia não fiscalizar e a justiça não punir, a lei se torna simplesmente inócua, mesmo continuando escrita e "válida".

Ao mesmo tempo, se ninguém reconhecer a lei, e ninguém aplicá-la com justiça, passaremos a viver numa “terra de ninguém”, aonde vale apenas a lei do mais forte, e a guerra acontecerá contra todos, sempre. Uma realidade que, infelizmente, conhecemos bem no nosso Brasil real.

Então, nossa vida é determinada por certos "contratos sociais", ou seja, alguns parâmetros de comum acordo que estabelecemos para facilitar a convivência.

No erepublik seguimos a mesma lógica: nós temos alguns "contratos sociais" que permitem que nossa comunidade tenha uma convivência pacífica e sadia, aonde todos sejam respeitados e tenham alguns "direitos" garantidos.

Caso contrário, teremos lei da selva, cada um fará o que quiser, e o país virará um balbúrdia que em 1 mês será "Argentina do Norte", "Colômbia do Sul" ou qualquer variação destas.

Já imaginou, por exemplo, o que seria do nosso país se cada congressista aprovasse toda cidadania que desejasse? Há muito tempo já haveríamos perdido controle do país.

O que seria, se cada congressista ou partido declarasse NE sempre que quisesse? Jamais haveríamos tido nenhuma campanha militar de porte, nenhuma conquista, nenhum bônus.

Enfim, temos regras, e temos espaços para defini-las, porque sem isso não conseguiríamos jamais estabelecer uma comunidade organizada.

Então por favor: nosso fórum NÃO É ROLEPLAY. O fórum é um contrato social que nossa comunidade estabeleceu para permitir a convivência amigável.

Ele é off-game? Claro, o irc também, e dezenas de outras ferramentas importantíssimas do erep também são.

Estou nesse jogo já há algum tempo, e se há uma coisa que posso garantir que é fundamental, é o fórum.

Sem ele a comunidade não terá organização, comunicação nem discussão.

O Fórum



O fórum é fundamental porque ele permite discussão sem "ruídos", ou seja, eu não preciso necessariamente estar online às 22h45 de terça-feira para participar da reunião do irc, eu não preciso ter amigos de determinados grupo para ficar sabendo os shouts de tal notícia, eu não preciso ter 800 assinantes no meu jornal pra minha opinião entrar no "top 5" e ser ouvida, etc, etc.

Sem o fórum, como vamos discutir?

Com shouts de parágrafos curtos, que meia dúzia leu e comentou, e desaparece em 15 minutos da minha lista?

Com artigos aonde alguém publica apenas a sua opinião e os outros disputam espaço na flamming war embaixo?

O fórum é fundamental, porque equaliza a discussão, ou seja, é um espaço que facilita, é um catalizador importante:

- No fórum todos têm o mesmo espaço para escrever quanto quiserem, e têm a mesma importância, ao contrário de artigos e comments

- Todos podem fazer seus posts, logando quando quiser e ter sua opinião ouvida

- As discussões têm continuidade, ou seja, não acabam em 1h de reunião no irc, não duram 30min num shout, não ficam só 2 dias num artigo. No fórum as discussões podem ser mais longas, complexas e constantes.

Enfim, sem o fórum seremos grupinhos dispersos conversando com as paredes.

O fórum é uma ferramenta fundamental da comunidade brasileira, e sem ele só iremos afundar na intolerância e falta de compreensão.

Portanto, quando falam que o fórum "é só roleplay", isso me deixa preocupadíssimo. Isso significa que as pessoas estão deixando de reconhecer um contrato social básico de coexistência, sem o qual passaremos a ter lei da selva no eBrasil.

Pacto de Convivência – uma solução necessária



A lição principal dessa polêmica toda talvez seja que precisamos reconstruir nosso fórum.

Precisamos deixar claro que o fórum exprime a opinião da população, e que todos devem participar.

Ao mesmo tempo, claro, precisamos garantir que haja moderação justa, e que haja espaço para todas as opiniões. É indispensável que o espaço seja imparcial ao máximo.

São duas medidas, assim: estimular a participação de todos, e re-estruturar nosso fórum para acomodar e receber de braços abertos todo tipo de pensamento.

Obviamente, sempre haverá os chatos de sempre, que se recusam a participar e adoram gritar “panela” sem se esforçar para conviver primeiro.

Mas isso não impede que façamos o que precisamos fazer. É indispensável que a maioria da população, ou seja, aqueles de bom senso, estejam presentes no fórum, e reconheçam as discussões e decisões de lá.

Enfim, o que coloco aqui nada mais é que um pacto de convivência, para que, mesmo com todas as nossas discordâncias, estejamos de acordo com um conjunto básico de regras, que deverão se aplicar a todos. Regras que só podem ser discutidas, decididas e impostas por um espaço de comum acordo e participação, ou seja, o fórum.

Isso significa que o fórum precisa ser sagrado, já que deve ser um espaço de integração, aberto a todas as correntes de pensamento, sujeito a brigas, claro, mas brigas que estabeleçam as regras básicas da comunidade.

Claro, não será de hoje para amanhã que tudo ficará melhor e mais fácil. Mas, estabelecendo algumas bases de discussão e respeito, acredito que teremos no futuro uma comunidade mais forte. Para isso, é indispensável reconhecermos em conjunto, que é no fórum que a comunidade discute e convive.

Participar de uma comunidade única, mesmo discordando de tudo entre si, é o básico para termos um eBrasil forte. Não custa relembrar Hobbes:

“Quem quer que sustente que teria sido melhor continuarmos naquele estado, em que todas as coisas eram permitidas a todos, estará se contradizendo. Pois todo homem, por necessidade natural, deseja aquilo que para ele é bom; e assim ninguém considera que lhe faça bem uma guerra de todos contra todos, que é a consequência necessária daquele estado. Portanto sucede que, devido ao medo que sentimos uns dos outros, entendemos que convém nos livrarmos dessa condição , e conseguirmos alguns associados – para que, se tivermos de travar guerra, ela não seja contra todos, nem nos falte algum auxílio.”


Convido todos, assim, a participarem do fórum do eBrasil. Que a guerra exista, mas jamais de todos contra todos. Muito menos de brasileiros contra brasileiros.