Bye

Day 2,712, 14:45 Published in Portugal Portugal by John Bokinski

Há cerca de uma semana atrás, hibernei. Deixei uma mensagem que apesar de curta acreditava resumir bem o que pensava. Hoje visitei o jogo para ver se uma semana tinha chegado para as coisas estarem a caminhar no caminho certo, para perceber se alguma razoabilidade tinha sido atingida, mas não tinha muita esperança disso. Não tinha esperança, porque para a razoabilidade voltar, é necessário haver vontade para isso e para que houvesse vontade para isso, alguns jogadores deveriam assumir as suas responsabilidades. É mais fácil dizer “isto é um jogo e tal…” do que assumir responsabilidades.

Acabei também por ir ver os comentários ao meu sintético artigo de hibernação e existem 2 comentários que me fazem pensar que quem leu, ou não percebeu o que eu escrevi, ou não quis perceber. Admito que existam outros que não perceberam, pelo que me vou dar ao trabalho de explicar melhor (nem que seja para estar de consciência tranquila de que expliquei a minha saída).

Também tive oportunidade de ler muitos comentários sobre o que se passou, mas a generalidade dos artigos e comentários têm um objetivo específico de defender uma ideia. Acho que falta algum distanciamento na forma como os eventos se passaram e, modéstia à parte, eu sempre achei que podia contribuir alguma coisa nessa matéria. Por isso começo por ai.

Estamos em ditadura porquê ?

Vou transmitir-lhes o meu entendimento, que é apenas isso, entendimento. Eu não sei pormenores, não estive envolvido em nada e procuro analisar as coisas com base em factos. Vamos a eles:

1 – Kazuto foi eleito CP, no dia 5 de Abril, formou governo atribuindo a pasta das finanças a Rei Lusitano.

2 – Por questões associadas a recentes alterações efetuadas no jogo, recentemente o estado português optou por transferir o tesouro nacional para Orgs confiadas ao CP e a outros representantes do governo. No passado o governo só tinha acesso a estas verbas com aprovação do congresso.

3 – O governo português iniciou uma guerra com o UK. O UK apresentou resistência ao nosso ataque e o financiamento da guerra por verbas do Estado foi necessário. O CP informou que estimava que com €350k seria possível ganhar a guerra, no entanto, à medida que a guerra evoluiu socorreu-se de verbas superiores a essas e numa fase intermédia da guerra, a despesa já ia em €650k, quase o dobro do estimado.

4 – O MoF achou que não havia legitimidade para se investir tanto dinheiro numa guerra e retirou as verbas das organizações para impossibilitar o CP ou quem conduzia a guerra de investir mais dinheiro na guerra. Isso levou à perda da batalha e à irritação de muitos jogadores que tinham investido tempo e dinheiro nesta guerra. É meu entendimento que uma maioria do congresso apoiou a decisão do MoF.

5 – Um conjunto de jogadores que discordaram da ação do MoF e do congresso decidiram lançar um golpe ditatorial para assumirem o controlo do estado português. O golpe foi bem sucedido e atualmente o país é governado por um jogador que não foi eleito.

Até aqui mencionei a minha percepção dos factos. De seguida a minha opinião sobre os mesmos.

A minha visão


(esta parte já não tem nada a ver com factos)

A minha opinião é que Portugal devia estar numa fase de acumulação de recursos, neste momento Espanha está controlada pela Sérvia, nós detemos algumas regiões também. Eles irão tentar ganhar congresso recuperando uma das regiões que possuímos, é o nosso adversário mais permanente é o que devemos acompanhar com mais atenção.

Andar a fazer AS à Holanda ou a atacar UK parece-me disparatado e consumidor de recursos, mas se a maioria da comunidade quiser, não sou eu que me oponho, desde que isso não ponha em causa a nossa segurança, numa perspectiva de estratégia política e económica. Por isso, quando vejo gastarmos €350k numa invasão do UK acho um desperdício, e quando esse investimento chega aos €650k acho totalmente injustificado. Mas se o um governo eleito quiser investir esse dinheiro e o congresso aprovar, só me resta aceitar apesar de não concordar.

Mas neste caso não me parece que tenha sido assim. O CP estava a gastar mais fundos do que se tinha comprometido e estava a agir sem mandato. Eu compreendo que desistir de uma batalha que está a ser lutada de forma equilibrada é difícil de desistir, mas será que o congresso teria aprovado o ataque ao UK se lhes dissessem que só uma batalha nos ia custar mais de €650k. Nunca saberemos a resposta.

Independentemente de se concordar com as acções do CP ou do MoF (ou de nenhum, ou dos dois) a realidade é que jogadores que desempenham funções no Estado são escrutinados com base nas suas acções e futuras votações nos diriam quem seria mais penalizado ou beneficiado pelas acções que tomaram.
Mas houve um grupo de jogadores que decidiu que não era o escrutínio da comunidade que importava, era o seu próprio escrutínio e decidiram tomar o poder com base na opção que o jogo actualmente permite de tomar o poder pela força das armas.

A pouca argumentação que li sobre justificações para o “golpe” parece-me demasiado fraca para ser levada a sério. Por muito imperfeito que seja o funcionamento do nosso congresso e do nosso governo, a realidade é que mês, após mês, cada um de nós tem a liberdade de decidir quem elege, e isso não pode ser comparado com uma ditadura. Não se pode tentar convencer que uma ditadura é mais justa que um sistema democrático (mesmo que imperfeito), é uma falácia sem sentido, por muito iluminado que seja o ditador.

O argumento mais lógico utilizado, apesar de tudo, é o de que isto é um jogo, e dentro das regras eu posso fazer tudo o que me apetece. É verdade. Mas o que te apetece a ti pode ter impactos devastadores na comunidade.

As acções deste grupo de jogadores terá por certo um efeito duradoiro na capacidade que esta comunidade tem de fazer coisas em conjunto no futuro. Criou uma divisão dentro da comunidade que vai levar muito tempo a remediar. Vai ser muito difícil voltar a estabelecer relações de confiança entre os nossos jogadores, e eu sou um dos que se sente traído e não voltarei a confiar nestes jogadores.

No último artigo que escrevi mais a sério, eu procurei chamar a atenção para a forma como cada um joga o jogo. Não é por vocês apenas ligarem ao modulo político do jogo, que os outros jogadores da comunidade acham apenas isso importante, e não por vocês apenas ligarem apenas ao modulo militar do jogo, que o resto da comunidade apenas pensa em guerras. Cada um de vocês tem facetas do jogo que o motiva, mas não pode estar à espera que todos sejam motivados pela mesma coisa. Se queremos viver em comunidade devemos deixar espaço para os outros, porque senão viveremos em comunidades separadas, cada um com a sua preferência, e pode deixar de haver espaço para todos.

Esta incapacidade de compreender os outros leva-nos a deixar de compreender a realidade. Vejo um dos jogadores que patrocinar o golpe a acusar o MoF de ter dividido a comunidade. Na realidade o MoF apenas nos fez perder uma guerra, e evitou o gasto de dinheiro. Nos 6 anos e 4 meses que jogo este jogo, perder batalhas já me aconteceu às centenas e algumas que me custaram bastante, perder uma guerra com UK por um território que não é meu para mim não é relevante, apesar de aceitar que seja relevante para outros.

A divisão da comunidade já existia, vinha-se a agravar e quem fez este golpe deu uma machadada que pode ser fatal. Nos tempos em que a comunidade se renovava, a quebra de confiança era substituída por novos jogadores. Mas a comunidade já não se renova.

Passo a comentar o que escrevi anteriormente

O jogo seguiu caminhos que não me interessam

Quando entrei no jogo, foi-me prometido isto:

eRepublik is a free-to-play, web browser-based massively multiplayer online game developed by eRepublik Labs which was launched on October 21, 2008 and is accessible via the Internet. The game is set in a mirror world (called the New World) where players, referred to as citizens, join in local and national politics where they can help formulate national economic and social policies as well as initiating wars with their neighbours and/or tread the path of a private citizen working, fighting and voting for their state

Eu juntei-me ao jogo em Dezembro de 2008, conheci a comunidade de então e conheci os seus interesses, e o trabalho que fizeram para estruturar e criar uma sociedade que discutia ideias e tinha planos sociais e económicos. Mesmo para alguém que gastava 15m por dia com isto, valia a pena gastar os 15m, havia muita coisa para ver. O modulo militar também existia, mas não havia guerras todos os dias, não era economicamente sustentável para a maioria dos cidadãos e não era vantajoso para os países. Mesmo assim a comunidade portuguesa floresceu durante esse período.

Aos poucos o jogo mudou, os módulos político, económico e “social” foram deixados para trás, alterados por vezes apenas para se tornarem cada vez menos relevantes de forma a que a atenção dos jogadores se concentrasse no modulo militar. Este caminho foi trilhado não por teimosia da eRepublik Labs, foi seguido porque a larga maioria dos jogadores que financiam o jogo incidem a sua atenção no modulo militar, e é no módulo militar que foram criadas as diversas ferramentas que asseguram a monetização do jogo.

Mas ao faze-lo sem preocupação com outros aspectos do jogo, a eRepublik Labs destruiu aquilo que era distintivo no jogo. O jogo está a morrer, o seu ápice foi atingido provavelmente à 3 anos atrás e desde ai, todos os anos o jogo perde milhares de jogadores activos (já efeito líquido). Não é anormal que a necessidade de monetizar os jogos promova o desaparecimento da comunidade que jogava o jogo, pelo contrário, é quase a regra.

A criação da opção militar de criar uma ditadura é, na minha opinião, o reconhecimento por parte da erepublik Labs que o jogo está a morrer e por isso já não vale a pena pensar em criar uma experiência interessante para jogadores. Vamos criar apenas argumentos para novas guerras, desta vez fazendo o módulo político desaparecer, e em compensação criar uma fonte de guerra potencialmente lucrativa aproveitando as rivalidades que existem dentro das próprias comunidade.

Tem o defeito de espartilhar os países e alienar muitos jogadores que jogam o jogo não apenas pelo módulo militar, mas nesta fase esses jogadores já não interessam, jogadores que promoviam o aumento e a organização da comunidade já não são necessários, agora o que é preciso é fomentar a despesa dos jogadores que pagam por jogar, até que os números se tornem tão limitados que também esses jogadores deixarem de estar motivados e o jogo deixará de suportar os custos de manutenção e o hosting dos servidores e então naturalmente o jogo será desactivado.

O caminho seguido pelo jogo não é inesperado, há muito que percebia o que estava a acontecer e por isso o tempo que despendia no jogo foi diminuindo gradualmente até não ser quase nada como nos últimos meses. Hiberno depois de um longo período em que o metabolismo do meu cidadão foi cada vez funcionando mais devagar.

A comunidade portuguesa seguiu caminhos que não reflectem a minha forma de viver em sociedade

Estaria a mentir se dissesse que os factos mais recentes não influenciaram a minha decisão de sair do jogo.

Até à instauração da ditadura, apesar de gastar pouco tempo com isto, por vezes havia pequenas responsabilidades que podia assumir, alguns artigos que lia e comentava. Em momentos que achava que a minha opinião podia esclarecer a comunidade ou ajudar os jogadores a pensar, por vezes investia 30m do meu tempo a escrever o que pensava. Em democracia uma opinião tem o seu peso, porque quem decide é a comunidade e cada cidadão é livre de deixar que a opinião de outro influencie a sua própria opinião.

Em ditadura, quem decide não é a comunidade, por isso a minha opinião e a deles é irrelevante. O pouco que estava disponível para fazer no jogo desapareceu.

O segundo ponto importante é que os jogadores que forçaram a ditadura não são desconhecidos. Não são Espanhóis ou Polacos, são cidadãos portugueses, alguns deles conheço há mais de cinco anos de jogo. Não estava à espera que isto acontecesse e sinto a confiança, que depositei neles, traída.

Por isso quando alguém me pede para lutar pelo que acredito, a minha resposta é: Mas acreditar em quê ?

em batalhas para recuperar a democracia ? isso não recupera a comunidade apenas serve para cumprir os objectivos de quem foi transformando o jogo no que ele é hoje. Não há nada em que acreditar, já não existe jogo, e agora já nem existe comunidade.

Deixo-vos com um último contributo

“And so now every April, I sit on me porch, and I watch the parades pass before me.
And I see my old comrades, how proudly they march, reviving old dreams of past glories
And the old men march slowly, old bones stiff and sore. They're tired old heroes from a forgotten war
And the young people ask, what are they marching for? And I ask myself the same question.

But the band plays Waltzing Matilda, and the old men still answer the call,
But as year follows year, more old men disappear. Someday no one will march there at all.
Waltzing Matilda, Waltzing Matilda, who'll come a-waltzing Matilda with me?
And their ghosts may be heard as they march by that billabong, who'll come a-waltzing Matilda with me?”

Passem bem