O caso para a existência de umas Forças Armadas Nacionais

Day 2,519, 12:50 Published in Portugal Portugal by John Bokinski
Introdução

O programa do actual CP de Portugal, tornou de novo relevante a discussão sobre a importância, ou não, da existência de forças armadas financiadas e controladas pelo Estado ou devíamos deixar a nossa capacidade militar totalmente dependente de organizações privadas que possamos aliciar a lutar por Portugal com base em incentivos monetários ou outros, inclusive a tendência destas organizações para lutarem por países aos quais têm afinidade.

Este é um artigo de opinião. Poderei mencionar alguns factos, mas a base do mesmo é a minha visão das coisas e não quaisquer dados ou estatísticas.

Apesar de eu apoiar que existem muitas funções na sociedade, que devem ser desempenhadas por entidades privadas, existe algumas funções que considero que são função do Estado e que em primeira instância devem estar sob controlo do Estado. Duas funções que caiem nessa categoria são a Justiça e a Defesa do nosso território.

Saliento, que digo Estado e não governo. A justiça, como é óbvio nunca poderia estar sob alçada do governo, uma vez que normalmente faz parte de um poder autónomo face ao poder executivo e legislativo. Neste jogo a justiça não foi considerada (uma das muitas melhorias que o jogo poderia ter que nada tem a ver com o módulo militar).

A defesa é uma caso bastante diferente da justiça. O módulo militar é uma parte fundamental da actividade no jogo e quando abordamos a temática de forças armadas do estado a primeira coisa que (na minha opinião) devemos analisar é a nossa perspectiva sobre o jogo. Em particular, se vemos a nossa cidadania como parte de uma nação, ou se não temos realmente cidadania de nenhuma eNação e enquadramos a nossa interacção social como parte de uma MU militar ou outro grupo qualquer.

Uma questão de poder negocial

Eu continuo a ver a minha primeira filiação a Portugal como a dominante. Na realidade não tenho outra qualquer filiação, uma vez que vejo a minha presença na unidade militar onde estou, como passo lógico para a minha filiação a Portugal. Mas muita gente que está em MU privada também tem como primeira filiação Portugal e a unidade militar como segunda filiação.
Existem, no entanto, outros que têm a sua unidade militar como primeira filiação, são formas de ver o jogo e nem todos temos as mesmas perspectivas, é natural.

Para quem tem como filiação primária, uma eNação, existem determinadas restrições. Independentemente da nossa opinião pessoal, existem determinadas políticas emanadas pelo governo e congresso que devemos seguir. A política de alianças e na generalidade as opções relacionadas com política externa, é uma delas.

Por outro lado, um estado para ser levado a sério, no contexto das relações internacionais, precisa de ser capaz de demonstrar aos seus aliados, que o seu apoio tem impacto nos campos de batalha. Por muito simpático que seja mensagens fraternais de apoio a um país, por parte do nosso governo, se esse mesmo governo, não tiver capacidade de mobilizar uma força para materializar o seu apoio em dano, o poder negocial dessa nação será sempre diminuto.

O estado, para ter essa força à sua disposição, tem de tipicamente financiar uma organização militar que assegure a mobilização dessa força. Quanto mais estiver disposto a pagar maior será a força que consegue reunir. Obviamente que os custos associados a esta organização têm de ser competitivos, não faz sentido que o Estado tenha mais custos com as forças armadas nacionais do que teria se comprasse dano a privados, mas por outro lado existe também um valor intrínseco de poder contar com uma unidade militar que dá dano pelo Estado português, de forma fiável.

Vou dar um exemplo prático. Eu já fui embaixador português na Ucrânia durante 2 meses, na altura em que Portugal tinha poucos aliados e procurava redefinir as suas amizades. Durante esse período conheci melhor a comunidade e existem alguns traços da Ucrânia que se aproximavam de Portugal, nomeadamente o esforço em sobreviver rodeada de vizinhos mais poderosos. Hoje, dá-me pena que a Ucrânia esteja tão abandonada, e seja uma vez mais wipada pela Hungria e Roménia. Eu como cidadão preferia não lutar contra a Ucrânia, eu como militar colocarei as DO’s onde o MoD mandar e lutarei pela Hungria e Roménia contra a Ucrânia. Os responsáveis de MU’s privadas não precisam de fazer isso, podem decidir vender o seu dano a outro país que não Portugal.

Ao longo dos tempos já tivemos vários modelos, uns que implicavam maiores e menores encargos para o estado. No entanto, à cerca de 18 meses atrás um governo decidiu que não deveria haver mais financiamento do Estado a uma unidade militar ao serviço do Estado, e apesar dessa unidade continuar a existir e a dar dano de acordo com as DO’s colocadas pelo MoD, essa unidade não constituí qualquer encargo para o Estado.

Obviamente, que para ser auto-suficiente a unidade terá sempre um nível de dano limitado. As condições existentes presentemente só não provocarão défices se uma parte dos jogadores que trabalham nessa unidade militar, não lutar todos os dias (ou pelo menos não reclamar as armas que tem direito por ter lutado). Aumentando a frequência de combate provocaria o aumento do dano, mas também poria em causa a sustentabilidade da unidade militar.

Na minha opinião, a incapacidade de Portugal ter controlo sobre uma força militar de dimensão proporcional à dimensão da nossa comunidade tem sido um factor condicionante na relevância que Portugal tem no contexto diplomático geral.

Muitos de nós se queixam de termos sido selecionados para a 2ª divisão do nosso bloco de alianças e consideram isso injusto. Mas (na minha opinião) muito de isso está ligado à nossa incapacidade de mobilizar dano, ninguém duvida que Portugal consegue mobilizar dano para lutar no seu próprio território, já provámos isso muita vez, mas quando é para lutar noutros países, essas dúvidas existem e têm fundamento. É mais fácil e eficaz falar com os MEK na D4 ou com os LUP na D1 para arranjar dano numa batalha fundamental que pedir ao governo Português, e não duvidem que os nossos aliados sabem a diferença.

Este é o meu primeiro ponto de justificação, porque defendo a existência de umas forças armadas nacionais, ao serviço do estado e financiadas pelo Estado.

As forças armadas nacionais como base de formação de novatos

O segundo argumento para a minha posição, tem a ver com a formação de jogadores mais novos. É normal para jogadores que entram no jogo, procurarem as Forças Armadas Nacionais. É normal que quando entram no jogo, estes jogadores sejam filiados com a Nação, mais do que com outros grupos e por isso, quem procura uma carreira militar muitas vezes procura as Forças Armadas da Nação. À medida que socializa e evolui no jogo, essa filiação primária pode mudar ou porque tem incentivos financeiros mais adaptados ao seu perfil noutras MU’s ou porque se insere em grupos diferentes na comunidade.

A oportunidade de interagir com jogadores novatos nesta unidade militar é para mim uma vantagem para o Estado porque permite criar um ambiente em que os novatos são ajudados (inclusive monetariamente) sem qualquer conotação política ou de grupos de interesse. Haverá cidadãos que não valorizam isto, e eu tenho de aceitar que o recrutamento político é normal que aconteça logo que o jogador entra no jogo. No entanto, eu valorizo esta oportunidade, no fundo as forças armadas nacionais podem fazer a componente eEscolar do módulo militar.

Este comentário não quer dizer que as unidades militares portugueses estejam muito politizadas, na minha opinião, não estão. Existe alguns exemplos mas são uma minoria. Mas nada impede que tal venha a ocorrer, temos o exemplo grego no presente para nos lembrar disso, e temos o exemplo brasileiro que também teve na sua génese em grande parte a rivalidade entre a MU Trolls e CAT.

Conclusão

Este são os meus 2 argumentos básicos para justificar a existência de uma força militar nacional:

1) Conferir credibilidade a uma política externa do país

2) Ser uma base de formação de novos jogadores, num ambiente apolítico

Conforme mencionei no início do artigo, esta é a minha opinião, apenas isso, baseia-se na experiência que fui ganhando através dos anos que estou no jogo. Eu vi o formato Corpo Expedicionário, com o Euphonix, Lcfr, Baleeiro, Moutinho, e também vi esse modelo desaparecer, e com ele desaparecer a nossa soberania. Lembro-me dos problemas de um país sem exército nacional após a versão “Rising” em que os esforços militares estavam entregues a 2 unidades privadas (quando não existiam MU’s), os Pinguins e a Havoc e as limitações que esse modelo tinha para qualquer governante. Passei pela reconstrução das FAP e o seu apogeu, e vi a estrutura desmoronar-se e as razões para isso acontecer. Assisti às soluções apresentadas, que não sendo, na minha perspectiva, as ideais, eram as possíveis.

Comentário final

Durante este artigo, não falei uma única vez das FAP, falei das forças armadas nacionais que, ao longo do tempo, assumiram muitas formas e diferentes modelos. No próximo artigo (quando tiver um fim de semana com chuva e nada para fazer) falarei um pouco do historial das formas de organização das forças armadas nacionais, mas gostaria de relembrar a génese de ePortugal e a forma como o país era visto e a relevância que as forças armadas portuguesas tinham na altura.

Quando eu entrei no jogo (Dez 200😎, Portugal já não era um país do Top10 mundial, estava um pouco fora, era Top15 (mas mais perto do 10 do que do 15). Mas na altura Portugal tinha o jogador mais forte do jogo (Euphonix) e mais 2 jogadores no Top 5 (Lcfr e Moutinho). Quando este grupo de jogadores entrava na batalha (90% das vezes por aliados, não por Portugal), os nossos adversários sabiam que as coisas iam correr mal. E muitos portugueses lutavam com eles, como era o meu caso, dando um dano da treta, mas estávamos lá a mudar o curso de uma batalha.

O prestígio de Portugal no jogo ia muito além da real força das forças armadas, a figura dos grandes tanques dava uma aura de relevância a Portugal e às suas forças armadas que ia para além da sua força real. As regras eram outras e o financiamento do Euphonix dependia mais de países aliados do que de Portugal. Mas o facto de o corpo expedicionário português ter aquela força potencial, motivava a população e melhorava a nossa reputação. E o Estado português também investia nessa força expedicionária.

As várias investidas de Espanha, que na altura era uma das potências do jogo (Top 3 penso eu) era sucessivamente rebatidas, porque as regras eram diferentes e beneficiavam quem defendia, mas também porque os aliados davam muita relevância a Portugal.

É verdade que Portugal na altura era mais relevante do que é hoje, mas também existe falta de identificação das nossas forças com o Estado português. Acho que é sobre isto que versa muito do que escrevi acima, apesar de não achar que o futuro das forças armadas nacionais passem pelo financiamento dos grandes tanques.