A hora do espanto

Day 1,508, 16:27 Published in Brazil Brazil by Varnhagen
Meus caros amigos,

Por mais tempo que tenha jogado o eRepublik e vivenciado no dia a dia uma série de mudanças e transformações, confesso que na minha reencarnação estou mais perdido que menino em chineiro. Até o mais noobie dos noobies, prenhe de certezas como todos os iniciantes, haverá de estar mais por dentro do que eu.

Um ou outro leitor dos velhos tempos haverá de objetar, dizer que não e que, como sói acontecer nos meus artigos, exagero como pobre na praia em época de temporada. Talvez, talvez... mas a verdade é que tudo me espanta, tudo me causa comoção. Dia desses ganhei algumas armas de um velho conhecido de jogo, da época do velho Mahdi. O amigo leitor, com certeza, cairá na risada mas, como Deus é Servido, fiquei com os olhos mareados e minha vontade era sentar no meio-fio e chorar.

Não sei quem disse que tudo que é bonito dá vontade de sentar no meio-fio e chorar. E achei nesse gesto simples uma beleza, uma ternura de Madre Tereza em dia de caridade. Não me lembro se agradeci. Não, lembro sim: agradeci. Mas devia ter agradecido mais, durante dias uma cortesia gratuita dessas.

Mas, voltando ao assunto, não sei se por delírio pós-ressurreição, achei tudo diferente, tudo novo. E mesmo os velhos conhecidos eram, na minha opinião, mais novos que nota de 100. Se o Matusalém jogasse, me adiantaria e perguntaria, constrito, se precisava trocar fraldas ou que esquentasse algumas mamadeiras. E o que espanta é que o que mais me impressionou não foram as mudanças no jogo, o vai e vem das alianças, o mercado financeiro ou o mundo do trabalho. O que me impressionou foram as pessoas.

Ontem, por exemplo. Quando morri as eleições eram, via de regra, uma batalha de fazer corar Stalingrado. O sujeito que se dispunha a uma candidatura sangrava como um porco em véspera de ceia ou como um xiita na celebração da Ashura. Linchamentos morais eram corriqueiros e o sujeito era arrastado na lama, fosse um Jesus, fosse um Dalai, fosse a própria mãe ou filho caçula. Meus parcos leitores dirão que nem tanto. Mas insisto: era isso mesmo e um pouco mais. Em muitos, como dizia o velho Nelson Rodrigues, pendia do lábio a baba fina e viscosa dos homicidas. Era, não tenham duvidas os novatos, um pega pra capar dos mais aguerridos. E sequelados, todos, tinham os olhos rútilos e as mãos sedentas de vingança.

Ontem não vi isso e isso me deixou esperançoso. O eBrasil pareceu-me amadurecido, leve e solto como um avô que leva os netos ao parque e os contempla com um sorriso no rosto. Posso estar enganado, pode ser esse um fenômeno de ontem, não sei. Estava morto durante um ano e talvez esteja vendo tudo muito colorido. Mas gostaria que não. Esse é um passo de gigante na construção de um grande eBrasil. Tomara que dure.

Um abraço, ex cordis,
Varnhagen (Mahdi)